De primeira viagem: as emoções de homens que estão descobrindo a alegria de serem pais

Fotos: Acervo Pessoal

Encarar o desafio de ter um filho não costuma ser fácil nem para a mãe e nem para o pai. Porém, diferente da mulher que já cria uma certa relação de identidade com o bebê por carregá-lo no ventre, muitos homens relatam que a sensação de ser pai só vem mesmo depois dos nove meses, com o nascimento da criança. Conheça as histórias de três pais baianos que são pais de primeira viagem e que ainda estão traçando o emocionante caminho da paternidade de forma presente e responsável.

A descoberta da gravidez veio em um momento complicado para Luedy Costa, 30. Passando por frequente crises de ansiedade, o pai do pequeno Martin Ayô, 1, também enfrentava problemas em seu relacionamento com a mãe do menino. No entanto, apesar do susto, a chegada de Martin foi muito importante para que o designer gráfico lidasse com as adversidades e seguisse em frente. Atualmente solteiro, ele destaca que a separação não interferiu na divisão de cuidados com o filho e que mantém contato diário.

“Quando descobrimos a gravidez, estávamos em um momento complicado. Acredito que a gestação me ajudou a superar as crises (de ansiedade) naquele momento. Hoje, estamos separados mas mantemos uma relação bem próxima com o intuito de dar a ele um estrutura familiar. Apesar dele morar com a mãe, eu o vejo todo dia”, explica.

Ainda novato na missão de ser pai, este é o segundo Dia dos Pais que Luedy comemora. Porém, vontade nunca lhe faltou, e ele, que tem dois sobrinhos, começou a pensar na possibilidade após acompanhar o crescimento deles. De sonho realizado, agora ele aproveita para curtir todo o tempo que pode ao lado de Martin, sobretudo, por meio de uma das maiores paixões dos dois: a música.

“Martin adora música. Nós dançamos, tocamos e cantamos vários tipos. Ele é completamente apaixonado pela música ‘Respeite’ do Harmonia do Samba. Sempre cantamos em casa ou no carro. Cantamos Mundo Bita, Xuxa, Galinha Pintadinha… Mas o que ele ama é Harmonia e ‘Parado no Bailão’ (risos)”, diz o design.

O design gráfico Luedy Costa e o seu filho Martin Ayô adoram ouvir e fazer música juntos
O design gráfico Luedy Costa e o seu filho Martin Ayô adoram ouvir e fazer música juntos

Outro que é pai de primeira viagem é o enfermeiro Vitor Alves, 26. Neste domingo, ele celebra seu primeiro Dia dos Pais ao lado da esposa, a auxiliar administrativa Jaine Alves, 21, e do seu filho, José Miguel, de três meses.

Animado, Vitor diz que a sensação de ser pai veio aos poucos, e que só se deu conta por completo quando sentiu na pele as tarefas trazidas pelo novo “cargo”. “A ficha demorou um pouco de cair, eu só comecei a perceber a paternidade quando minha rotina começou a ser readaptada, e a responsabilidade aumentou, comenta o enfermeiro.

Para estrear a data mais que especial, ele vai contar com a presença daquele que o ensinou o significado de paternidade: o seu próprio pai.

“Dia dos pais é um dia para celebrar o dom que foi dado por Deus, pra cuidar, amar, ensinar e zelar do filho que a nós foi confiado. Pretendo passar esse dia com as pessoas que me ensinam e me ajudam a ser um pai melhor a cada dia, minha família! E dar um abraço muito forte naquele que também me inspira a ser um bom pai: meu pai!”, revela.

A ideia de que seria pai nunca havia passado pela cabeça do operador Joeliton Santos, 25. Ele só conseguiu se enxergar desta forma quando pegou no colo pela primeira vez, o pequeno Théo Silva de Oliveira, de apenas 3 meses. Junto da sua esposa, a estudante Neylaine Helen Oliveira, 21, ele completa o time de papais iniciantes que ainda está descobrindo a paternidade.

Parceiro do filho, devido a pouca idade, Joeliton passa grande parte do tempo ajudando o pequeno a se desenvolver. “Como ele só tem três meses, as atividades que mais fazemos é estimular o crescimento. A gente conversa e usa brinquedos que estimulem a coordenação motora. Com isso, tanto ele quanto a gente sorri junto e se emociona com cada avanço”, conta.

Para ele, muito além de um status, o Dia dos Pais, que ele comemora pela primeira vez, é importante para lembrar o quanto a paternidade contribuiu para sua evolução como pessoa.

“Bom, eu sou novo nessa comemoração, mas agora faz todo sentido ter uma data para comemorar as lembranças de como a paternidade conseguiu me transformar num ser humano melhor”, comemora, ele que pretende passar o dia em família com um piquenique.

Mistura de sentimentos

Dita “apaixonada pelo desafio de proporcionar harmonia e maior conexão entre família”, a psicóloga Jaqueline Amorim, 30, explica que a descoberta da paternidade é repleta de sentimentos diversos, além de ser capaz de provocar grandes mudanças.

