Em julho do ano passado, a cantora baiana Aila Menezes postou um trecho de um de seus shows no TikTok. As imagens rapidamente viralizaram e hoje já somam quase 9 milhões de visualizações. No entanto, o que era para ser sucesso transformou-se em pesadelo.
Não bastassem os ataques gordofóbicos e racistas recebidos nos comentários, alguns políticos e partidos de extrema direita pegaram as imagens e subverteram-as em propagandas políticas. A cantora de pagode processou 8 desses agressores e o resultado da primeira ação foi divulgado nesta semana: vitória de Aila.
Um ex-candidato nas eleições de 2020, cujo nome não pôde ser revelado pois o processo corre em segredo de Justiça, terá que pagar uma indenização, além de gravar um vídeo de retratação.
Na ação, Aila o acusava de diversos crimes como racismo, machismo, gordofobia, intolerância religiosa, difamação, ameaça e uso indevido de imagem. O juiz deu ganho de causa em todas as acusações. Já o condenado admitiu que adulterou as imagens para obter ganho político em cima delas.
“Quando os meus advogados, Ives Bittencourt e Janaína Abreu, me ligaram para avisar que eu ganhei, explodi de felicidade. Estava vivendo há um ano calada, em depressão, sem acreditar na Justiça. Foi um processo muito emocionante, e, felizmente, o direito humano venceu”, comemora a baiana, que mora em Salvador.
No vídeo original postado, a cantora aparece dançando a música “Abaixa que é tiro”, de Jojo Toddynho. O fato dela usar roupas curtas na apresentação, deixando as nádegas expostas, foi usado pelos agressores para atacá-la.
Em um banner atrás do palco aparece a logomarca do governo estadual – praxe em apresentações ocorridas no Pelourinho, como era o caso. Para a montagem, o político incluiu o nome dele no canto superior esquerdo e legendou: “Governo da Bahia, aqui se investe em cultura”, colocando em negrito as duas primeiras letras de “cultura”.
‘Minha vida virou um inferno’
Logo as montagens começaram a viralizar nas redes sociais e em grupos de zap. Somando os canais contabilizáveis, como Facebook, Twitter, Instagram e YouTube, o vídeo fake foi visto por mais de 20 milhões de pessoas, de acordo com cálculo da defesa de Aila.
Nas redes sociais de Aila, mais ataques. No Instagram, onde ela acumula 160 mil seguidores, diversas mensagens de ódio chegaram a ela com tons racistas, sexistas e gordofóbicos.
Outros foram além. Quando a cantora revelou que estava com depressão, valeram-se deste fato para pedir que ela se matasse, pois assim estaria fazendo um bem ao mundo.
“Eles tentaram destruir minha carreira. Entregaram abaixo assinado para que o Governo do Estado não me apoiasse mais. Recebi ameaça de morte, de estupro, tentaram tirar minhas páginas do ar, destruíram minha saúde mental e minha carreira. Perdi contratos, atrapalhou demais. Eu fui ofendida em toda a forma em minha existência enquanto mulher, preta, nordestina, LGBTQI+ e gorda”, lembra.
“Eu sou uma mulher digna, honesta, o que visto não me define. As roupas que uso são para causar reflexões sociais. Não só as roupas, mas todo o meu show, que sempre traz temas como racismo, transfobia, desigualdade de classes, feminismo. Essa decisão da Justiça mostrou que eu tenho direito de ser quem sou. Eu morri por dentro, mas renasci”, brada a cantora.
A vitória no processo deu uma injeção de ânimo para Aila seguir defendendo suas pautas não só na carreira artística, mas na vida – apesar de todas as dores e cicatrizes provocadas por milícias virtuais.
“Eu sou do amor. Mas se precisar ir para a guerra, me transformo em Joana D’Arc. Essa vitória serviu para mostrar que diferente do que pensam, a internet não é terra de ninguém. Um processo eu já venci, faltam 7”, diz Aila. (Fonte: Correio 24h)