A jornalista Mariana Vicara, 41 anos, estava inspirada a levar uma vida mais saudável em 2023. No início do ano, ela voltou a se exercitar e a pedalar por Brasília. Um acidente de bicicleta, entretanto, provocaria uma reviravolta em seus planos.
Após o tombo, Mariana foi levada a uma emergência médica e, durante exames para verificar a suspeita de uma fratura na costela, os médicos descobriram um tumor em estágio inicial no pulmão dela. “Levei um tombo inesperado. Fui projetada da bicicleta, bati a costela no guidão e fui para o chão”, lembra.
O diagnóstico foi um baque para Mariana, que não tinha nenhum fator de risco aparente para a doença. “A médica disse que não queria me assustar, mas tinha chamado a parte oncológica do hospital”, recorda.
Um exame de diagnóstico por imagem, o pet-scan, feito dias depois, confirmou que Mariana tinha um tumor maligno (adenocarcinoma) de 2,4 centímetros no pulmão esquerdo, do lado contrário à fratura na costela. O câncer de grau 2 ainda era considerado pequeno.
“No final da biópsia, o médico falou: ‘Mariana, é câncer’. Nesse momento, falei: ‘Bora lá! O que tiver que ser feito, vou encarar. Senti que era capaz de passar por isso e levar a mensagem de que a gente precisa de se cuidar e prevenir. O diagnóstico assusta, não é fácil. Porém, a gente sente uma energia para conseguir encarar o que tiver que ser feito”, pontua a jornalista.
Câncer de pulmão
O câncer de pulmão é o terceiro mais comum em homens e o quarto em mulheres, no Brasil, sem contar o câncer de pele não melanoma, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em números de mortalidade global, ele é o primeiro entre os homens e o segundo entre as mulheres.
O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença, mas existem outras causas, como a exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica), histórico familiar e idade – a maioria dos casos ocorre entre os 50 e os 70 anos.
Mas nenhum desses era o caso de Mariana. “Não fumo. Detesto cigarro. Hoje incentivo as pessoas a pedirem uma tomografia do tórax nos exames de check-up, porque é importante”, ressalta.
O médico Carlos Tadeu, oncologista pela Universidade de São Paulo (USP), atuante na rede Dasa de Brasília, explica que alguns tumores podem ser desenvolvidos por mutações específicas, não relacionadas aos fatores de risco tradicionais. “Nesses casos, é interessante fazer uma análise genética para saber por que a mutação surgiu”, explica Tadeu.
O check-up de forma tradicional é indicado a partir dos 55 anos, em pacientes com histórico de tabagismo. Segundo Tadeu, a orientação tem sido revista para diagnosticar de forma cada vez mais precoce, contribuindo para uma resposta mais adequada do paciente ao tratamento, aumentando as chances de cura.
Sintomas
Mariana não apresentava nenhum sintoma. “Não doía, eu não tossia, não cuspia sangue nem tinha dificuldade para respirar”, afirma.
Os sintomas do câncer de pulmão geralmente só aparecem quando a doença está em estágio mais avançado. No entanto, alguns pacientes em fase inicial apresentam determinados indícios, como tosse persistente, escarro com sangue, dor no peito, rouquidão, falta de ar, perda de peso e de apetite, pneumonia recorrente ou bronquite e cansaço.
Tratamento
A brasiliense foi operada em 6 de abril. Na análise da biópsia, ficou constatado que apenas 10% do conteúdo do tumor era cancerígeno. “Ele podia crescer, virar um limão, uma laranja, me levar a perder um pulmão, mas, felizmente, descobri o problema por conta de uma situação inusitada e perdi apenas uma parte do pulmão”, reflete.
Para complementar o tratamento, Mariana foi indicada a fazer caminhadas e a começar aulas de natação para expandir a parte pulmonar que ficou. Ela não precisará fazer quimioterapia ou radioterapia.
“Ainda estou me recuperando da cirurgia do pulmão, classificada como uma operação de pequena complexidade, mas de grande porte. O sentimento é de vitória”, afirma Mariana.(Metropoles)