Na contramão do que prometeu ao assumir a Casa Branca, o governo de Joe Biden anunciou nesta quinta-feira (5) que deve retomar a construção de uma parte do muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, política contraditória que marcou a administração de seu antecessor e adversário, o republicano Donald Trump.
O anúncio foi feito pelo Departamento de Segurança Interna por meio de um documento que pouco detalha como será a ação. A parte do muro será construída no condado de Starr, no estado do Texas, que segundo autoridades locais assiste a um alto fluxo de migrantes.
De acordo com dados da patrulha da fronteira, 245 mil entradas de migrantes foram registradas nesta região somente nos últimos 12 meses. Ao todo, de outubro de 2022 a agosto passado, mais de 2,2 milhões de migrantes foram detidos cruzando a fronteira sul dos EUA.
No anúncio, o secretário de Segurança Interna Alejandro Mayorkas afirma que derrubou a validade de mais de 20 leis federais no Texas para permitir a obra, a fim de “garantir a construção rápida de barreiras na fronteira”. “Existe uma necessidade aguda e imediata de construir barreiras físicas na fronteira americana”, frisou.
Questionado por repórteres, o presidente americano afirmou que se viu sem opções, uma vez que já há verba pública aprovada para o muro e ela precisa ser aplicada. “Tentei fazer com que eles [o Congresso] redirecionassem esse dinheiro, mas eles não fizeram isso.”
O anúncio desta quinta vai na direção oposta ao que o democrata prometeu em sua campanha para a Presidência e uma vez que assumiu o posto. Logo nos dias iniciais de seu mandato, em janeiro de 2021, um comunicado da Casa Branca dizia que o muro não era “uma solução política séria”.
“Como todas as nações, os EUA têm o direito e o dever de proteger suas fronteiras e seu povo contra ameaças”, dizia o texto. “Mas um muro é um desperdício de dinheiro que desvia a atenção das ameaças genuínas à nossa segurança interna. Minha administração está empenhada em garantir um sistema de migração abrangente e humano.”
Biden foi questionado novamente nesta quinta se considerava o muro uma medida eficaz. Disse que não.
Depois, o secretário Alejandro Mayorkas veio a público com argumento semelhante. Ele afirmou que o governo Biden não tem nenhuma nova política de construção de muro na fronteira, mas que “o projeto de construção foi aprovado na administração anterior, em 2019, e a lei exige que o governo utilize esses fundos para este fim”.
Pouco após o anúncio, o ex-presidente Donald Trump, o mais cotado para disputar a Casa Branca pelo Partido Republicano em 2024, disse que Biden terá de “pedir desculpas” a ele e ao país “por demorar tanto para agir” na agenda migratória. “Como já afirmei muitas vezes, só existem duas coisas que funcionam de verdade: rodas e muros.”
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, também respondeu à medida, que chamou de retrocesso. AMLO, como é conhecido, reuniu-se nesta quinta com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, justamente para falar sobre migração e segurança.
“Entendo que haja fortes pressões de grupos políticos de extrema direita nos EUA”, disse o mexicano, “especialmente daqueles que querem aproveitar o fenômeno migratório e o consumo de drogas para fins eleitorais”.
De acordo com informações do New York Times, quase US$ 200 milhões dos US$ 1,375 bilhão que o Congresso designou para a construção de barreiras na fronteira do Texas ainda estavam disponíveis e precisariam ser gastos até o final deste ano fiscal, que se encerrou em 30 de setembro, para cumprir a lei.
A migração é uma das questões-chave da corrida eleitoral americana para a disputa pela Casa Branca em 2024. Republicanos criticam Biden e o acusam de inação para conter a migração irregular na fronteira sul. A retomada da construção de um trecho do muro também deverá render ao presidente críticas de sua base aliada, de defensores de direitos humanos e ambientalistas.
Biden havia prometido reverter todas as políticas de Trump na área migratória, e também foi acusado de tardar a fazê-lo —o democrata, por exemplo, só derrubou o chamado Título 42, política que expulsava migrantes da fronteira sem lhes dar direito de solicitar asilo, no país em maio deste ano, no seu terceiro ano de mandato.
(Politica Livre)