Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) revelaram que os escritos japoneses encontrados nas “caixas misteriosas” que apareceram em praias da Bahia, Alagoas e Sergipe, em agosto deste ano, significavam “Japão” e um ano “1986”.
“Tinha escrito Japão e um ano, que eu acho que era 1986, alguma coisa assim. A gente não tem certeza do ano, mas eu lembro que a gente decifrou que era Japão”, revelou o professor Luís Ernesto Arruda, do Instituto de Ciências do Mar, da UFC.
Na sexta-feira, o oceanógrafo Carlos Teixeira, que é pesquisador no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da UFC, contou ao g1, que as caixas misteriosas são fardos de borracha de um segundo navio nazista, o MV Weserland.
No início do ano, o grupo revelou que as “caixas misteriosas” que apareceram nas praias do Nordeste do Brasil em 2018 eram fardos de borracha que se haviam soltado de um navio Alemão, o SS Rio Grande, naufragado pelos americanos ao largo da costa do Brasil em janeiro de 1944.
Segundo informações do oceanógrafo Carlos Teixeira, que é pesquisador no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da UFC, o material estaria afundado no mar há 77 anos.
Desde 2018 esses fardos seguem aparecendo em algumas praias. A priori, os pesquisadores do Labomar acharam que podia tratar-se dos fardos do SS Rio Grande, que continuam aparecendo em algumas praias da região.
No entanto, de acordo com Carlos Teixeira, duas coisas chamaram a atenção: a enorme quantidade de fardos reportada (mais de 200) e o fato de que em alguns deles constavam as inscrições gravadas em ideograma japonês, o kanji (o que não tinha sido visto até então).
Os questionamentos levantaram à suspeita de que os fardos encontrados neste ano poderiam ser de um novo “vazamento”.
“Essas inscrições em japonês não tinham aparecidos até então. Isso levantou a suspeita de que poderia ser outro navio”, explicou o professor Luís Ernesto Arruda.
“A gente descobriu que era um outro navio por causa da quantidade, porque foram muitos fardos e isso chamou a atenção. Não poderia ser do Rio Grande, encontrados em 2018, porque eram muitos”.
MV Weserland
Para o grupo, essa alteração nos preços levantou a suspeita de que piratas poderiam ter mexido no naufrágio na tentativa de recuperar essa carga, fato que foi confirmado pelo pesquisador britânico que atua nessa área, David Mearns, em contato com os pesquisadores do Labomar.
Após o acesso a todas as informações, foram feitas as modelagens matemáticas, que mostraram que, se os fardos saíssem do local do naufrágio, eles iriam direto para a costa dos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas. Com isso, a hipótese de que os fardos que apareceram em 2021 são desse navio foi confirmada.
“Ele carregava fardos de borracha e ele saiu do Japão em direção à Alemanha”, disse o professor Luís Ernesto.
“Ele carregava estanho. A gente descobriu que o preço do estanho triplicou entre o fim de 2020 e o começo de 2021. Ele teve um salto de 13 mil dólares para 34 mil dólares na bolsa de Londres. É o produto mais promissor na bolsa de Londres”.
Onde está o navio?
De acordo com os pesquisadores, o navio nazista MV Weserland foi naufragado pelo destróier USS Sommers, da Marinha americana, em janeiro de 1944, poucos dias após o navio SS Rio Grande ter tido o mesmo destino: o fundo do Oceano Atlântico.
“Eles colaboravam no esforço de guerra alemão durante a 2ª guerra. Eram navios mercantes, esse foi construído em 1922 e duram a guerra ele foi coaptado pelo governo alemão para levar mercadorias que seriam usadas no esforço de guerra da Alemanha”, contou Luís Ernesto.
A embarcação tinha as mesmas características do primeiro navio nazista. Ela também carregava uma carga de fardos de borracha que seriam usados no esforço de guerra alemão, além de metais nobres, que décadas depois passariam a valer muito dinheiro: o cobalto, no caso do SS Rio Grande, e o estanho, no caso do MV Weserland.
“Eles saiam do sudoeste asiático, eram os grandes produtores de borracha na época, mundial, que estava sob o domínio japonês. O Japão era aliado da Alemanha na segunda guerra, então eles saiam dessa região carregando borracha”.
O professor Luís Ernesto Arruda explicou ainda que a borracha era usada para fazer pneus de avião e carro, além de uniformes e isolamentos de cabos de telégrafos.
“Eles traziam o material para a Alemanha. Eles iam pelo Atlântico, fazendo a volta pelo sul da África. Ele está [naufragado] na altura da costa de Salvador, como se fosse em uma linha reta, a quase 2 mil quilômetros”, contou. (G1)