É pouco provável que você não conheça pelo menos alguém do seu ciclo social que tenha sido contaminado com a Covid-19 neste início de ano. Com o surto da ômicron, variante mais transmissível do vírus, os casos ativos da doença na Bahia cresceram 1.210% em 25 dias, ultrapassando 23 mil registros confirmados.
A situação tem impactado diretamente várias atividades econômicas. Sem os seus funcionários, afastados enquanto se recuperam da Covid, empresas têm operado capengas, ou mesmo fechado as suas portas temporariamente. No estado, ao menos 60 agências bancárias tiveram que encerrar suas atividades provisoriamente. Um dos bancos afetados, o Bradesco, explica em nota que, em caso de confirmação de funcionário com coronavírus, a opção é pelo fechamento temporário da unidade para a sanitização do prédio. “Trata-se de medida preventiva que tem o objetivo de evitar o risco de propagação da doença”.
Cliente do banco, o estudante de produção cultural João Gabriel Mota, de 21 anos, reclama da medida. “Na quarta–feira, eu fui em Itapuã, no Bradesco da Dorival Caymmi, e estava fechado. Daí, fui na unidade da Praça da Sé, que também estava fechada. Perdi tempo e fiquei sem dinheiro, porque não tinha um [banco] 24 horas perto. Aí tive que usar o que eu tinha para pegar um ônibus”, conta.
De maneira oposta aos bancos, outras corporações têm se reinventado para continuar funcionando mesmo com o desfalque no quadro de funcionários. Essa falta, porém, tem sobrecarregado os que conseguiram, até então, passar ilesos ao surto.
“Quando eu cheguei aqui, foi quase uma festa”, contou, entre risadas, Pedro Chaves, funcionário de uma construtora civil em Salvador.
Na semana em que ficou afastado, as suas atribuições foram passadas para outro funcionário. Algumas chegaram até mesmo a ser adiadas, perturbando a ordem usual do trabalho no local. “Na segunda-feira, por exemplo, teve concretagem, que é uma das minhas responsabilidades, e, como eu estava fora, foi uma confusão. Fica uma brecha”, menciona.
Na mesma repartição que ele, Chaves tem conhecimento de pelo menos outras duas pessoas afastadas se recuperando da ômicron. “Não sei onde eu peguei, se foi na obra ou se trouxe de casa. Mas outro estagiário também pegou e o engenheiro também está fora”, diz.
A explosão de casos tem impactado da mesma forma as companhias aéreas. A Latam Brasil cancelou 815 voos que estavam previstos para acontecer entre 9 a 31 de janeiro. A quantidade representa cerca de 4% dos voos domésticos e internacionais do mês. Apenas na segunda-feira, 25 viagens foram canceladas “em função do recente aumento de casos de Covid-19 e de Influenza”, diz a nota da empresa.
Já a Gol não precisou suprimir nenhum voo, apesar da falta de funcionários. “Houve nos últimos dias um aumento dos casos positivos entre colaboradores, mas nenhum voo foi cancelado ou sofreu alteração significativa por este motivo. Os funcionários que apresentam resultado positivo estão sendo afastados das funções para se recuperarem em casa com segurança”, diz o comunicado.
Procurada, a Azul informou que não disponibiliza este tipo de informação. Em um momento onde os casos estão subindo, as unidades de saúde precisam atuar com ainda mais intensidade. Mas os profissionais da área não são imunes aos efeitos. Pelo contrário, mais expostos, acabam tendo ainda mais contato com a doença.
Por esse motivo, a soma de médicos afastados com o aumento da procura por atendimento tem resultado em enormes filas diárias em frente a gripários e outras unidades destinadas à enfermidade. Em Salvador, a demora chega a ultrapassar quatro horas em alguns lugares e muitos pacientes se veem obrigados a desistir do atendimento.
O Hospital Aristides Maltez (HAM), em Brotas, precisou afastrar 176 funcionários, o que corresponde a mais de 10% da equipe. A unidade suspendeu os atendimentos da triagem, nos ambulatórios gerais e as cirurgias eletivas. “Houve um crescimento, como em todo lugar, com a gente não foi diferente. É um impacto considerável. Saúde é gente cuidando de gente”, avalia Washington Couto, diretor administrativo do HAM.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, entre os dias 1º de janeiro e 23 do mesmo mês, 2.468 profissionais de saúde de unidades públicas e privadas foram diagnosticados com a Covid-19 e tiveram, portanto, que ser afastados do trabalho.
Destes, 1.536 tiveram o resultado positivo para a doença nos últimos seis dias, ou seja, mais de 62% dos registros.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Salvador, que conta com 11.358 trabalhadores, informou que “não dispõe de sistema de informação que responda o quantitativo de colaboradores afastados por Covid-19”. O comunicado, por outro lado, reforça a sobrecarga do SUS no município. “Em quase dois anos de pandemia é perceptível o cansaço físico e mental da equipe diante da sobrecarga no sistema público de saúde”.
Fonte: Metro 1