Infectologista explica quais doenças infecciosas podem assolar o RS por conta das enchentes

Além dos estragos causados pelas enchentes no RS, a população está vulnerável a uma série de doenças infeciosas, como explica o médico infectologista Rodrigo Douglas Rodrigues

Foto: Cabo Sério Gatner/CBMSC/Divulgação

A vida no Rio Grande do Sul deve demorar a voltar a normalidade, por conta dos estragos causados pelas enchentes, que atingem moradores de vários municípios gaúchos, desde o início do mês. Além das inúmeras preocupações e danos que afetam milhões de pessoas, a saúde pública ainda vai demandar atenção durante e pós inundações. Isso porque, as pessoas ficam expostas a uma série de doenças infecciosas.

É o que explica o médico infectologista do Hospital Universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Rodrigo Douglas Rodrigues.

Com as enchentes as pessoas ficam vulneráveis ao surgimento de várias doenças, que vão desde leptospirose, covid-19 até a dengue.

Doenças que podem surgir por conta da água contaminada

Segundo o infectologista, em enchentes é comum que ocorra contaminação da água por bactérias, vírus e protozoários. Esse contágio acontece devido ao contado da água com a rede de esgoto ou até mesmo com animais e outros detritos.

“O contato humano com essa água, seja por via cutânea, íntegra ou comprometida, ou mesmo a ingesta oral acidental, pode propiciar infecção com agentes de doenças como leptospirose, doenças diarreicas agudas causadas por vírus ou bactérias (incluindo Salmonella), verminoses, hepatites virais (principalmente hepatite A e hepatite E), toxoplasmose, dentre outras. Além disso, a circulação em áreas alagadas aumenta o risco de lesões cutâneas e infecções bacterianas de peles e partes moles”, explica o médico.

No caso do contato prolongado com a água contaminada ou de em casos de lesões de pele extensas, o médico considera usar a profilaxia antibiótica contra leptospirose. “Importante ressaltar que essa medida não deve ser usada rotineiramente para todos, uma vez que a eficácia da profilaxia não está bem estabelecida, além do risco de desabastecimento do medicamento e reações adversas”, alerta.

Rodrigues ainda reforça que também podem aumentar os casos de tétano, pelas condições que a população está exposta.

Aglomerações também aumentam o risco de doenças

A chuva fez muitas pessoas deixarem seus lares para buscar locais seguros. Segundo dados do governo estadual gaúcho, atualizados até as 9h desta quarta-feira (15), 76,5 mil pessoas estavam em abrigos.

Essa aglomeração, segundo lembra o médico, também deixa as pessoas mais expostas e “aumenta o risco de disseminação de vírus respiratórios, como Covid-19, Influenza, Adenovírus e Vírus sincicial respiratório, que são bastante prevalentes nesse período do ano, principalmente na população pediátrica e em idosos”.

Situações de aglomerações também demandam alerta para possíveis surtos de sarna e piolhos.

Doenças transmitidas por mosquitos

Outra preocupação que as enchentes causam é a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti.

“O alagamento de áreas urbanas por períodos prolongados também predispõe a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos, principalmente a dengue, a qual ainda é endêmica na região”, alerta o infectologista.

Ações preventivas

Com cenário caótico e de muita incerteza, as pessoas e o governo precisam se organizarem para tentarem minimizar a situação e evitar que a população adoeça.

O médico lembra que, nessa situação, o mais recomendado é seguir as orientações da Defesa Civil. “Saia de áreas alagadas ou de risco e que evitem o contato com a água contaminada”, orienta.

Já para quem está na linha de frente, auxiliando nos salvamentos e que o contato com a água será inevitável, a recomendação do profissional é para usar equipamentos de proteção individual, como botas de borracha, luvas e roupas impermeáveis.

O infectologista reforça a importância de evitar o consumo de água contaminada e de lavar bem os alimentos. Pois, essas ações contribuem para a prevenção de doenças.

“Além disso, manter a vacinação atualizada contra tétano, hepatite A, COVID-19 e Influenza também é estratégico para reduzir a incidência dessas patologias”, orienta.

Rodrigues ainda reforça que é fundamental a organização do sistema de saúde, para assistência à população atingida. “Nos abrigos, detectar precocemente casos de doenças respiratórias, pediculose e escabiose e providenciar rapidamente medidas de tratamento também reduz a sua propagação”, analisa.

Fonte: ND+

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