O Brasil é o país em que terminar o ensino superior garante a maior vantagem salarial em relação ao ensino médio completo e ao incompleto, entre 37 avaliados pela OCDE, grupo de nações entre as mais ricas do mundo.
O dado faz parte de um estudo lançado nesta terça (8), com estatísticas comparáveis sobre educação em 46 países -além dos 38 membros da organização, foram incluídos dados de Brasil, China, Rússia, Índia, Indonésia, Argentina, Arábia Saudita e África do Sul.
Graduar-se numa faculdade garante ao brasileiro uma remuneração média 144% acima da dos que terminaram o ensino médio. Em comparação com os que não concluíram o ensino médio, a remuneração dos graduados é mais que o triplo (258% acima).
A vantagem obtida com um diploma de faculdade no Brasil fica muito acima da média dos países da OCDE, de 54% e 89%, respectivamente.
A Finlândia tem a situação mais igualitária: na média, as remunerações de quem se graduou são 35% e 33% maiores que as de quem tem ensino médio incompleto ou completo (no país escandinavo, a renda de quem não terminou o segundo grau é pouco mais de 1% maior que a dos que terminaram).
O Brasil é também o país com menor participação de estudantes em ensino profissionalizante, tema prioritário desse relatório da OCDE. São 4% dos brasileiros, ou um quarto da média da entidade (21%).
Na Estônia, 1 a cada 3 alunos (35%) segue um curso profissionalizante: o país báltico tem a maior porcentagem entre os avaliados.
Considerando apenas o ensino médio, 11% dos brasileiros seguem a formação profissionalizante, contra 42% na média da OCDE.
Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, a organização focou esse ramo da educação porque ele é “frequentemente negligenciado em favor de rotas acadêmicas mais prestigiosas e escanteado nos debates de políticas educacionais”.
O estudo mostra que, em todos os países da organização, a taxa de jovens que segue o ensino profissionalizante é menor que a da geração de seus pais: 21% para os que têm agora de 25 a 34 anos, contra 26% para os que são 20 anos mais velhos.
Ao mesmo tempo, cresceu a porcentagem dos jovens de 25 a 34 anos que cursam uma universidade. Eles agora são 45%, contra 35% dos que tinham a mesma idade há 20 anos.
“Isso deve em parte refletir as perspectivas de longo prazo no mercado de trabalho”, afirma Gurría. Os dados mostram que, embora os que seguem um curso profissionalizante se empreguem mais que os que fazem segundo grau comum ao final do ensino médio, com o tempo essa vantagem se perde.
Na média dos países da OCDE, a taxa de emprego dos formados em cursos profissionalizantes é de 82% na faixa dos 25 a 34 anos, e de 83% na dos que têm de 45 a 54 anos de idade.
Já entre os que concluem o segundo grau regular, o índice de emprego é de 73% entre os 25 e os 34 anos, e de 80% dos 45 aos 54.
A empregabilidade dos que fazem um curso superior é na média de 83% entre os mais jovens, mas supera os 90% no grupo mais maduro, segundo a OCDE.
Em relação aos salários, o trabalho mostra que os que fizeram um segundo grau profissionalizante ganham valores equivalentes aos que seguiram o ensino médio regular.
Mas essa média de salários oculta grande variação. Em países como França, Alemanha e Reino Unido, os que fizeram uma qualificação geral no ensino médio chegam a ganhar de 15% a 20% mais que os de cursos profissionalizantes.
Em geral, o salário cresce muito mais ao longo da vida quanto maior o nível educacional. Na média da OCDE, jovens de 25 a 34 anos podem esperar um rendimento 50% daqui a 20 anos se concluírem a faculdade, mas apenas 20% maior se fizerem o ensino médio e 10% se não concluírem o segundo grau.
Considerando uma mesma geração de estudantes formados no segundo ou no terceiro grau, em três anos a diferença de rendimento entre eles já é de 62% na média da OCDE, com uma variação de pouco menos de 24%, na Noruega, para mais de 100% no Chile, na Turquia e na Lituânia.
O estudo considera o rendimento bruto de trabalhadores em tempo integral e em tempo parcial, sem controlar o número de horas trabalhadas. Na maioria dos países, não estão incluídos informais e autônomos.
A OCDE também ressalva que não considera na análise a existência de serviço público gratuito: “Os salários podem ser menores em alguns países, mas os trabalhadores podem receber educação e saúde gratuita, por exemplo”.
A perspectiva de um salário maior não necessariamente leva ao ensino superior os estudantes profissionalizados.
Embora em 70% dos países da organização os cursos profissionalizantes permitam a progressão para faculdades ou universidades, a maioria de seus egressos não continua sua formação, segundo a organização.
Por outro lado, afirma o secretário-geral da OCDE, os trabalhadores que saem de cursos profissionalizantes são fundamentais para a recuperação do emprego e do crescimento da economia em geral.
“Muitos deles foram também a espinha dorsal da vida social e econômica durante os confinamentos para controlar a epidemia de Covid-19”, afirmou.
Para Gurría, os cursos profissionalizantes precisam se adaptar “à crescente imprevisibilidade do mercado, por causa dos avanços tecnológicos e da automação”.
O estudo da OCDE mostra que os alunos de segundo grau profissionalizante abandonam mais a escola que os que cursam a formação regular. O Brasil segue a mesma tendência: 48% dos jovens termina o ensino médio técnico, contra 53% dos que cursam o geral. (Bahia Notícias)