Uma das três mulheres indicadas pelo governador eleito Jerônimo Rodrigues para seu novo secretariado, na tarde de segunda-feira (19), foi Adélia Pinheiro, atual secretária da Saúde, que assumirá a Secretaria da Educação. Adélia chegou ao governo da Bahia em 2019, indicada por Rui Costa para a Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secti), onde permaneceu até fevereiro deste ano, até ser deslocada para a Sesab. Ela é médica de formação e doutora em Saúde Coletiva. É professora efetiva da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), instituição da qual foi reitora por dois mandatos.
Apesar de conhecida no meio institucional, o novo nome da Educação na Bahia é desconhecido dos profissionais da rede estadual. Professores reagiram à escolha. A formação em medicina e o desconhecimento do “chão da escola” são as principais questões destacadas.
“Esperávamos uma secretária ou um secretário que fosse do chão da escola. Em um contingente de mais de 30 mil docentes que temos na rede pública, nós, com certeza, temos pessoas com condições para fazer esse trabalho. A expectativa que eu particularmente tinha era que esse grupo que está no poder dissesse ‘nós erramos, esquecemos ou negligenciamos a educação pública popular da Bahia, e agora nós iremos nos dedicar a fazer essa correção’. Não uma correção de obras, mas uma construção pedagógica, que realmente olhasse para as pessoas”, destacou ao CORREIO Marco Aurélio, professor do Centro Territorial de Educação Profissional Da Bacia do Rio Corrente, em Santa Maria da Vitória, no oeste da Bahia.
Marco Aurélio é professor da rede estadual há 22 anos. Durante a pandemia, com o intuito de expandir reflexões e questionar situações pontuais na educação baiana, ele criou perfis no Instagram, onde atualmente acumula mais de 14 mil seguidores, e no YouTube. A indicação de Adélia foi um dos assuntos abordados pelo perfil no Instagram na segunda-feira. Até a publicação desta matéria, o post acumulava mais de 180 comentários.
“Uma indicação bem simbólica: uma médica para atender uma educação na UTI. Espero que os paliativos sejam poderosos”, escreve Ivan Espinheira. Rosa Santos questiona: “Alguns estão falando que ela foi reitora, mas ela tinha formação para ser reitora? Desde quando ser reitora se torna conhecedora de educação básica?”.
“Uma falta de respeito para quem de fato milita pela educação. E por que não escolheu um educador ou educadora que conhece a realidade da educação. Por quê?”, continua Genivaldo.
O diretor-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB-Sindicato), Rui Oliveira, também comentou a escolha e ratificou que a categoria não foi consultada. “Se foi indicada, eu desejo sucesso. Espero que ela possa ouvir as pautas dos trabalhadores da educação. A APLB não foi chamada hora nenhuma. Ser reitora não significa que entende da educação básica. Nós temos uma série de problemas. Espero que nós sejamos ouvidos, o que não aconteceu no governo Rui Costa”, disse Oliveira à reportagem.
A lista de desafios da nova secretária é bastante extensa e vai desde melhorar os indicadores da educação básica a trabalhar na perspectiva de resolver o problema histórico do analfabetismo.
Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados em setembro deste ano, mostram a Bahia em penúltimo lugar no ranking de aprendizagem de Português e Matemática.
Em 2019, ano da última avaliação, a Bahia tinha nota de 4,1 na aprendizagem das duas mais importantes disciplinas, resultado que a colocava em 22º lugar. Em 2021, o índice caiu para 3,96, o que fez o estado despencar para a 26ª posição, à frente apenas do Maranhão (3,92).
A nota do ensino médio da rede estadual é a quarta pior do Brasil, ao lado de Alagoas e Maranhão (ambos também com 3,5). O desempenho da Bahia só é melhor que o do Amapá (3,1), Pará (3,0) e Rio Grande do Norte (2,8).
Já o presidente do Conselho Estadual de Educação, Paulo Gabriel, avalia a escolha de Adélia como “acertada”. “A professora Adélia é uma referência na educação tanto por sua contribuição na organização dos cursos da área de saúde como pelo seu reitorado inovador e inclusivo na Uesc. Ela é de uma família de educadores do sul da Bahia cuja contribuição ao magistério sempre nos orgulhou”, analisou. (Correio)