Fiuk curtiu a festa de sábado (20) do Big Brother Brasil usando maquiagem e um vestido, com uma calça jeans por baixo. Como sempre, o look que os participantes usam nas festas é escolhido pela produção, mas com base no que eles costumam usar normalmente — e Fiuk já apareceu algumas vezes usando saia ou vestido na casa.
Mas, ontem, a roupa do filho de Fábio Jr. foi alvo de comentários negativos de Rodolffo. Em conversa com Gil, Fiuk chamou o cantor sertanejo de machista e disse que ele já fez críticas sobre suas roupas e seu cabelo em outras ocasiões.
A consultora de imagem e moda Ana Vaz no entanto, lembra que ao longo da história é recorrente o uso de saias e túnicas por homens, e que faz apenas dois séculos que essas peças deixaram o vestuário masculino para serem usadas apenas por mulheres.
“O homem usa saias pelo menos desde o Antigo Egito”
“Existem muitos elementos de adorno que, ao longo da história, foram compartilhados por homens e mulheres — e a saia é um deles”, lembra. “Isso foi abandonado no século 18, quando a alfaiataria masculina ganha forma e simplifica a modelagem para os homens, que passam a usar apenas ternos”.
Ana Vaz explica que as roupas sempre foram usadas para indicar o papel dos indivíduos na sociedade. Para os homens, as calças eram um símbolo de que ele tem o poder de ir para a rua, trabalhar e ter dinheiro, enquanto as mulheres ficavam em casa, com roupas muito adornadas, e que não permitiam muita mobilidade.
“Quando a gente vê homens usando saia no século 21, ainda há represália, porque a roupa feminina ainda é vista como uma roupa de alguém que tem menos poder”.
A consultora de estilo conta que na história do Brasil não há um só momento em que tenha sido costume que homens usassem saias. Isso porque a moda por aqui sempre foi inspirada na Europa, onde o visual masculino é simplificado e sem adornos, normalmente com linhas retas e cores escuras.
Para ela, as críticas de Rodolffo a Fiuk por usar saia são machistas, mas refletem o pensamento de grande parte da sociedade.
“A fala do Rodolffo é machista, sim, e mostra o machismo na estrutura em que a gente vive, o desconforto que pode gerar um homem usando saia”, acredita. “Infelizmente, para a esmagadora maioria das pessoas, a saia é algo relacionado ao feminino. Quando a gente olha para história da moda, a gente sabe que não, mas na nossa cultura, muito pautada nessa divisão, ainda é”.
Século 21 e a moda agênero Ana Vaz lembra que as saias masculinas começam a aparecer nas passarelas em meados de 2005, em desfiles de Jean Paul Gaultier e Marc Jacobs, e que só ganhou as ruas de 2010 para cá — “mas sempre com uma cara masculina, digamos, de tecidos estruturados, linhas retas, cores escuras e estampas muito ligadas ao universo da alfaiataria, como listras e xadrez”, pondera.
“A geração Z e parte dos millennials são muito mais tranquilos em relação à própria sexualidade, e isso reflete na moda. Hoje, a gente vê uma geração que olha com muito mais tranquilidade para essa moda que a gente chama de agênero, e que não se vê afetada de maneira negativa pelo uso da roupa feminina”, diz.
“O Fiuk usa muitos elementos que ainda são associados ao gênero feminino — além dos vestidos, tem a maquiagem e, às vezes, as unhas pintadas. Mas, em geral, ele faz como outros homens: leva esses códigos associados ao feminino para um visual masculino. Um dos vestidos que ele levou para a casa, por exemplo, é preto, bem reto e sem brilho nenhum”.
A consultora de moda diz que, como Fiuk, outras personalidades apostam no “empréstimo” de códigos tidos atualmente como femininos ao visual masculino — é o caso de Bruno Gagliasso, Harry Styles e Jaden Smith. (UOL)