Cruz das Almas e outras cidades adiam quadrilhas juninas para 2021 projetos cancelados por Covid

Foto: Caio Vinicius

Estilizadas ou tradicionais, as quadrilhas não irão desfilar nos principais circuitos juninos deste ano. Em razão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) as cidades que sediam os festejos de São João, São Pedro e Santo Antônio tiveram suas comemorações suspensas por determinação do governo estadual. Algumas delas resolveram cancelar muito antes e se adiantaram em relação à decisão do governador Rui Costa.

Em Cruz das Almas, no Recôncavo, gritos de “anarriê” também não serão escutados nas quadras. De acordo com Benedito Paiva, presidente da quadrilha Mistura Gostosa, a agremiação foi pega de surpresa pela pandemia. Com 80% dos preparativos prontos, ele conta que o enredo deste ano traria a história de uma garota que tem a vida arrasada por uma aposta do pai, que a “perde” em um jogo de azar.

“Íamos fazer uma viagem pelos jogos, a fé religiosa, a fé nos santos, mas tudo foi por água abaixo. Tínhamos as melhores expectativas. Havia um incentivo maior, estávamos dando alguns passos, íamos participar de concursos em mais de dez cidades do Recôncavo, no Sul do estado e pensávamos até em participar de competições em outros estados”, relata o presidente da Mistura Gostosa, afirmando que apesar da não realização dos desfiles a agremiação não parou de fazer reuniões para “voltar com tudo” no próximo ano.

Semelhante à situação do grupo cruzalmense, a diretoria da Quadrilha Asa Branca, de Salvador, também continua trabalhando remotamente. A agremiação estava com 60% do projeto em execução e teve que parar quando viu que a pandemia não permitiria ao grupo seguir em frente. “Nosso processo de construção é dividido em cinco etapas e já tínhamos cumpridos três. No dia 13 de março a diretoria convocou assembleia extraordinária e suspendeu o trabalho por 15 dias, no dia 21 vimos que não daria para dar continuidade em decorrência da pandemia e suspendemos o nosso trabalho para o São João 2020”, conta o diretor de marketing da quadrilha, Rarén Araújo. A Asa Branca tem em seu quadro mais de 200 colaboradores que auxiliam diretamente e indiretamente na execução dos trabalhos.

Conforme aponta o Fórum Permanente de Quadrilhas Juninas, a situação dos grupos baianos não difere das outras no resto do país, que paralisaram as suas atividades coletivas como ensaios, produções e apresentações. “Os trabalhos temáticos, ou seja, a construção dos espetáculos, foram guardados para 2021. Algumas atividades internas já tinham sido iniciadas, a exemplo da produção de figurinos, cenários, adereços, composições coreográficas e musicais, o que significa a compra de materiais diversos e a contratação de profissionais para a realização das mesmas”, relatou Soiane Gomes, representante do fórum, ao Bahia Notícias.

Não há um número exato de agremiações na Bahia, mas só no último Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas da Bahia, organizada pela Federação Baiana de Quadrilhas (FEBAQ) em parceria com a Bahiatursa, no ano passado, participaram 43 grupos que utilizam da linguagem artística popular – todos eles associados à FEBAQ.

O fórum reclama que as agremiações, mesmo as associadas, não tiveram nenhum plano emergencial de auxílio ou ações compensatórias pelos recursos investidos por parte da federação ou pelo poder público. Tudo o que tem sido feito para dar apoio aos integrantes das agremiações tem acontecido de maneira independente pelos próprios grupos.

Tal falta de apoio tem trazido implicações negativas para o cenário artístico. Isso é o que explica Vilma Soares, presidente da Associação de Quadrilhas de Feira de Santana. “A realidade das quadrilhas de Feira é uma das piores, por falta de apoio do poder público e também empresarial elas estão cada vez mais extintas”, explica. Este ano, a entidade voltaria a realizar uma competição anual, que estava sendo articulada desde janeiro, o “Arraiá de Santana”.

O QUE ESTÁ POR VIR

Mesmo com a suspensão dos festejos, o sentimento geral dos representantes das quadrilhas que conversaram com o Bahia Notícias é de que a interrupção das apresentações e da preparação foi a melhor alternativa.

“Apesar da tristeza por não ter um São João, temos que ter responsabilidade com o próximo e entender que a vida vale mais do que o festejo. É preciso nos cuidar agora para estarmos juntos no futuro”, contou Ráren, da Asa Branca, que vai realizar um festival solidário virtual no próximo dia 26 para arrecadar cestas básicas a serem destinadas aos seus brincantes.

O meio virtual como alternativa também foi escolhido pela Quadrilha Raízes do Iguape, que vai realizar uma live para falar sobre a sua história no próximo dia 30 de junho.

O QUE DIZ A BAHIATURSA

Procuramos a Bahiatursa. À reportagem, o órgão de fomento ao turismo do governo do estado admitiu não ter “uma verba destinada a este tipo de projeto”. “No entanto, estamos atentos a solicitação do fórum [de quadrilhas] e estudando possíveis ajudas”, acrescentou. (BN)

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