Campanhas tentam conscientizar foliões no carnaval em temas além da festa

Foto: Reprodução/Instagram @naoenao_

Governos estaduais e municipais de todo o Brasil têm aproveitado o período pré-carnaval para lançar campanhas de conscientização para o feriado. Assédio e saúde são alguns dos principais temas abordados pelas ações.

Enquanto o governo federal, encabeçado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, se prepara para lançar uma campanha em  defesa da abstinência sexual como maneira de prevenção de doenças e gravidez precoce, a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió aproveita as prévias do carnaval para conscientizar sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

A prefeitura da capital alagoana vai se juntar com o Bloco do Prazer, tradicional do carnaval da cidade, para dar visibilidade ao tema, principalmente durante o desfile, no dia 14 de fevereiro. Além disso, camisetas do bloco serão distribuídas para quem doar latas de leite Nestogeno 1, usadas para alimentar crianças filhas de mães soropositivas, evitando assim a contaminação vertical.

Na Paraíba, a Rede Estadual de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica e Sexual (Reamcav), junto com o governo do estado, lança esta semana a campanha “meu corpo não é sua folia”, contra a importunação sexual e pelo respeito à mulher. A ação tem também o apoio de uma série de hotéis e de blocos de rua.

Ainda neste tema, a prefeitura de Imperatriz, no Maranhão, também realiza campanhas para combater a violência contra a mulher no carnaval . Com o objetivo de informar sobre os serviços ofertados pela Secretaria da Mulher e pela Rede de Enfrentamento à violência doméstica, são distribuídos informativos em pontos estratégicos da cidade, como hotéis, comércio, farmácias, aeroporto e rodoviária. São realizadas ainda blitz educativas.

O assunto foi também o escolhido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara de Salvador . A campanha “meu corpo não é sua fantasia” faz um trabalho de conscientização para evitar o assédio na folia baiana. Desde 2019 a ação conta com apoio de personalidades e se utiliza nas redes sociais das hashtags “#eicomigonão” e “#issoéassédio”.

A Prefeitura de Teresina lançou a campanha “Marcas da Alegria” também para combater a violência contra a mulher. A campanha foi idealizada pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres e consiste na distribuição de material educativo para a sensibilização dos cidadãos.

As redes sociais como aliadas

Além das iniciativas institucionais, campanhas espontâneas ou criadas por grupos organizados também ganham espaço nas redes sociais . Recentemente, no Twitter, pessoas começaram a usar a #CarnavalSemGordofobia, por meio da qual compartilharam histórias de preconceito contra pessoas gordas em carnavais passados. 

https://www.instagram.com/p/B7hjP3kp8Dt/?utm_source=ig_embed

A hashtag e o perfil no Instagram, de mesmo nome, são ações pensadas pelas amigas Gabriella Morais, atriz e estudante de pedagogia, de 22 anos, e Luana Carvalho, modelo e ativista, de 20 anos. Em uma conversa, as duas, que passarão o feriado no Rio de Janeiro, compartilharam histórias de preconceito, agressões e inseguranças em relação a este período.  “Vimos que existe uma demanda dentro da comunidade gorda referente a carnaval”, afirma Gabriella sobre a iniciativa de criar a campanha. 

“A campanha vem pra desconstruir e alertar as pessoas de que o carnaval não é tão livre assim. Ainda que seja uma festa e uma época em que as pessoas têm mais liberdade, para pessoas gordas não funciona dessa maneira”, explica Luana. Gabriella informa que o objetivo da ação é atingir o maior número de pessoas possível. “Por isso criamos o perfil no Instagram, para além de uma conscientização sobre o que é gordofobia e como ela se desenvolve nos espaços, a campanha também tem o objetivo de reunir pessoas gordas para ocupar blocos no Rio de Janeiro”.

O perfil no Instagram criado pelas amigas atingiu mais de dois mil seguidores em menos de uma semana. Elas relatam que têm recebido uma recepção muito positiva.

https://www.instagram.com/p/B7mKxT_gSce/?utm_source=ig_embed

Em uma iniciativa similar, Laís Ezawa, estudante de design de 23 anos, se baseou em sua própria vivência para questionar o uso de “fantasias” asiáticas. Ela fez ilustrações nas quais explica porque se vestir de japonês, gueixa ou chinês, por exemplo, é ofensivo para as pessoas destas etnias e publicou em seu perfil no Instagram. 

Os desenhos de Laís logo viralizaram e foram repostados inúmeras vezes nos stories da rede social. Nos comentários do post original também há uma grande repercussão e discussão sobre o tema. “Preconceito com amarelos é algo ainda bem pouco falado no Brasil — e gente, aqui teve muita imigração asiática! Por isso, eu acho que essa repercussão vai gerar bastante conversa, discussão e, espero, mudanças e mais reflexão sobre o assunto”, disse.

Além das redes sociais, grupos de cidadãos também se organizam para que o carnaval seja mais igualitário em iniciativas off-line . É o caso da cada vez mais famosa campanha “Não é Não”. Há quatro anos um coletivo de mulheres distribui tatuagens temporárias com os dizeres em blocos de rua, com o objetivo de promover o respeito às mulheres e o combate ao assédio sexual . 

A ação vem crescendo e atualmente, além das tatuagens, as mulheres responsáveis pela iniciativa fazem palestras e rodas de conversa sobre o tema. Em 2017 a campanha acontecia no Rio de Janeiro, mas este ano, com a ajuda de financiamento coletivo, ela já chegou a 15 estados brasileiros.

Em São Paulo, a sociedade civil busca se organizar junto à prefeitura para combater a violência de gênero. Mulheres que representam 50 blocos de carnaval da cidade  se uniram para enviar sugestões de medidas para este combate.

O grupo formado por mais de 70 mulheres busca criar ações de prevenção contra agressões. Entre as ideias, está a criação de um jingle e um guia informativos. (IG)

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