Uma ida ao Hospital municipal Rocha Faria, em Campo Grande (RJ), para retirar um gesso do braço, se tornou um pesadelo para a aposentada Alda Waltz Lisboa, de 93 anos, nesta quarta-feira (15).
Com uma tesoura, um funcionário, responsável por retirar o material, ignorou o fato de Alda reclamar de dores e afirmou que era “impossível” que ele a estivesse cortando, pois o material “não tinha ponta”. O resultado até agora está exposto no braço da idosa: 18 pontos. A imagem é forte.
— Quando ele começou a cortar na reta da mão dela, ela reclamou que estava sendo cortada e ele continuou. Quando chegou próximo ao cotovelo, ele disse que o que ela estava sentindo era o gelado da tesoura, mesmo com ela chorando, e afundou a tesoura. Foi quando fez o corte mais fundo no braço. Quando ele retirou a atadura e viu a quantidade de sangue, ficou muito nervoso e saiu dizendo que era “superficial” e chamando um outro enfermeiro para fazer o curativo — conta Thaísa Gazoni Waltz, sobrinha-neta de Alda, que estava com ela quando tudo aconteceu.
— Ele respondeu que era impossível estar rasgando porque a tesoura era sem ponta e continuou mesmo assim — acrescenta Ully Waltz, sobrinha-neta da idosa.
Thaísa diz que, no momento, se sentiu impotente, e que foi tudo muito rápido. Quando ela percebeu o que havia acontecido, diz que sentiu que deveria manter a calma pelo bem da avó.
— Eu sinceramente não sabia como reagir, o que fazer. Fiquei muito nervosa quando vi o braço dela, mas não fiz escândalo, não gritei, não debati nem nada, porque ela estava muito assustada, óbvio, sentiu muita dor e estava chorando. Por ela ser bem idosa fiquei com medo dela passar mal do coração, então, tentei manter a calma. Meu pai, que levou a gente lá, ficou muito estressado e vai entrar na Justiça contra o Hospital. Estamos indignados. Do meu lado sinto impotência, por ter permitido que isso tivesse acontecido, mas foi tudo muito rápido — relata Thaísa.
Segundo a família, quando viu o sangue e a gravidade do que havia feito, o profissional, identificado por eles apenas como Marcelo, um homem de meia idade, chegou a afirmar que a pele dela era “muito flácida” e, em seguida, tentou rapidamente tapar o machucado com gaze, dizendo que era superficial. Foi quando ele, então, teria chamado um outro enfermeiro, que disse que ela precisava urgentemente ir à sala médica para receber pontos.
— A médica ficou abismada com o que ele havia feito e sugeriu que eu fosse à ouvidoria do hospital — conta.
— Foi uma situação de muito descaso… mas ontem mesmo minha prima foi à ouvidoria na direção, e eles nos garantiram que não ficaria impune, e que foi de fato uma coisa muito séria. Em seguida, fomos à 35 ªDP, onde registramos o caso. Amanhã (sexta-feira) ela vai fazer o corpo de delito, porque não tinha condições de nos acompanhar na polícia durante tanto tempo. Nós queremos que ele seja punido de alguma forma, não pode ficar assim — conclui Ully.
Por fim, nesta quinta-feira, as primas contam que dona Alda entrou em contato com elas contando que o Hospital Rocha Faria disponibilizou dois enfermeiros e assistentes sociais após o ocorrido.
— Ela agora está bem, dentro do possível, em casa. Mas com 18 pontos no braço. Ela não tem noção do quão grande foi o corte nem tem muita noção, também, do que aconteceu. Foi uma cena de terror. Ela chorava e ele continuava cortando… e eu não consegui intervir — se emociona Thaísa.
Procurada, a direção do Hospital municipal Rocha Faria respondeu em nota que lamenta profundamente o que aconteceu com a Sra. Alda, pediu desculpas à idosa, e afirmou que já iniciou uma investigação interna sobre a conduta do profissional, que, durante o processo, ficará afastado de suas funções. Confira:
A direção do Hospital Municipal Rocha Faria lamenta profundamente o que aconteceu com a Sra. Alda e informa que já iniciou uma investigação interna sobre a conduta do profissional. Durante o processo, ele ficará afastado das suas funções. A unidade não tem compromisso com o erro, nossa obrigação é prestar o melhor atendimento, ouvindo sempre o paciente. A direção pede desculpas à Sra. Alda e à sua família e já ofereceu toda assistência necessária e apoio diante desse acidente lamentável. Uma enfermeira e uma assistente social foram à casa da paciente nesta quinta-feira para realizar a troca do curativo e apoio para a família. O coordenador de enfermagem também esteve com os familiares para pedir desculpas pessoalmente em nome da direção do hospital. As visitas serão diárias até que ela se recupere. Os próprios familiares usaram suas redes sociais para informar que toda a assistência está sendo prestada.
A Polícia Civil ainda não retornou à reportagem.
(O Globo)