A candidatura de João Roma ao governo da Bahia ajuda, em larga escala, a tentativa do PT de se manter no comando do Executivo estadual. É contraditório que uma virtual candidatura bolsonarista tenha esse papel, porém não seria estranho avaliar que o palanque de Roma traga mais benefícios a Jaques Wagner na corrida pelo Palácio de Ondina do que ao esforço de reeleição de Jair Bolsonaro ao Planalto. Tanto que muitos aliados petistas torcem para que o ministro da Cidadania mantenha a empolgação até a campanha de 2022.
O presidente Jair Bolsonaro não possui representação forte na Bahia. Isso é observável a partir do resultado das urnas em 2018 e até em 2020, quando a chancela dele nas corridas dos municípios não representou trunfo. O bolsonarismo tem cristalizado um eleitor de extrema direita e conservador, somado ao antipetismo exacerbado e dificilmente vai expandir suas fronteiras para além disso. E não adianta um palanque só para constar – ainda mais um palanque cuja musculatura política é questionável desde o nascimento, como é o caso de Roma. Ter esse espaço é importante, porém escolher uma figura como ex-chefe de gabinete de ACM Neto só traz benefícios ao adversário do grupo político do ex-prefeito.
O entorno de Wagner tem se esforçado para colar a imagem de ACM Neto à de Bolsonaro. Porém a estratégia utilizada pelo ex-prefeito tem funcionado bem até aqui. O democrata usa uma distância regulamentar do governo, ainda que membros do partido sigam como ferrenhos defensores. É um pouco de marketing político? Sim. Mas tem evitado que ele caia no colo do bolsonarismo. A alternativa, então, é associar o ex-prefeito de maneira colateral, ponto em que Roma cai como uma luva. Porém não é apenas assim que o ministro ajuda o petismo na Bahia.
A conta é muito similar à adotada em 2020 em Salvador, quando havia uma torcida secreta para que Cezar Leite “roubasse” votos de Bruno Reis na corrida pela prefeitura. Era uma aposta para forçar um segundo turno, algo que sempre se desenhou como improvável. A coelha da cartola do governador Rui Costa, Major Denice, não decolou e Cezar Leite foi a prova de que o bolsonarismo não chega a arranhar o domínio de ACM Neto sobre a direita moderada na Bahia – com apoios que se estendem até mesmo a partidos que classicamente estariam na centro-esquerda (é um pouco forçado, mas os partidos é que fazem malabarismos, não o colunista). Porém Roma está a quilômetros de ser parte da direita raivosa que foi bem representada nas urnas soteropolitanas ano passado.
Como os atuais cenários apontam certo grau de favoritismo para ACM Neto, que mantém o discurso de evitar o salto alto, qualquer nome que possa angariar votos que teriam como destino certo o ex-prefeito da capital é interessante para o grupo político de Wagner. Por isso, não é estranho ver um nível de estímulo às escondidas para que Roma seja candidato ao governo da Bahia. Com direito a falas que possam servir de injeção de ânimo para fortalecer a ideia de que o ministro é um nome forte para estar na disputa – em um mix de canto da sereia com mosca azul do poder.
O nome de Roma enquanto bolsonarista beneficia muito Wagner. Tanto que, ainda que não apostem tanto na competitividade do ministro, o entorno de ACM Neto mantém a desconstrução dessa candidatura. E a engenharia para isso nem chega a ser complexa. Resta saber quando todos os envolvidos vão se dar conta disso. Ao final do processo, a conta dos votos na ponta do lápis é o que vai definir os rumos dessas campanhas na Bahia.
por Fernando Duarte / Bahia Notícias