“Ser pai de primeira viagem traz um misto de sentimentos, medos, desejos, ansiedades, além da felicidade por uma nova vida que está chegando ou que acabou de chegar. Tudo vai virar de ‘ponta a cabeça’, e a recompensa por todo esse cansaço é que ele ganha um novo propósito na vida!”, afirma.

E o que fazer para garantir um bom relacionamento entre pai e filho? Para a especialista, investir na qualidade da presença. Ela é inclusive, um dos pontos mais debatidos quando se fala em paternidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, o Brasil tinha mais de 1 milhão de famílias compostas por mãe solo, em um período de dez anos. O assunto foi inclusive, tema da campanha de Dia dos Pais do Esporte Clube Bahia neste ano.

Para a psicóloga Jackline Amorim, o melhor presente que um pai pode dar a um filho é a sua presença
Para a psicóloga Jaqueline Amorim, o melhor presente que um pai pode dar a um filho é a sua presença

“O presente mais valioso que um pai pode dar a um filho é a sua presença consciente. Sem contar com a postura autoritária que cada vez mais afasta pais e filhos. Sempre ditam ordens e não se propõe a escutar o que o filho tem a dizer. Um papel de um bom pai é: amar, dar limites, passar valores, ouvir e ensinar, compartilhar responsabilidades, fazer perguntas que levam a reflexão e a ação, orientar, encorajar e direcionar para o futuro”, explica.

Ossos do ofício

Como é de se imaginar, nem só de delícias é feita a vida de um pai, especialmente, dos que estão aprendendo a lidar com filhos pequenos pela primeira vez. “Se readaptar a uma nova rotina é uma dificuldade grande, pois tudo tem que ser feito pensando no filho”, diz Vitor. Porém, apesar do trabalho, ele faz questão de dizer que as as alegrias também são inúmeras, pois “você descobre um sentimento inexplicável”.

Outra questão apontada por Luedy, é a descrença com relação ao papel do pai na sociedade, especialmente se ele é jovem. “No começo, eu me irritava muito quando estava na rua, sem a mãe, e perguntavam com tom de descrença: ‘Você faz tudo?’, ‘Troca a fralda?’. Foi difícil aprender a lidar com isso, mas hoje encaro com mais naturalidade” Mas como Vitor, ele concorda que as “alegrias são inúmeras”. “Cada vez que eu chego para buscar o Martin na escola e ele vem correndo me abraçar, faz todo o mundo ter sentido”, revela.

Consciente da sua função com relação a responsabilidade de cuidar de Théo, Joeliton conta que ele e a esposa não gosta de ouvir que é “um pai que ajuda”, pois encara a divisão de tarefas com a esposa não sendo um favor, e sim, parte da obrigação de ser pai. Também como Luedy, ele já se sentiu desacreditado pela sociedade como pai de primeira viagem.

“A maior dificuldade é a cobrança que eu mesmo me faço. O tempo todo fico pensando que tenho que trabalhar duro para dar sempre o melhor, e muitas vezes as pessoas não acreditam no potencial do pai de primeira viagem. Acredito que terei mais dificuldades no futuro, pois essa coisa toda de pai, é nova inclusive pra mim que nunca tive um, então terei que lidar com muitas questões sozinho”, reflete, lembrando do seu próprio pai.

No entanto, para ele, a paternidade, vale, e muito, a pena, principalmente quando vê o progresso do filho. “Cada vez que sinto a dor no braço, lembro do quanto ele está crescendo. Fico feliz com coisas que aparentam ser muito pequenas, como quando ele levanta o pescoço ou aperta meu dedo”, se emociona.

Seja o primeiro Dia dos Pais, ou não, a psicóloga Jaqueline dá o recado para uma comemoração inesquecível.

“Ei papai, proporcione a você e ao seu filho experiências maravilhosas. Mesmo pequenino, isso resulta em fortalecimento do vínculo e estreitamento da intimidade. Aproveite o dia com muito amor e lembre-se, você é o exemplo número um do seu filho, o herói da vida dele, portanto, você tem a chave para o futuro do seu filho. Então ame, cuide, abrace, beije, se faça presente, dê limites, passe valores e valorize esse momento”, aconselha.

Pronto para aproveitar o domingo, Joeliton terá seu primeiro Dia dos Pais repleto de expectativa. Para o pai de Théo, fica a certeza de que este é o início de uma linda tradição familiar.

“É a primeira vez que me empolgo com esta data, como nunca tive pai, nunca participei dessas comemorações. Agora que sou pai, com certeza vou ficar ansioso todo ano. O Dia dos Pais perfeito para mim, é viver com a certeza que em breve teremos dias melhores que os de hoje. Mas umas férias em família em Itacaré não seria nada mal”, brinca.

Pai de Théo de 3 meses, o operador Joeliton Santos está ansioso para celebrar o Dia dos Pais pela primeira vez
Pai de Théo de 3 meses, o operador Joeliton Santos está ansioso para celebrar o Dia dos Pais pela primeira vez

( A Tarde)

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