Gatos são mortos por envenenamento em condomínio de luxo em Camaçari

Foto: Divulgação

De dezembro do ano passado até agora, cerca de 18 gatos foram encontrados mortos em um condomínio de luxo em Camaçari. Os moradores providenciaram a necrópsia de oito corpos e a causa da morte foi identificada como envenenamento por chumbinho, um produto que tem comercialização proibida no Brasil e é altamente perigoso para animais e seres humanos. Outros 14 felinos estão desaparecidos. 

Esses animais, originalmente de rua, vinham sendo alimentados e cuidados por moradores do condomínio de casas Parque Interlagos, onde os crimes aconteceram. O local é cercado por uma área de proteção ambiental estadual (APA do Rio Capivara), o que aumenta a gravidade do uso de um veneno que pode estar atingindo também animais silvestres, como macacos e saruês.

No dia nove de dezembro, a moradora Karine Gidi, de 40 anos, encontrou 11 gatos mortos próximos à sua casa. “Foi terrível. Eu chorava o tempo todo, fiquei desolada. Eu cuidava deles desde que eram filhotinhos, conhecida cada um pelo nome. Morreram sem nem completar um ano”, lamenta. Segundo ela, nos últimos dias de dezembro, outros bichos também foram encontrados e a partir disso as mortes não pararam mais. Na última semana, mais dois corpos foram achados.

Karine acredita que o criminoso tenha colocado o chumbinho nos potes de água e comida que ela costuma deixar na porta de casa para os gatos. Um dos potes utilizados desapareceu após os casos de envenenamento. “Eu acredito que a pessoa tenha levado por temer que a gente levasse para a perícia também”, opina. 

Segundo a condômina Celeste Jambeiro, de 71 anos, já chegaram a morrer cerca de dois a três gatos por noite. Uma gata que ela cuidava desapareceu deixando três filhotes, que ficaram sob a proteção de Celeste. “Com certeza, mataram. Quem faz isso se esconde, é uma pessoa covarde mesmo, que não tem nenhum sentimento, nem pelo sofrimento do gato nem pela dor dos humanos que gostam e cuidam”. A moradora acrescenta que, além dos oito animais que já passaram por autópsia e tiveram a causa da morte por chumbinho comprovada, outros ainda aguardam pelo resultado. 

Para Sílvia Lobo, de 67 anos, os animais estão sendo mortos na casa de um ou mais moradores, que atraem os bichinhos com comida. “A gente acha que eles estão sendo atraídos com alguma comida com cheiro forte, porque eles não entram em qualquer casa, só na que eles já têm costume”, diz ela. 

Sílvia ainda ressalta que é difícil contabilizar o número de gatos mortos e que a quantidade pode ser ainda maior. “Quando alguma coisa ruim acontece, eles procuram abrigo com alguém que eles confiam. Mas os gatos da rua não têm para onde correr, ficam assustados e tentam se esconder em qualquer canto e acabam mortos por aí ou até mesmo na própria casa do assassino e ninguém vê. E quando encontra os gatos, o pessoal joga no lixo e pronto”, completa.

Apego

A moradora Cristina Soares, de 71 anos, reforça que as mortes com requinte de crueldade são bastante dolorosas para quem tem amor pelos animais. “As crianças se apegam aos gatos que às vezes amanhecem mortos na porta das casas. Elas choram muito, é difícil para elas entenderem isso. A criança brinca com um gato castrado, saudável, bem alimentado, aí de repente ele aparece morto. É uma morte horrível. Todo mundo acaba sofrendo e chorando, não só as crianças”, ressalta ela, que lembra também que o chumbinho pode ser um perigo para os pequenos que brincam pelo condomínio.  

Celeste ainda diz que os gatos são um incômodo para alguns moradores, que reclamam da grande quantidade de bichos no local. “Algumas pessoas reclamam que o sofá da varanda aparece com pelo de gato e que vão fazer churrasco e, quando deixam a carne no quintal, o gato vai e come. Mas nós estamos na natureza, são casas, existem bichos aqui. São gatos, mas poderiam ser outros bichos também. A gente precisa aceitar e conviver, é só não deixar a comida exposta do lado de fora. É até uma questão de higiene”, pontua ela. 

Problema antigo

Os condôminos contam que esse tipo de crime não é novidade por ali. Sílvia tem uma casa de veraneio no local há cerca de 30 anos e vê gatos sendo mortos há bastante tempo. “Todo ano, quando eu chegava aqui com meus gatos, eles desapareciam. Era como se quisessem limpar o condomínio no verão. E eu já tive vários gatos meus que vieram morrer aqui dentro de casa nos anos anteriores. Eles chegavam com os olhos esbugalhados, ficavam vomitando e não dava tempo nem de eu fazer nada”, relata.  

Celeste, citada no início da reportagem, também vem relatando maus tratos aos animais desde que se tornou condômina. “Nós já tivemos casos de agressões aqui há algum tempo, aí chegamos a levar no veterinário e ficou tudo bem. Em um ou outro caso alguém chega com um facão e corta o gato. Mas os casos mais frequentes são os envenenamentos, que ficaram ainda mais frequentes ultimamente”, diz ela. 

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