Igrejas não devem ordenar ao pastorado pessoas com problemas psicológicos, diz pastor amigo de Jarrid Wilson

Foto: Reprodução

A morte do jovem pastor Jarrid Wilson em decorrência de uma profunda depressão continua suscitando o debate no meio cristão (relembre aqui). Dale Partridge, pastor e plantador de igrejas domésticas e amigo íntimo de Wilson, afirmou que a Igreja não deve colocar pessoas com problemas psicológicos no ministério pastoral.

Dale contou que Wilson expressou o desejo de deixar o cargo de alta pressão como pastor auxiliar da megaigreja Harvest Christian Fellowship antes de seu suicídio. A ideia era se dedicar à sua ONG que cuida de pessoas com problemas psicológicos como a depressão.

Duas segundas-feiras atrás, Jarrid Wilson tirou a própria vida, horas depois de dirigir um culto fúnebre de uma jovem que havia cometido suicídio. Para Dale Partridge, é “imprudente” e antibíblico as igrejas colocarem alguém em uma posição de liderança que esteja lutando mentalmente ou que tenha sérias dúvidas sobre sua fé.

“Como todos observamos, homens que são colocados em papéis de pastores nas igrejas estão cometendo suicídio e apostasia pública em uma frequência alarmante. Esses homens também não tiveram lutas secretas. Quase todas essas tragédias recentes foram realizadas por homens que confessaram abertamente sua doença mental e dúvidas de doutrina. A pergunta de um milhão de dólares é a seguinte: por que as igrejas colocam homens, que são tão sinceros com seu atual fracasso, em posições de liderança?”, questionou Dale, em uma publicação feita no Instagram, que posteriormente foi removida.

“A Bíblia nos dá instruções muito claras sobre as qualificações de um pastor na igreja (I Tim 3 e Tito 1). Eles pedem que um homem seja sóbrio, autocontrolado, doutrinariamente sólido, disciplinado, provado, santo (a lista continua). Igreja, não é aceitável ou tolerável ou compreensivo ou compassivo contratar um homem para pastorear um rebanho do povo de Deus que está lutando abertamente com doenças mentais. É antibíblico, é imprudente, é perigoso e, como vemos, é um alvo fácil para o inimigo”, acrescentou o pastor.

“Se o seu pastor admitiu um estado de doença mental, ele precisa ser discipulado, não discipular os outros. Ele precisa de descanso físico, não de intenso trabalho espiritual. Ele precisa de privacidade, não de publicidade. Ele precisa de oração diligente, sem pressão esmagadora. Ele precisa deixar o cargo, não ser levantado. Quando um oficial cai, muitos caem abaixo. Traz confusão, dúvida, medo e uma ladainha de preocupações para os que estão abaixo”, continuou o pastor.

“Deus nos deu instruções claras nas Escrituras que oferecem proteção à Sua igreja. Toda vez que decidimos quebrar Seus mandamentos, apenas nos quebramos. Um pastor não é simplesmente alguém que está disposto. Um pastor não é simplesmente alguém que é talentoso. Um pastor não é simplesmente alguém que é educado. Ele é um homem que atende a todas as qualificações de Deus. Isso não é legalismo ou militância bíblica. Isso é segurança para a Igreja de Deus. É hora de acordar”, alertou.

Polêmica

De acordo com informações do portal The Christian Post, a publicação de Dale Partridge obteve quase sete mil reações na última quarta-feira, 18 de setembro, pela manhã. As duras palavras do pastor desencadearam um debate imediato na rede social.

“Conheço JW desde que ele esteve brevemente na equipe de High Point, em Memphis. Espero que suas palavras incentivem e impeçam aqueles de fazerem a mesma escolha”, comentou Jamie Parker.

No entanto, houve quem abordasse o assunto pelo lado médico, deixando de lado a questão bíblica levantada pelo pastor. “Dale, como psicóloga clínica e cristã que também atuou no ministério, devo dizer que acho que este post vem de um lugar de ignorância e favorece o estigma da saúde mental. Nos EUA, quase metade de todos os adultos experimentará uma doença mental durante a vida. Isso é porque vivemos em um mundo quebrado. A Igreja não precisa de pastores perfeitos (eles não existem), precisa de pastores conectados a Deus, [que] amam as pessoas, fazem o trabalho necessário para serem saudáveis, incluindo obter ajuda e que reconhecerem sua própria humanidade e imperfeição”, escreveu a dra. Therese, psicóloga clínica cristã licenciada.

