Uma pesquisa de doutorado concluiu que os vídeos vinculados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no TikTok têm audiência 13 vezes superior aos conteúdos relacionados ao ex-presidente Lula (PT), seu principal adversário nas eleições de outubro.
Desde que entrou na rede social, ocupada predominantemente pelo público jovem, o chefe do Executivo ampliou de maneira significativa a superioridade em relação ao petista na plataforma.
O levantamento aponta que, somando as dez principais hashtags ligadas a cada um deles, os vídeos de Bolsonaro representaram 92% das visualizações contra 8% de Lula —em números totais, é o equivalente a 10,06 bilhões versus 778 milhões.
Esse resultado é relativo a janeiro. Em maio do ano passado, a proporção era de 79% contra 21% —o atual presidente criou uma conta oficial no aplicativo em outubro.
O petista, por sua vez, não tem uma conta oficial verificada pela plataforma. No último dia 22, entretanto, na tentativa de se aproximar do público jovem, ele publicou uma foto com óculos escuro e anunciou sua entrada na rede social.
“Pediram para dar uma rejuvenescida nas redes. Nova foto do perfil. TikTok e Kwai em breve”, escreveu, em referência também a outro aplicativo.
Na análise dos conteúdos ligados aos dois, há uma predominância de cores e emojis com a bandeira do Brasil quando o assunto é Bolsonaro. No caso de Lula, o ícone mais recorrente é o coração.
O levantamento é resultado da pesquisa de doutorado na Universidad Pompeu Fabra, em Barcelona, feita pela brasileira e especialista em democracia digital Maria Carolina Lopes. Ela afirma que os números representam um dado importante a ser trabalhado pelas campanhas.
“Significa que naquela plataforma, que está crescendo muito rápido, ele tem muita visibilidade. E visibilidade é um componente muito importante da comunicação política”, afirma.
Lopes diz acreditar que o chefe do Executivo encontrou uma forma de ter grande alcance nas redes, enquanto Lula ainda patina nesse sentido.
“A gente percebe que o Bolsonaro pode ter o problema que for, mas que encontrou, desde a eleição passada, um caminho, uma fórmula de comunicação que funciona no contexto de desordem informacional”, analisa.
Segundo ela, nesse universo, algumas técnicas funcionam muito bem, como fazer uma comunicação mais espontânea, sem marketing profissional nem fotos muito preparadas ou cenários elaborados para gravar o conteúdo.
“O que representa isso é um vídeo gravado de celular com o presidente em cima de uma moto”, exemplifica.
Ela relata que vem analisando dados sobre o desempenho dos dois políticos há quase um ano e que a diferença tem se ampliado a cada dia.
“Quando você entra na plataforma, você está entregando à sua militância instrumentos para ela te ajudar a fazer a sua comunicação. Não é entregar milhões de reais para um marqueteiro, é outra coisa”, diz.
Integrantes da cúpula do partido afirmam que, em comparação ao bolsonarismo, o comando da pré-campanha petista é analógico e tem ficado para trás na comparação com o presidente.
A promessa de Lula de entrar no TikTok no último dia 22 foi vista como um dos sinais de que o petista quer mudar de estratégia nas redes sociais.
Para se ter ideia do alcance da plataforma, em 2020 ela ultrapassou o Facebook como a mais baixada do ano, em parte consequência da pandemia, quando as pessoas passaram a buscar novas formas de distração.
Estima-se que a rede possua 1 bilhão de usuários ativos mensais, o que a coloca no time das grandes ferramentas.
O aplicativo surgiu em 2016, sob o nome de Douyin, e foi criado para publicação de vídeos curtos a fim de competir com o Musical.ly.
Em 2017, a big tech chinesa ByteDance fez um “rebranding” internacional e disponibilizou o Douyin para mercados fora da China, com o nome de TikTok. No mesmo ano, comprou o Musical.ly e abocanhou o público e a tecnologia do rival.
Em 2018, a estratégia surtiu seus primeiros efeitos, com um buzz em mercados como EUA, Europa e Brasil.