Após trabalhar durante boa parte da vida como diarista, Marli da Silva conseguiu, aos 63 anos, realizar o sonho de se formar em culinária com especialidade em pratos franceses e confeitaria. A conquista fez com que o filho dela fizesse uma homenagem nas redes sociais, que viralizou em poucos dias.
Marli pagava as mensalidades com parte do dinheiro que recebia das faxinas. Ela, que é moradora de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, contou que ia para o trabalho, na capital, e após o horário de serviço, ela seguia direto para o curso. Atualmente, ela trabalha em três casas
“Eu sempre quis fazer uma culinária, ser profissional e aprender coisas que nunca aprendi. Fui procurar e acabei encontrando. Eu fui, perguntei se me aceitava devido à idade e me aceitaram. Cheguei em casa e pensei ‘poxa, com as faxinas que eu faço dá pra juntar e pagar esse curso’. Foi o que eu fiz”, disse Marli em entrevista ao G1.
Apesar do cansaço, a cozinheira permaneceu em uma rotina tripla, que incluía o trabalho, o curso e educação dos dois filhos, durante três anos.
“Acabava a faxina, tomava meu banho e ia fazer meu curso das 18h às 22h. Deu tudo certo. Eu tinha que fazer esse esforço se eu queria. Tem que correr atrás, né?”, afirmou a diarista.
A garra da mãe motivou um dos filhos, Patrik da Silva, de 20 anos, a publicar uma homenagem nas redes sociais. Na conta do Twitter, ele compartilhou uma foto da mãe e a publicação tinha, até esta terça-feira (30), mais de 260 mil curtidas.
Ao G1, mãe e filho lembraram dos desafios durante as aulas e da felicidade ao concluir o curso. Para Marli, a realização do sonho acabou com diversos obstáculos.
“Dentro da cozinha, só tinha eu de negra. Além de ser negra, também com 60 anos. Eu tinha aula de francês também. Deu pra falar alguma coisa. Mas eles [colegas de turma] me respeitavam muito, foi muito bom, maravilhoso”, destacou a cozinheira.
Para Patrik, que é formado em informática, a rotina intensa que a mãe teve foi um exemplo não só para ele, mas para todos que duvidam dos próprios limites.
“Eu, como filho, fiquei muito feliz. Mesmo ela já tendo uma idade que, todo mundo acha que já não vale mais a pena ter nada, isso foi um exemplo. Cansada, ela ia pro curso. Chegava em casa era 23h e mesmo assim não deixava de ir”, contou o filho.
Ele ressaltou que, após Marli ter criado os dois filhos sem auxílio e ter dado o máximo de si durante toda a vida, a conclusão do curso é uma vitória.
“Se você tem uma mãe que é batalhadora, guerreira, que praticamente cuidou de você e do seu irmão sozinho, [ela] merece muitas coisas boas. Por mim, eu dou o mundo pra minha mãe, faço de tudo pra deixar ela no topo, porque ela merece. Ela merece até muito mais, mas eu vou dar o que puder e, o que eu puder fazer por ela, eu vou fazer. Eu amo muito essa mulher e ela merece o mundo”, destacou Patrik.
E mesmo já com diploma de culinária francesa e confeitaria, Marli ainda almeja mais conhecimento e acredita que não há idade para encarar novos desafios.
“Formada eu me sinto muito feliz, porque foi uma coisa que eu consegui, foi uma barreira que eu joguei por terra. Pra mim foi maravilhoso, é maravilhoso. Hoje me sinto muito orgulhosa por ter me formado e ainda pretendo aprender mais, porque preciso aprender muita coisa ainda, mas ainda há tempo para aprender e eu vou aprender”, comemorou a cozinheira. (Correios)