Bolsonaro reage sobre se filiar a partido do centrão: ‘Quer que eu converse com o PSOL?’

Foto: Eduardo Munhoz/Arquivo/Estadão

Com a sua filiação praticamente acertada ao PL de Valdemar da Costa Neto, o presidente Jair Bolsonaro tentou nesta terça-feira (9) rebater eventuais críticas à sua ida para um partido do centrão —grupo de partidos ao qual o mandatário pertenceu por mais de 20 anos, mas ganhou a eleição em 2018 com um discurso contrário.

“Pessoal critica: ‘Ah, o cara está conversando com o centrão’. Quer que eu converse com o PSOL, com o PC do B, que não centrão?”, questionou o presidente, em entrevista ao portal bolsonarista Jornal Cidade Online.

“Se você tirar o centrão, tem a esquerda. Para onde é que eu vou? Tem que ter um partido, se eu quiser disputar as eleições do ano que vem.”

Na entrevista, o presidente não cita o PL expressamente, mas na segunda-feira (8) disse estar 99% fechado com a legenda. O partido era aliado do ex-presidente Lula (PT). No mensalão, seu principal dirigente, Valdemar Costa Neto, foi condenado e preso.

Bolsonaro lembrou ainda que ele próprio foi filiado ao PP, outro partido do centrão com o qual vinha negociando até o momento. “Eu fui do centrão”, disse.

A filiação não está completamente acertada, mas o presidente disse a apoiadores nesta manhã que deve decidir nesta semana. Haverá uma reunião entre Valdemar e Bolsonaro na quarta-feira (10) para acertar alguns palanques regionais, segundo o próprio presidente disse a apoiadores.

Uma eventual filiação de Bolsonaro e seus apoiadores ao partido consolida ainda mais a mudança de postura do presidente, eleito com a promessa de acabar com o que chama de “velha política”, moldada no toma lá dá cá.

O “toma lá” são os vários cargos de segundo e terceiro escalão da máquina federal, postos cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência em Brasília e nos estados.

O “dá cá” é uma base de apoio mínima no Congresso para, mais do que aprovar projetos de seu interesse, evitar a abertura de um possível processo de impeachment.

O general Augusto Heleno (GSI), na campanha de 2018, cantou: “Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”. O PL e o PP ocupam as principais cadeiras no Palácio do Planalto: Casa Civil, com Ciro Nogueira, e Secretaria de Governo, com Flávia Arruda.

Nesta terça, em frente ao Palácio do Alvorada, o chefe do Executivo foi questionado sobre para qual partido iria. Bolsonaro disse que deve se decidir nesta semana, e aproveitou para já se blindar de eventuais críticas.

“Todos os partidos têm problemas. Eu não consegui fazer o meu, [por] que a burocracia cresceu muito e foi impossível ter um partido”, disse o presidente.

“Não queiram tudo, que o partido não é meu. Tem uma outra pessoa lá que fez o acordo comigo e nós temos que alinhar nossos objetivos, só isso”, afirmou, sem citar Valdemar da Costa Neto.

O presidente completa, no próximo dia 19, dois anos sem legenda, desde quando deixou o PSL, partido pelo qual se elegeu.

A expectativa de aliados é de que, com a filiação, Bolsonaro leve ao menos 20 deputados para o PL, na janela partidária, no ano que vem. Em 2018, o PSL elegeu 52 deputados.

A demora do presidente em escolher um partido foi motivo de crítica de apoiadores e aliados, que esperam a decisão para poder se filiar a uma legenda. Enquanto isso, a maioria dos palanques estaduais já estão organizados.

“Tem gente já reclamando, ‘por que que não estou vindo candidato?’, Porque não tem legenda para você, uai”, disse Bolsonaro no cercadinho.

A prioridade do presidente será lançar senadores, como ele próprio confirmou nesta manhã. Comentou ainda a possibilidade de Luciano Hang ser candidato ao Senado, como sinalizou ter interesse. Disse que ele nem precisaria sair de casa para ser eleito. (Política Livre)

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