Pessoas com habilidades artísticas e esportivas levam uma ligeira vantagem na disputa por parceiros do sexo oposto
Pessoas com habilidades artísticas e esportivas levam uma ligeira vantagem na disputa por parceiros do sexo oposto e na concorrência com gente do mesmo sexo, indica uma pesquisa feita por cientistas do Brasil, da República Tcheca e do Canadá.
Os dados, que foram obtidos com quem pratica atividades atléticas e artísticas de forma não profissional, dão mais peso à ideia de que a arte e o esporte surgiram, em parte, graças à chamada seleção sexual. Trata-se de um dos mecanismos mais importantes da evolução dos seres vivos, proposto originalmente pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882).
As conclusões foram publicadas em edição recente do periódico especializado Frontiers in Psychology. Entre os autores da pesquisa está o casal formado pela tcheca Jaroslava Varella Valentova e pelo brasileiro Marco Antonio Correa Varella, ambos ligados ao Departamento de Psicologia Experimental da USP, onde Valentova é professora e Varella é pesquisador de pós-doutorado e professor visitante.
Para o estudo, a equipe recrutou um total de 852 voluntários de ambos os sexos, dos quais 248 eram brasileiros e o restante eram naturais da República Tcheca. A idade média dos participantes ficou em torno dos 27 anos, e os incluídos na pesquisa eram todos heterossexuais -isso porque outros estudos haviam mostrado que os processos ligados à seleção sexual são diferentes em pessoas que se sentem atraídas por parceiros do mesmo sexo.
Conforme explica Varella, é comum dividir o funcionamento da seleção sexual em duas vertentes: “ornamentos” e “armamentos”. O primeiro pilar é bem conhecido de todas as pessoas que já viram um pavão. As características muito chamativas dos membros de um dos sexos (frequentemente, o masculino, embora existam muitas exceções) servem como um sinal de que o indivíduo é forte e saudável, já que seu organismo é capaz de “investir” na ornamentação espalhafatosa. Portanto, ele seria um excelente parceiro.
Já os “armamentos” são, por exemplo, os chifres de carneiros-monteses ou cervos-do-pantanal, ou a massa de músculos dos gorilas e elefantes-marinhos machos. Funcionam como mecanismo para estabelecer uma hierarquia (com base em disputas de exibição ou físicas) entre os membros de um dos sexos, a qual, por sua vez, dá a eles um acesso maior a parceiros do outro sexo.
“É esperado que exista uma relação mais forte entre as formas de seleção sexual e as capacidades de artistas e atletas profissionais. Isso porque eles não só chegam a maiores níveis de proficiência e performance, o que aumenta o efeito de ‘ornamento’ e ‘armamento’ de suas capacidades, mas também porque eles se aproveitam da fama e da exposição como figuras públicas”, diz o pesquisador da USP.
No entanto, a aposta dos pesquisadores era que as habilidades de pessoas normais também têm um impacto nessa seara. Para isso, eles usaram um questionário criado para medir indicativos indiretos de seleção sexual –por exemplo, a quantidade de parceiros que a pessoa já teve, a sua facilidade de ter sucesso na paquera, sua competitividade com pessoas do mesmo sexo etc. Depois, cruzaram esses dados com questões sobre as capacidades das pessoas em uma série de atividades artísticas –escrita criativa, desenho, canto, tocar um instrumento etc.– e habilidades esportivas.
A análise estatística dessa massa de dados indica que, no caso das mulheres, as atividades artísticas parecem funcionar tanto como “ornamento” quanto como “armamento”, enquanto entre os homens as associações mais claras são entre a arte e os “armamentos”.
Já no caso dos esportes, ambos os aspectos estão presentes entre os homens, enquanto o lado de “armamentos” predomina entre as mulheres.
“A função dupla de ornamento e armamento para ambos os tipos de capacidades é algo inédito”, diz Varella. Ele também destaca que os novos estudos corroboram outros que mostram um papel maior das habilidades esportivas no caso masculino e, do lado artístico, um papel maior para o canto e a dança no caso das mulheres e da performance de instrumentos musicais no caso dos homens. (bn)