Exercícios físicos podem ajudar a esquecer memórias negativas, apontam estudos

As atividades físicas ajudam os neurônios na eliminação de memórias negativas

Foto: Pixabay

Sabe aquela lembrança triste ou desagradável que tem a capacidade de atrapalhar seu dia? Pesquisadores canadenses e japoneses descobriram que exercícios físicos ou atividades físicas, testados em ratinhos, que conseguiram fazer com que os animais esquecessem ou simplesmente da memória o tipo de recordação negativa. Se deu certo com os bichinhos, quem sabe pode dar os mesmos resultados para os humanos? Eles tentam aprimorar o estudo para aplicar na prática com as pessoas.

Os cientistas identificaram que o crescimento aprimorado de neurônios no hipocampo, desenvolvido por intermédio de exercícios ou métodos genéticos, ajuda os ratos a esquecer memórias que o incomodam. A partir daí, os pesquisadores acreditam ser possível tratar estresse pós-traumático,  dependência química e álcool.

Em parceria os cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, e de Kyiushu, no Japão, verificaram que o aumento da produção de neurônios e, consequentemente as alterações das conexões neurais no hipocampo e publicaram o estudo na revista Molecular Psychiatry.  Para pesquisas futuras, os cientistas buscam uma medicação que impulsione a neurogênese ou a remodelação do hipocampo, capaz de tratar traumas e dependência química. Porém, eles estão convencidos que os exercícios físicos são fundamentais.

Pesquisa

No estudo, os pesquisadores aplicaram dois choques fortes em ratos em ambientes diferentes. Primeiro, os ratos ficaram chocados depois de deixar uma caixa branca bem iluminada e entrar em um compartimento escuro com cheiro de etanol. Após o segundo choque em outro ambiente distinto, os bichinhos apresentaram um comportamento semelhante ao de estresse pós-traumático.

Após um mês, os cientistas observam que os ratinhos seguiam com medo e receosos de estrar no compartimento escuro porque não esqueciam as lembranças traumáticas. O medo se ampliou para todos os ambientes escuros testados, de tal forma que os animais passaram a ter um comportamento de receio generalizado. Os bichinhos deixaram de ser “exploradores” Além disso, os ratos exploraram menos espaços abertos e evitaram o centro, sugerindo ansiedade.

Na segunda etapa, os ratinhos “chocados” foram divididos em dois grupos e um grupo recebeu uma roda em que corriam. Quatro semanas depois, apresentaram mais neurônios recém-formados nos seus hipocampos e, o melhor: menos sintomas de traumas em comparação com os bichinhos que não foram submetidos aos exercícios físicos.

Os pesquisadores ainda investigam como exercício afeta o cérebro e o corpo de maneiras diferentes, eles têm algumas questões não respondidas como se os efeitos se devem exclusivamente ao hipocampo e à formação de novos neurônios ou a outros aspectos. Porém, observam que depois de duas semanas, os neurônios, dos ratinhos submetidos aos exercícios físicos, aumentaram com mais ramificações e se integraram aos circuitos neurais do hipocampo.

Testes

Na segunda abordagem, a equipe de pesquisa utilizou a engenharia genética nos ratinhos para remover uma proteína dos neurônios recém-formados que retarda o crescimento dos neurônios, o que resultou no crescimento mais rápido dos neurônios e no aumento da incorporação nos circuitos neurais.

As duas abordagens reduziram os sintomas de traumas. De acordo com os pesquisadores, nos humanos, que lutam contra a dependência química e de álcool, por exemplo, a chamada “recaída” ocorre quando lembranças negativas vêm à mente, tais como um ambiente que traz recordações dos lugares onde faziam consumo.

Traumas

O estresse pós-traumático, dizem os psiquiatras, é uma condição provocada por experiências relativas a impactos de forte emoção negativa, como a vivência de desastre natural, acidente grave ou doença. O diagnóstico atinge 3,9% da população mundial. Os sintomas vão desde resistência ao convívio social, isolamento à tristeza intensa.

Atualmente, o tratamento prescrito envolve terapia associadas a remédios, como os antidepressivos.  Com o estudo, o foco foi a neurogênese, que é a formação de novos neurônios, e no hipocampo, região cerebral que reúne memórias ligadas a lugares e que produz diariamente novos neurônios em uma área chamada giro denteado.

Participaram do estudo, a professora assistente Risako Fujikawa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Kyushu, o ex-supervisor dela, professor Paul Frankland, da Universidade de Toronto, e uma equipe formada por estudantes e Adam Ramsaran.

“A neurogênese é importante para formar novas memórias, mas também para esquecer memórias. Acreditamos que quando novos neurônios se integram aos circuitos neurais, novas conexões são forjadas e conexões mais antigas são perdidas, interrompendo a capacidade de recordar memórias”, explica Fujikawa.

O estudo foi financiado pelos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde, pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência e pelos Institutos Nacionais de Saúde .

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