Uma recém-nascida morreu no sábado (22), na maternidade de Juazeiro, norte da Bahia, e a mãe diz a bebê pegou infecção enquanto esperava por vaga em UTI neonatal. A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou que a menina entrou no sistema de regulação no dia 16 de agosto, mas que não conseguiu vaga para ela.
Segundo a dona de casa Maria Jeane dos Santos Lima, de 29 anos, mãe da recém-nascida, que se chamava Ana Júlia, a menina nasceu prematura, com sete meses de gestação. Ela diz que foi informada por funcionários do hospital que a filha havia pego uma infeção, contudo desconhece como a criança adquiriu. Ao G1, ela relembrou o momento difícil do parto.
“Eu senti a dor, não tinha dilatação, mas fui para o hospital. Cheguei lá 5h30 e só fui parir 8h35. Fiquei nervosa, comecei a sangrar, minha bolsa não tinha rompido ainda. Eles estavam decidindo se faziam o parto lá [em Juazeiro] ou me transferiam para Petrolina. Depois de 3h, resolveram fazer o parto lá mesmo, normal. Foram eles lá que romperam minha bolsa. Ela [a médica] subiu na minha barriga para o neném nascer, e eu com muitas dores”, revela.
Após o nascimento, Maria conta que a equipe de saúde a informou que a criança estava bem, mas precisava ser transferida para um hospital com UTI neonatal. Eles disseram à dona de casa que estavam em busca da vaga, preferencialmente no Hospital Dom Malan, em Petrolina, cidade pernambucana vizinha a Juazeiro.
Por meio de nota, a Secretaria da Saúde de Juazeiro disse que o recém-nascido foi assistido pelo pediatra e encaminhado para o berçário, onde recebeu assistência de oxigenioterapia, hidratação venosa e antibiótico venoso. Informou também que a paciente deu entrada no Hospital Materno Infantil de Juazeiro (HMIJ) com gestação de 32 semanas, pré-natal incompleto, já com trabalho de parto avançado, que evoluiu em poucos minutos para parto normal. [Confira a nota na íntegra no final]
Maria Jeane disse que o pré-natal estava incompleto porque ela só descobriu a gravidez três meses após a gestação.
Ela contou que, após o parto, todos no hospital falavam para ela da necessidade de transferência da criança para uma UTI. Foi durante a espera, conta ela, que Ana Júlia acabou pegando uma infecção.
“Um dia fui visitar minha filha, e a incubadora estava aberta. Perguntei à enfermeira e ela disse: ‘Estava dando um remédio. Você fecha para mim, mãe?’. Mas senti que foi esquecimento. No sábado pela manhã, ela [bebê] estava com olhos abertos e, quando foi passando o dia, eles vieram dizer que não estava bem, que a criança estava com infecção e que estava piorando. Quando foi 17h15, minha filha morreu”, relembra emocionada.
O G1 tentou posicionamento da Rede Integrada de Saúde Pernambuco-Bahia (Rede PEBA), que atende municípios do norte da Bahia e de Pernambuco, mas não conseguiu contato.
A reportagem também falou com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), que informou que “a criança entrou no sistema de regulação no dia 16, mas infelizmente ela não resistiu”.
“A equipe da Central buscou incessante mente o leito que a criança necessitava, mas infelizmente a vaga não foi conseguida a tempo. A equipe se solidariza com a família nesse momento de tristeza”, diz a nota da Sesab, que afirma ainda que a morte da bebê foi no dia 23, enquanto a mãe fala que foi no dia 22.
Jeane relembrou o desespero da família ao perceber que os dias iam passando e a criança não conseguia a vaga em uma UTI neonatal.
“Eu não sabia o que fazer e me peguntava: ‘Vão esperar ela falecer para conseguir uma vaga?’ Foi o que aconteceu. Perdi minha filha”, conta.
Jeane é casada e Ana Julia seria a segunda filha do casal. Ela é mãe de um garotinho de 8 anos. Abebê foi enterrada na manhã de domingo (23), em Juazeiro, com a presença de poucos familiares, por causa da pandemia do novo coronavírus.
Confira a nota da prefeitura de Juazeiro na íntegra:
A Secretaria da Saúde informa que a paciente deu entrada no Hospital Materno Infantil de Juazeiro/HMIJ com gestação de 32 semanas, pré-natal incompleto e já com trabalho de parto avançado. A mesma evoluiu em poucos minutos para parto normal, o recém-nascido foi assistido pelo pediatra e encaminhado para o berçário, onde recebeu assistência de oxigenioterapia, hidratação venosa e antibiótico venoso.
O recém-nascidoo recebeu a assistência disponível e cuidados profissionais da equipe de saúde do Hospital, mas acabou falecendo. A SESAU lamenta o óbito do bebê e se solidariza com os familiares. (G1/Ba)