É verdade que o corpo de um papa explodiu durante o velório?

Sim. Em 1958, quando Pio XII faleceu, seu médico resolveu testar um método peculiar de embalsamento. Deu bem errado.

 Foto: Bettmann/Getty Images

Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli nasceu em 1876 numa família da nobreza italiana com ligações íntimas com a Igreja Católica Apostólica Romana. Seu avô, Marcantonio Pacelli, foi secretário do Interior para o papa Pio IX entre 1851 e 1870 – e provavelmente não imaginava que, 70 anos depois, o pontífice seria seu netinho.

Antes disso, Pacelli passou por vários dos principais cargos do Vaticano. Ele foi Secretário de Estado, camerlengo (o responsável pela administração dos bens do Vaticano) e membro da Cúria Romana, o órgão administrativo da Igreja Católica. Ele foi eleito ao papado no dia 2 de março de 1939, seis meses antes do início da 2ª Guerra Mundial.

Pio XII liderou a Igreja durante toda a guerra, tentando evitá-la nos primeiros seis meses à frente da Santa Sé e encerrá-la nos seis anos seguintes. Ele condenou a perseguição aos judeus, abriu o Vaticano para refugiados do conflito e concedeu cidadania a mais de 800 mil pessoas.

O papa sobreviveu à guerra e aos vários bombardeios que Roma sofreu durante o período, e continuou liderando a Igreja por mais 13 anos, até 1958. Porém, depois de sua morte, algo inesperado aconteceu: durante seu funeral, o corpo de Pio XII explodiu.

Como Pio XII explodiu
Um pontífice não é enterrado assim que ele morre. O Papa Francisco, que faleceu na última segunda-feira, 21, só vai ser enterrado no sábado, 26: seu corpo está exposto no Vaticano por alguns dias para que os fiéis possam se despedir e prestar homenagens.

Para que essa tradição possa tomar lugar, o corpo dos bispos de Roma deve ser conservado. No caso de Pio XII, o processo deu errado.

Riccardo Galeazzi-Lisi, um oftalmologista de formação, foi o médico pessoal de Pio XII durante todo seu papado. Quando o papa morreu, Galeazzi-Lisi começou a causar: vendeu matérias e fotos do pontífice morto para os jornais e organizou uma conferência de imprensa em que disse que havia usado o mesmo sistema de óleos e resinas usados no corpo de Jesus Cristo para embalsamar o papa.

Pio XII não queria ter seus órgãos removidos depois da morte, então Galeazzi-Lisi testou um novo método de embalsamento para preservar o corpo em estado natural por um longo período de tempo. Outros papas já haviam passado pelo processo com todos os órgãos, como Pio X. Mas a técnica revolucionária de Galeazzi-Lisi não funcionou.

Além de Jesus, Galeazzi-Lisi afirmou – sem comprovação histórica – que outras personalidades passaram pela mesma “osmose aromática”, como o imperador Carlos Magno. A técnica consistia em envolver o corpo de Pio XII em óleos e ervas, e depois cobrir tudo com uma camada de papel celofane para que o cadáver pudesse absorver essas substâncias.

O que complicou o embalsamento foi o calor de início de outono no Castelo Gandolfo, propriedade da Santa Sé e residência de verão dos papas, onde o corpo do papa foi untado com as tais ervas e óleos. Na primeira madrugada depois do procedimento, os responsáveis perceberam que algo tinha dado errado.

A ideia de Galeazzi-Lisi contradizia as técnicas tradicionais de embalsamento, que consistem em remover fluidos e deixar o cadáver frio – o oposto de adicionar mais líquidos e deixá-lo num ambiente abafado.

O papel celofane acabou com a circulação de ar e acelerou a putrefação do corpo. Os gases do processo de decomposição começaram a se acumular e inchar o tórax do Pio XII, que sempre foi magro.

Algumas fontes dizem que o corpo do papa ficou verde-esmeralda, e alguns guardas passaram mal com o cheiro: os responsáveis por guardar o cadáver precisavam se alternar de 15 em 15 minutos para resistir ao odor.

Quando o corpo de Pio XII estava sendo transportado até a Basílica de São Pedro, o pior aconteceu: um barulho de explosão foi ouvido do caixão. O corpo, embalsamado de forma incorreta, havia despedaçado na cavidade torácica por causa do acúmulo de gases. Alguns relatos dizem que até o septo nasal de Pio XII chegou a cair.

O caixão foi coberto e passou por operações de emergência com tanatopraxistas, especialistas em conservação de cadáveres para funerais. Ele passou por um novo processo de embalsamento, mas o inchaço no tórax persistiu até o fim do funeral.

Galeazzi-Lisi não foi sofreu punições pelo embalsamento caótico, mas precisou abandonar a posição de médico oficial do papa e foi banido de entrar no Vaticano pelo vazamento de fotos dos últimos dias do pontífice. Seu método supostamente revolucionário de preservação nunca mais foi usado.

Por Eduardo Lima / Superinteressante

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