Em um episódio recente do podcast Ask NT Wright Anything, o renomado teólogo britânico NT Wright afirmou que o suicídio não deve ser tratado como um “pecado imperdoável” e que Deus continua presente mesmo nos momentos mais sombrios da vida humana. A declaração surgiu em resposta a perguntas enviadas por um ouvinte, professor de educação religiosa, que relatou ter sido questionado por uma aluna de 12 anos sobre o destino eterno de um cristão que comete suicídio.

A conversa, conduzida pelo apresentador Justin Brierley, abordou temas profundos sobre fé, sofrimento e a natureza do amor divino.

“Culpar a vítima é cruel”

NT Wright, ex-bispo de Durham na Igreja da Inglaterra e uma das maiores autoridades em Novo Testamento, classificou as perguntas como “trágicas e difíceis”. Ele compartilhou que o suicídio já afetou sua própria família, relembrando o impacto devastador que essa realidade pode ter sobre os entes queridos.

Sobre a ideia de que o suicídio seria um pecado imperdoável que exclui alguém da salvação, Wright foi enfático:

“Virar-se e dizer: ‘Ah, isso foi muito perverso. Deus jamais perdoaria você por fazer isso’, é simplesmente culpar a vítima. E isso é algo cruel, que não devemos fazer.”

Ele destacou que, embora existam comportamentos autodestrutivos levianos, a maioria dos suicídios é consequência de sofrimento profundo, depressão e sentimento de fracasso — condições que precisam ser compreendidas como parte de um quadro de dor humana.

Deus também está no vale mais escuro

O teólogo recorreu a passagens bíblicas como o Salmo 139, que diz: “Se eu descer ao Inferno, lá também estás”, para reforçar a ideia de que Deus não abandona ninguém, mesmo nos momentos de desespero extremo. Ele afirmou que Jesus, em sua descida ao Hades, alcançou inclusive os que se encontram no limite da dor emocional.

“Vejo os braços de Jesus envolvendo essa pessoa com amor, consolo e ternura. Se ela pertence a Ele, mesmo que confusamente, Jesus a receberá, cuidará dela e a ressuscitará quando todas as lágrimas forem enxugadas.”

A visão cristã da eternidade: nova criação

Wright também aproveitou a ocasião para corrigir o conceito comum de que a alma “vai para o céu” após a morte. Segundo ele, a verdadeira promessa cristã é a ressurreição para uma nova criação, nos novos céus e nova terra — e não apenas um estado desencarnado no céu.

“A pergunta certa é: essa pessoa estará na presença amorosa de Jesus, no poder do Espírito Santo, até o momento em que Deus fizer novos céus e nova terra?”

Esperança mesmo na dor

Por fim, Wright comparou a dor enfrentada por pessoas em sofrimento extremo à própria agonia de Jesus na cruz.

“Jesus na cruz e em Sua descida ao Inferno chegou ao ponto onde o suicídio termina, para se apegar àqueles que ali chegaram.”

Ele concluiu afirmando que não cabe aos vivos fazer julgamentos definitivos sobre a salvação, mas sim oferecer compaixão, consolo e apoio.

“Quando formos ressuscitados dos mortos para a nova criação, descobriremos que essas pessoas estarão conosco… no lugar onde não há mais lágrimas.”

Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento emocional, procure ajuda. No Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional gratuito e sigiloso, 24 horas por dia, pelo número 188 ou pelo site cvv.org.br.