O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que desafia que se encontre “um brasileiro que confie” no processo eleitoral do País, sem dar qualquer informação ou detalhes sobre as acusações que fez ontem de que houve fraude nas eleições de 2018, que o fizeram presidente da República.
“Eu quero que você me ache um brasileiro que confie no sistema eleitoral brasileiro”, respondeu Bolsonaro ontem a jornalistas sobre a sua hipótese de que houve fraude. Questionado, então, se ele mesmo não confia na justiça eleitoral, Bolsonaro elevou o tom de voz e afirmou “Não é na Justiça, não deturpe as minhas palavras, não façam essa baixaria que a imprensa sempre faz comigo”.
A resposta foi parte da única interação de Bolsonaro com jornalistas em toda a visita a Miami, que durou quatro dias. Perguntado se apresentaria provas de sua acusação, ele encerrou a entrevista, que durou menos de dois minutos.
O presidente também não explicou como sua desconfiança com o “sistema eleitoral” não contempla um questionamento à Justiça eleitoral. A organização do processo eleitoral no Brasil – que inclui a organização das eleições, da votação, a apuração e divulgação dos votos e a diplomação dos eleitos – é atribuição da Justiça eleitoral. Ontem, em evento com apoiadores em Miami, Bolsonaro disse ter provas de que venceu a eleição no primeiro turno. A declaração em Miami nesta ontem foi a primeira vez que Bolsonaro levantou a possibilidade de fraude desde que assumiu a Presidência da República. A fala do presidente reacendeu a estratégia de colocar em xeque a credibilidade da Justiça Eleitoral, um discurso utilizado pelo próprio Bolsonaro na campanha de 2018. Em setembro de 2018, Bolsonaro afirmou que as eleições daquele ano poderiam resultar em uma “fraude” por conta da ausência do voto impresso. As declarações do então candidato levaram a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Rosa Weber, a dar uma rara declaração pública e afirmar que as urnas eletrônicas são “absolutamente confiáveis” desde a sua implantação, em 1996.
“Temos 22 anos de utilização de urnas eletrônicas. Não há nenhum caso de fraude comprovado. As pessoas são livres para expressar a própria opinião, mas quando essa opinião é desconectada da realidade, nós temos que buscar os dados da realidade”, frisou Rosa na ocasião. Por 8 a 2, a adoção do voto impresso foi suspensa em 2018 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por avaliar que a medida representa um risco ao sigilo do voto e à confiabilidade do processo eleitoral. O veto ao voto impresso havia sido solicitado pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Indicado por Bolsonaro para chefiar o Ministério Público Federal, o atual procurador-geral da República, Augusto Aras, já sinalizou reservadamente que deve mudar a posição do órgão e passar a defender o voto impresso. (Trbn)