A circulação de notícias falsas em aplicativos de mensagens e em redes sociais pode influenciar muito o resultado das eleições deste ano, afirmam 60% dos entrevistados pelo Datafolha. Outros 22% acham que deve impactar um pouco, 15% dizem que não vai interferir e 3% não souberam responder.
No total, 84% dos participantes do levantamento têm conta em alguma plataforma digital, sendo 82% no WhatsApp, 61% no Facebook, 56% no Instagram, 30% no TikTok, 20% no Telegram e 16% no Twitter.
A pesquisa, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, foi realizada na terça (22) e quarta-feira (23) em 181 cidades de todo o país, com 2.556 pessoas acima de 16 anos, e está registrada no TSE sob o número BR-08967/2022.
Os que apontam possível influência de fake news no pleito chegam a um percentual de 88% na faixa de 16 a 24 anos, que é também aquela que mais está presente nas redes sociais —98% dos mais jovens têm conta em ao menos uma plataforma.
Já o grupo acima dos 60 anos, no qual 57% dos indivíduos dizem estar registrados em alguma rede, vê chance menor de interferência da desinformação no destino eleitoral —76% dos mais velhos acham que haverá relação entre a desinformação e o resultado.
O Datafolha também mostrou que a ampla maioria (81%) dos entrevistados acha que empresas como Facebook, Twitter e Instagram deveriam excluir o mais rápido possível publicações que exibem notícias falsas sobre a eleição no Brasil.
Ainda conforme o levantamento, 51% da população é favorável à suspensão do funcionamento de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, caso eles não obedeçam a ordens da Justiça brasileira para evitar a divulgação de fake news.
O combate à desinformação é tratado como uma das prioridades pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que criou o Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação e firmou em fevereiro memorandos de entendimento com Twitter, TikTok, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram, YouTube e Kwai.
O Telegram, que é motivo de preocupação entre autoridades por causa da fragilidade nos controles de disseminação de notícias falsas, vinha ignorando os contatos da corte eleitoral e só aderiu ao programa nesta sexta-feira (25), após ação do STF (Supremo Tribunal Federal).
Neste mês, o ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou a suspensão do aplicativo no Brasil. A decisão acabou revogada antes do prazo para a retirada do sistema do ar, depois que representantes da empresa responderam à corte, após meses ignorando contatos e despachos.
Com as redes incorporadas ao debate eleitoral, o patamar dos que dizem ler sobre o tema nas plataformas chega a 58% no Twitter, 55% no Facebook, 45% no WhatsApp, 37% no Telegram e 34% no TikTok. Os índices dos que compartilham conteúdos são menores, abaixo dos 20% em todas.
O exemplo mais recente sobre o impacto de notícias falsas é o do pleito de 2018, marcado por intensa discussão sobre o tema ao redor do candidato eleito presidente na ocasião, Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje no PL), e de seu principal rival, Fernando Haddad (PT).
O escopo do chamado inquérito das fake news, aberto em 2019 pelo STF, reforçou desconfianças levantadas desde aquele pleito sobre a utilização de disparos em massa por meio do WhatsApp e de contas automatizadas para espalhar propaganda e desinformação.
A investigação, que tem Alexandre de Moraes como relator, mira Bolsonaro, aliados diretos e apoiadores no meio político e no empresariado, suspeitos de integrar uma rede de disseminação de fake news e de difamação em redes sociais. O titular do Planalto é um dos investigados.
Maior adversário de Bolsonaro neste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse neste mês que Bolsonaro usou a dispersão de inverdades para vencer em 2018 e comanda uma “fábrica de mentiras”. O PT tenta desenvolver estratégias para alertar seu eleitorado desta vez.
Para a cientista política Juliana Fratini, organizadora do livro “Campanhas Políticas nas Redes Sociais: Como Fazer Comunicação Digital com Eficiência”, a questão das fake news é incontornável no pleito, mas o volume e o alcance podem diminuir por causa das barreiras adotadas pelas plataformas.
“O maior preparo dessas redes é uma diferença crucial em relação a 2018, mas as fragilidades do Telegram serão, sem dúvida, um ponto de atenção”, diz, citando a plataforma usada por movimentos como canal de distribuição de conteúdos mentirosos para outros ambientes.
“Uma parte do eleitorado”, pontua ela, “não está muito preocupada com a veracidade das informações. Sempre vai haver um contingente que vai acreditar nas coisas mais absurdas, muitas vezes para confirmar crenças pessoais que não estão necessariamente baseadas em fatos”.
Coordenador do Centro de Pesquisas de Mídia e Internet do Ibmec-SP, o professor e advogado Marco Antonio da Costa Sabino diz não haver “evidências empíricas para afirmar que o brasileiro está mais cuidadoso com os conteúdos” do que em 2018, como pensam alguns.
“Está claro que as eleições acontecem sobretudo no ambiente virtual e que, com base no que aconteceu, as redes vão influenciar o rumo da eleição. Todos veem como a desinformação pode mudar o futuro de um país. A mentira alcança mais pessoas, dura mais tempo e chama mais a atenção”, afirma ele. (Politica Livre)