Em 3 dias, 4 escolas em Salvador têm aulas suspensas por violência

Desde o início do ano, já houve ao menos 46 unidades afetadas pelo mesmo motivo

Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Ter aulas suspensas por causa da violência e de tiroteios já não é mais novidade para os colégios públicos situados em bairros de Salvador. Somente nos últimos três dias, quatro unidades foram afetadas. Desde o início do ano, ao menos 41 escolas da rede municipal e cinco da estadual tiveram que parar as atividades por um ou até quatro dias para não pôr em risco estudantes, professores e servidores de colégios localizados em regiões sitiadas pela violência.

De acordo com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), ao todo, devido às suspensões realizadas, 13.683 alunos da rede municipal ficaram sem aula até este mês. Já a Secretaria da Educação do Estado (SEC), ao ser procurada, não forneceu dados sobre as escolas e os estudantes prejudicados pela violência neste ano. Por isso, o levantamento que baseou esta reportagem foi feito a partir de publicações anteriores.

Nessa quarta-feira (12), a Escola Municipal Padre Confa, no Costa Azul, teve as aulas suspensas por conta de um tiroteio que aconteceu ontem à tarde, na frente da instituição. Cerca de 250 alunos foram afetados. Nenhum suspeito foi encontrado, e o policiamento foi reforçado na região.

Por volta das 15h de terça-feira (11), estudantes da Escola Municipal Santo André, localizada no bairro de Santa Cruz, foram surpreendidos por um tiroteio em frente ao colégio, na Rua 26 de Abril. Um morador, que prefere não se identificar, conta que o confronto se deu entre policiais e traficantes da área, que tem atuação da facção Comando Vermelho (CV). “Os policiais vieram pelo fim de linha da Santa Cruz e, na entrada da Rua 26 de Abril [onde a escola é localizada], deram de cara com os meninos que estão envolvidos no crime aqui”, disse ele, que vive nas imediações da rua onde houve o confronto.

“Na hora que eles se encontraram, começou o tiroteio e eu, que moro por aqui perto, tomei um susto. Como a gente já sabe o que é porque sempre tem, fui me proteger, mas foram muitos tiros e demorou para eles pararem”, relata o homem, destacando que os comércios da região estavam todos abertos quando o tiroteio começou. Apesar disso, ninguém foi atingido durante a ação, que é o maior temor de quem mora nas redondezas quando há troca de tiros nas ruas.

Outra moradora, que também não revela o nome, também descreve a troca de tiros como intensa. “Não parava nem um segundo, você só ouvia os pipocos enquanto estava escondido dentro de casa. E foi na luz do dia, depois das 15h. Por sorte, ninguém inocente foi atingido por essas balas que, no geral, só encontram as pessoas que não têm nada a ver. Se for de madrugada, é mais difícil, mas durante uma tarde era fácil ter um desavisado na rua na hora que isso aconteceu”, comenta ela, que também ressalta o volume de ocorrências de confrontos armados na região.

Sobre o confronto da terça, a PM-BA confirmou que, por volta das 15h, agentes da 40ª Companhia faziam rondas no Nordeste de Amaralina “quando visualizaram um grupo de homens armados que, ao notar a presença dos PMs, efetuaram disparos de arma de fogo, sendo necessário o revide”.

Na noite de terça-feira, o Colégio Estadual Polivalente de Amaralina suspendeu as aulas após um tiroteio entre PMs e suspeitos de integrarem uma facção.

Já na segunda-feira (10), um tiro atravessou a janela da Escola Municipal São Pedro Nolasco, em Santa Cruz, e foi parar numa das panelas em que estava sendo preparada a merenda das turmas vespertinas. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Na ocasião, informou a Smed, as aulas na unidade também foram suspensas, tendo sido afetados 202 alunos.

Além de minar a tranquilidade das pessoas, a violência também prejudica a educação e o processo de aprendizado, como conta uma mãe de um estudante. “Escola é que nem trabalho, precisa ser todo o dia. Toda vez que para uns dias, quebra o ritmo da criança. E, quando para, eles ficam sem estudar mais tempo do que a suspensão. Muitas mães preferem não mandar o filho para escola quando as aulas retornam até entender que está tudo seguro, então não é automático”, aponta ela, sem dizer o nome por medo de represálias.

Presidente da Associação de Professores Licenciados do Brasil (APLB) na Bahia, Rui Oliveira lamenta o elevado número de suspensões e avalia que a escola deixou de ser o local onde os pais ficam tranquilos em deixar os filhos. “Os bairros de Salvador estão dominados por grupos envolvidos em tráfico de drogas, e as escolas localizadas em áreas assim dominadas passaram a ser um local de muito perigo. Por isso, é necessária uma ação urgente e preventiva das polícias Civil e Militar para garantir segurança nas escolas. É preciso construir uma trincheira para que o espaço escolar seja um local de vida e tranquilidade para estudar”, falou Rui.

(Correio)

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