A pedido do Brasil, a doença de Chagas será estudada no cenário internacional por uma organização sem fins lucrativos (Unitaid), parceira da Organização Mundial da Saúde (OMS), na busca por soluções inovadoras no diagnóstico e tratamento de doenças. Característica de países de clima tropical (quente e úmido), a doença de Chagas está presente em 21 países da América Latina, incluindo o Brasil e atinge cerca de 7 milhões de pessoas em todo o mundo. Em média, são 4.500 vítimas fatais a cada ano no Brasil. O Ministério da Saúde alerta sobre a importância de investimentos em pesquisa para buscar formas de prevenção e cuidado das pessoas que possuem a doença.
Nessa segunda-feira (25), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e os diretores da Unitaid, Lélio Marmora e Maurício Cysne, anunciaram o lançamento do edital para financiar pesquisas em doença de Chagas. As propostas devem ser enviadas até dia 27 de fevereiro no valor de US$ 20 milhões, durante quatro anos e poderão participar pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Um comitê ajudará a escolher as melhores propostas a serem financiadas por meio de processo seletivo. A iniciativa é considerada pioneira por destinar recursos específicos para o estudo da doença, ou seja, é o maior investimento sobre Chagas realizado em uma ação Internacional.
A ideia é aprimorar as ferramentas de diagnóstico e tratamento da doença, com foco na redução da transmissão materno-fetal. Atualmente, a transmissão de mãe para filho é uma das principais vias de infecção da doença, considerando que pelo menos dois milhões de mulheres em idade fértil, em todo o mundo, estariam infectadas pelo Trypanosoma cruzi – parasita responsável pela transmissão da doença de Chagas.
“A doença de Chagas foi historicamente negligenciada, inclusive por nós, países de clima tropical onde a incidência é maior, com investimentos insuficientes em pesquisa e inovação na busca por melhores diagnósticos e tratamentos. A doença ainda é muito presente aqui e nós temos que achar soluções para ela. Por isso, a importância da Unitaid, com a participação do Brasil, em convocar um esforço global, com pesquisadores de todo o mundo, para combater a doença”, destacou o ministro da Saúde.
O diretor-executivo da Unitaid, Lelio Marmora, lembrou que apesar da maior incidência nos países da América Latina, a doença tem se espalhado para comunidades mais pobres em outras regiões do mundo. “Atacar este assassino silencioso por meio de diagnósticos precoces e tratamentos aprimorados não só mudará a vida das mulheres em idade fértil, curando-as da doença de Chagas, mas também protegerá o futuro de milhões de recém-nascidos, impedindo a transmissão de mãe para filho”, disse Marmora.
UNITAID
O Brasil é um dos fundadores da Unitaid, juntamente com o Chile, França, Noruega e Reino Unido. A Unitaid visa tornar a resposta global mais eficaz, identificando formas de prevenir, tratar e diagnosticar o HIV/AIDS (+ co-infecções), a tuberculose e a malária de forma mais acessível, eficiente e rápida. O trabalho da Unitaid contribui para proporcionar acesso a serviços de saúde às populações e países que mais os necessitam. E, agora, pela primeira vez, está expandido sua área de atuação para a doença de Chagas, a pedido do Brasil.
Também participam da instituição a Espanha, Coreia do Sul e a Fundação Bill & Melinda Gates. A Unitaid também auxilia os países a transformarem as inovações tecnológicas em políticas públicas para que possam ser implementadas nos serviços de saúde.
DOENÇA DE CHAGAS
A doença de Chagas é uma doença infecciosa febril causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, cujos vetores são os triatomíneos, insetos popularmente conhecidos como barbeiros ou bicudos. A doença se apresenta clinicamente em duas fases distintas (aguda e crônica). É endêmica em 21 países das Américas, afeta aproximadamente 6 milhões de pessoas, com incidência anual de 30 mil casos novos na região, ocasionando em média, 14.000 mortes por ano e 8.000 recém-nascidos infectados durante a gestação. A estimativa é de que cerca de 70 milhões de pessoas vivam em áreas de exposição e corram risco de contrair a doença.
No Brasil, a estimativa é de que pelo menos um milhão de pessoas tenha sido infectada, em algum momento da vida, pelo protozoário T. cruzi. Em 10 anos (2008 a 2017), foram registrados 46.568 óbitos tendo como causa básica a doença, sendo 4.543 destes só em 2017.
Com informações da Agência Saúde