A família do cabeleireiro Rauan Pereira, que foi brutalmente agredido e atacado com golpes de faca e pedras em outubro do ano passado, no bairro de Vila Ruy Barbosa, em Salvador, está em busca de arrecadações para custear as despesas dele com tratamento médico.
Rauan teve todos os ossos do rosto quebrados e pulmões perfurados por causa da agressão que sofreu em 20 de outubro de 2020. No dia 17 de novembro, após ficar em estado grave, ele já estava consciente e passou a respirar sozinho. Ainda no mês de novembro, Rauan recebeu alta médica, pouco mais de um mês após o crime.
Apesar das agressões sofridas, Rauan contou em entrevista a equipe da TV Bahia, que perdoou os homens que praticaram o crime.
“Eu perdoo essas pessoas. Eu não desejo o mal, eu desejo realmente que tentem mudar, porque a gente está vivendo um momento de evolução”, relatou o cabeleireiro.
Além das agressões, Rauan teve os objetos de casa roubados e ainda não tem condições de voltar ao trabalho. Ele faz tratamentos de reabilitação com hidroginástica, fisioterapia e acompanhamento psicológico e também toma cerca de oito remédios por dia. Entre eles, medicamentos para evitar crises convulsivas e problemas psicológicos devido ao trauma que passou.
“Tem dias que eu fico muito emotivo e começo a chorar do nada”, comentou Rauan.
Diante de tantos tratamentos e com a interrupção do trabalho, Rauan precisa da ajuda da família e amigos, que decidiram criar uma vakinha online. A campanha tem como objetivo arrecadar dinheiro para que Rauan consiga recomeçar a vida.
A irmã de Rauan, Naiara Pereira, disse que ele não está com a mesma habilidade física e desconfia que tenha ficado alguma sequela psicológica por causa das agressões.
“Ele está se recuperando. Mas a família e amigos mais próximos percebem que ele ficou com alguma sequela mental. A coordenação motora não é mais a mesma e ele ainda distorce as coisas, as cores, os momentos. Confunde as pessoas. Muita coisa ele não se recorda”, afirmou Naiara.
Ajuda de amigo
Atualmente, o cabeleireiro está em recuperação na casa do amigo Alisson Teixeira, de 26 anos. O estudante, em Salvador, na região próxima ao Hospital Sarah, onde Rauan faz o tratamento de reabilitação.
“No momento estou sem trabalhar formalmente, então me disponibilizei a dar esse suporte necessário a Rauan, por residir no bairro próximo ao hospital que ele continua em tratamento. Rauan é um menino muito cativante e verdadeiro. Minha família sempre estará de braços abertos para oferecer a ele o suporte necessário, no que pudermos ajudar”, relatou o amigo em entrevista ao G1.
Em relação à rotina, Alisson falou que não houve muita mudança, mas que agora fica mais atento ao amigo para poder ajudá-lo quando necessário.
“Não houve muita mudança na rotina, fico mais atento para orientá-lo nos horários que ele precisa tomar as medicações, se alimentar, [entre outras coisas]. Algumas atividades ele já consegue desenvolver sozinho”, finalizou o amigo.
Apesar de estar morando de favor na casa do amigo, Rauan encontra a irmã, Naiara Pereira, toda semana.
“No momento ele fica um tempo aqui em casa e também na casa de um amigo dele, porque lá tem piscina e aqui em casa não temos. O tratamento dele é a base da piscina, porque ele tem que fazer hidroginástica. Como aqui não tem, ele passa a maioria do tempo lá”, relatou a irmã.
Segundo Naiara, a rotina mudou bastante desde o ocorrido. “A rotina da família mudou completamente, porque agora eu tenho que acompanhar ele para qualquer tipo de lugar que ele for, pois não pode sair sozinho”, afirmou.
À época da internação, Naiara contou que os médicos informaram que ele poderia ficar sem andar por causa das pancadas que ocorreram na cabeça. Hoje ele se recupera bem, mas ainda está impossibilitado de voltar a atuar profissionalmente.
Relembre o caso
Rauan foi agredido com facadas e pedradas na madrugada do dia 20 de outubro, dentro da casa onde mora, no bairro Vila Ruy Barbosa.
Os suspeitos, na época, alegaram que agrediram Rauan porque ele não teria pagado o dinheiro de um programa, feito pelos dois. Essa versão, entretanto não consta no inquérito do caso.
Os vizinhos de Rauan contaram que ouviram muitos gritos durante o ocorrido. Segundo a vizinhança, não foi a primeira vez que os dois suspeitos estiveram no local. A família de Rauan, no entanto, não acredita na versão dada pelos suspeitos e sustenta que o crime foi cometido por homofobia.
Antes de se tornar cabeleireiro, Rauan já foi modelo fotográfico, posou em revistas e participou de comerciais.
A família disse que ele sempre teve talento pra cuidar de cabelo, maquiagem, trabalhou em salão de beleza, mas ficou desempregado durante a pandemia da Covid-19 e estava decidido a ir morar em Portugal. (G1)