“Eu imploro que você adquira mais sabedoria na área da saúde mental e considere o quão prejudicial seu falso ensino é para a Igreja. Com todo o respeito, segurança para a Igreja significa reconhecer que você e suas palavras de julgamento, vergonha e estigmatização estão erradas”, disparou a psicóloga.

A partir dessa crítica, Dale Partridge comentou a própria publicação para contextualizar seu posicionamento. Ele explicou que Jarrid Wilson tinha sido “um verdadeiro amigo por muitos anos” e que sua opinião não era uma tentativa de ser insensível ou imprudente com seu aviso.

“Conversamos apenas sete dias antes de sua morte. Chorei o dia em que ouvi. Chorei na manhã seguinte. Não houve um dia desde que sua morte não tenha consumido minha mente. Nosso lar se reúne todas as manhãs para orar por sua esposa e filhos nesta época difícil. Por fim, quero que você saiba que estou verdadeiramente com o coração partido”, disse ele.

Histórico:

Dale chegou a trabalhar na megaigreja Harvest Christian Fellowship por 18 meses anos atrás, e essa situação contribuiu para que Jarrid Wilson compartilhasse com ele seu incômodo pela alta carga de trabalho da função de pastor auxiliar da igreja, algo que ele conhecia de perto.

“Devido à minha última conversa com Jarrid, meu desgosto rapidamente se transformou em raiva. Em nosso chamado, enquanto Jarrid amava seu ministério, ele expressou a intensidade e a opressão que estava experimentando em sua posição de pastor sobre os jovens adultos de Harvest. Como pastor, sou totalmente empático com as incríveis exigências físicas, emocionais, mentais e espirituais do ministério pastoral. O pastoreio é um dos chamados mais difíceis da vida humana”, disse ele.

“Jarrid estava sofrendo e ele foi muito aberto sobre isso. Mais do que isso, ele me disse que estava pronto para deixar o ministério pastoral de tempo integral. O que ele realmente queria era gastar seu tempo com sua verdadeira paixão – ajudar as pessoas a se curarem de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas através de sua organização sem fins lucrativos, a Hino da Esperança. O telefonema dele para mim na semana passada foi centralizado nessa transição. Ele queria que minha ajuda mudasse de onde estava para onde queríamos estar. Ele precisava descansar e sabia disso”, justificou-se.

Mais adiante, Dale Partridge explicou que por causa de quão fiel e apaixonado Jarrid Wilson era por seu trabalho, ele nunca desistia. “Ele é um bom soldado. Pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo. Sem reclamar. Apenas pura fidelidade”, escreveu, acrescentando que deixar Wilson conduzir o funeral de uma jovem que tinha se suicidado foi um erro, já que a direção da igreja sabia de seus problemas.

“Quando soube que Jarrid fez um funeral para uma pessoa que cometeu suicídio apenas 24 horas antes de seu próprio suicídio, isso aumentou a minha frustração. Embora eu não saiba se a igreja solicitou que ele cumprisse esse dever ou se ele se ofereceu por conta própria, acredito que é, no mínimo, um alerta para mais sabedoria, responsabilidade e um processo para identificar e ajudar a eliminar pontos de gatilho para quem está servindo, sofrendo e não desiste”, afirmou.

“Meu post é simplesmente um apelo à reforma da Igreja, de acordo com as Escrituras. É minha opinião e experiência que as igrejas hoje centradas no público deixarão os pastores crus. Sirva, trabalhe, ame, realize e sacrifique até que você não possa mais fazê-lo. Ao longo dos anos, eu ouvi muitos pastores (que são mal pagos) falando sobre sua necessidade desesperada de uma pausa, mas não têm meios financeiros para alcançá-la. Em outras palavras, construímos uma máquina institucional para igrejas que não acomoda, mas compromete a saúde que a Bíblia requer para os pastores no Novo Testamento”, finalizou.

Por Tiago Chagas – Gospel Mais

google news