Restaurantes e shoppings fechados, todos em casa, e mais animais na rua. Os efeitos da pandemia causada pelo novo coronavírus atingiu também os animais, que têm sido abandonados nas ruas de Salvador. Desde que a pandemia começou, o crescimento dos casos de abandono na capital ultrapassou 800%.
Os dados são da Brigada K9, vinculada ao Corpo de Bombeiros Voluntários de Salvador, que já realizava resgates de animais abandonados, apreendidos em situação de maus tratos, ou presos em locais de difícil acesso. “Antes fazíamos uma ocorrência de resgate por dia, agora tem dias que atendemos sete, oito chamados”, comenta o Comandante Emerson França, que está à frente dos trabalhos. Segundo estimativa da brigada, desde que começaram as medidas de isolamento, o abandono de animais em Salvador cresceu 860%.
No esforço de enfrentar as consequências do abandono e ajudar os animais, diversas iniciativas foram tomadas. Além do trabalho da brigada, outro projeto que nasceu em meio a quarentena foi a central de dúvidas montada pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Com o apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), a ideia é tirar todas as dúvidas que tenham relação com animais e a própria pandemia. É que, segundo os especialistas, o próprio vírus é o responsável pelo crescimento no número de pets abandonados.
“São principalmente dois motivos: o econômico, de quem tá passando dificuldades mesmo para se manter, e no desespero abandona o animal, e tem um medo, um pânico de que o pet possa transmitir a doença”, analisa o professor Rodrigo Bittencourt coordenador dos programas de residência em medicina veterinária da Ufba, e que coordena também o novo projeto.
A principal dúvida, e que pode estar dando causa ao abandono, já pode ser esclarecida antecipadamente: não há qualquer evidência científica de que os animais possam transmitir coronavírus a humanos. “O máximo que pode acontecer é o animal servir como uma superfície contaminada, da mesma forma que uma tocar numa mesa ou maçaneta que alguém contaminado espirrou em cima, então é só tomar cuidados na hora do passeio, e higienizar as patas do animal ao voltar”, explica.
Não há porque ter medo, por exemplo, de sair para uma caminhada com seu cachorro. É só seguir os cuidados, fazer passeios curtos e evitar que o cachorro deite na rua, role na grama, pra que o contato seja menor com possíveis superfícies contaminadas”, completa o médico veterinário José Eduardo Ungar, presidente da comissão de saúde pública do CMRV, que apoia a iniciativa da central de dúvidas
Saúde pública
Para o profissional, além dos riscos ao próprio animal, o abandono representa, também uma questão de saúde pública, “Um cão desacostumado com a rua está muito mais sujeito a ser atropelado, ou a se envolver em outros acidentes, além do que o animais abandonados geram uma preocupação com zoonoses, a ocorrência de outras doenças”, explica Ungar.
O abandono preocupa ainda mais já que o isolamento social dificulta a sobrevivência dos animais que vivem em situação de rua. “Com as pessoas em casa, restaurantes e estabelecimentos fechados, os animais não podem contar com quem geralmente colocava comida, água, na porta das lojas pra eles”, comenta a médica veterinária residente Stephanie Luyse, uma das profissionais que atende as chamadas da população.
Para quem recebe os animais, a situação assusta. “Tem animais de raça, Golden, Shihtzus, que temos resgatados, a maioria dos abrigos tão lotados e com a crise as doações caíram muito. Estamos tendo que fazer um esforço enorme para manter o abrigo”, conta Gabriela Lobo, membro do Abrigo Animal Aumigo, que já estava lotado mesmo antes da quarentena e abriga 250 animais.(Correios)
Central Tira Dúvidas – Animais e Coronavírus
3283-6736 – Segunda a sexta das 8 as 16h