Malafaia aponta: “Bolsonaro baixou norma e governador e prefeito não quiseram nem saber; o STF tirou da presidência o poder de decidir da Covid”

Pastor Silas Malafaia é apoiador de Jair Bolsonaro Foto: Dhavid Normando / Futura Press

BRASÍLIA – Aliado do Palácio do Planalto, o pastor Silas Malafaia afirma que seria um estúpido se concordasse com tudo o que o presidente Jair Bolsonaro prega. Crítico dos decretos que determinaram o fechamento de igrejas para evitar aglomerações, o líder religioso ressalta que evangélicos não devem ignorar a ciência. Embora tenha feito uma série de pronunciamentos no sentido de minimizar o impacto do novo coronavírus no Brasil, afirma seguir as orientações científicas.

“Jesus não menosprezou a ciência. Menosprezar o conhecimento e a ciência é ser alienado”, diz.

  • Nos sermões sobre a pandemia, o senhor busca balancear pontos de vista religioso e científico ou a visão bíblica sempre deve predominar?

Sou psicólogo de formação também. A ciência não contraria nada da Bíblia. Há muita gente enganada nisso. Geralmente, a turma da esquerda pensa que a religião é de analfabetos, imbecis, idiotas, que nada tem a ver com ciência. É interessante que muitos acham que só trabalhamos com o transcendental e que não tem nada a ver com a vida humana. Olha o que Jesus falou: ‘os sãos não precisam de médicos, mas os doentes’. Jesus não menosprezou a Medicina, Jesus não menosprezou a ciência. Menosprezar o conhecimento e a ciência é ser alienado. Se tudo fosse através do poder da cura, a gente botava um evangélico na porta de cada hospital e não entraria lá mais nenhum doente. E negaríamos o que o próprio Jesus falou.

  • O senhor diz que Jesus não menosprezou a ciência. A ciência hoje diz “não se aglomere”, “fique em casa o máximo que puder”, “use máscara”, “é uma doença nova da qual ainda não sabemos tudo”. Quando o senhor trata a pandemia como “histeria” não é negar a ciência?

Nunca tratei a pandemia como histeria. Tratei que é uma ‘escolha de Sofia’. O que é menos danoso? A pandemia ou o caos social? A quarentena de araque, hipócrita, que não protege pobre? O RJ tem 3 milhões de pessoas em áreas proletárias. O que fechou lá? Nada. Tem 2 milhões de pessoas em transporte coletiva. Só depois de 60 dias da pandemia é que exigiram máscara no ônibus. Em São Paulo, 4,5 milhões de pessoas no transporte público. Não tem distanciamento em ônibus, em metrô, trem ou em porcaria nenhuma. Aí querem pegar igreja evangélica como bode expiatório.

  • O senhor critica a imprensa por reportar mortes.

Vários especialistas estão dizendo que o tratamento traumático pós-pandemia vai ter que ser igual a um pós-guerra, por trauma, só notícia de morte. Fiz críticas severas à imprensa. Mostra o número de mortos todo dia, ok. Mas mostra o número de recuperados? Não mostra. O Brasil tem um dos maiores índices de recuperação por covid escondidos vergonhosamente. Por quê? Porque o vírus no Brasil virou político. ‘Vamos derrubar Bolsonaro, vamos ver se a gente usa vírus pra derrubar ele’.

  • Não acha que os pobres estejam circulando porque faltou amparo governamental para que eles pudessem permanecer em casa?

Manda o Ministério Público entrar na área proletária e fechar tudo. Não controla nem o tráfico de drogas, com todo o respeito. É o Estado que não tem poder. Por que não entra lá pra dizer que tem que fechar loja, tudo? Eu quero ver. Mas pra mandar fechar igreja, impedir culto, eles são bons. Pelo contrário, o ministro Fachin disse que a polícia não pode fazer incursão na pandemia. Isso é brincadeira.

  • Há um certo consenso de que a politização da pandemia é péssima para todos. O senhor considera que contribui para essa politização da doença?

Eu não contribuo. Só falo sobre fatos instalados porque quem tirou o poder do presidente decidir foi o STF, e passou para governadores e prefeitos. Eu vou me omitir, calar vendo a covardia que estão fazendo? Todo dia cinco ou seis reportagens falando de morte. Morreu aqui, morreu ali, olha a foto do cemitério. Quem mais contribuiu pra difundir medo e pânico foi a imprensa brasileira.

  • Não é insensibilidade falar em recuperados, enquanto temos quase 80 mil pessoas mortes em um curto período de tempo por uma doença nova?

A coisa que mais mata no Brasil é tuberculose, mais do que covid. (No Brasil, em 2019, foram registrados 73.864 mil novos casos de tuberculose, com cerca de 4,5 mil mortes. A doença tem tratamento específico, diferente da covid-19. Dados são do Ministério da Saúde)

Estamos falando de muitas mortes por uma doença com apenas poucos meses.

Pra mim toda morte é uma tragédia. Eu não suporto esse negócio de número de morto. Morre mais gente nesse País por crime do que por pandemia e estamos aqui querendo politizar mais uma vez. O coronavírus tá no mundo inteiro. Não é só no Brasil. Pra mim só Deus pra livrar povo brasileiro de uma catástrofe porque não tem nenhuma segurança para o pobre. Quarentena foi para prefeito e governador roubar.

O crime mata, mas estamos falando de uma doença nova que pode matar depois de um aperto de mão, de um beijo, de um abraço.

É essa discussão que vai levar? Então, você está dizendo que dentro de casa mata mais do que fora. E existem questionamentos sobre esse isolamento. Eu ouvi de um médico, de alto nível, professor universitário, top dos tops, que disse assim pra mim: ‘Deus botou a humanidade de joelho porque a ciência está dando cabeçada, não sabe nem o que faz. Eu vou dizer pro senhor o que é que está sendo tentado. É igual loteria. Se o senhor jogar R$ 3 na loteria, a sua chance de ganhar é muito difícil. Mas se jogar R$ 600 mil sua probabilidade é muito maior. É o que estamos fazendo.

  • Quem o povo brasileiro deve ouvir? Governadores, prefeitos e presidente não têm discurso único.

É porque ninguém tem a certeza. Não está generalizado porque o governador falou ou o presidente falou. É porque a ciência não disse assim: ‘a doença vem por aqui e por aqui e para combater é assim e assim’. Doutores, PhDs, dizem quarentena funciona, não funciona, cloroquina funciona, não funciona. A bagunça não vem das autoridades executivas. Vem da própria ciência.

  • Também acredita na teoria de que os chineses fizeram tudo de propósito?

De comunista se espera tudo. Eles têm uma máxima na ideologia deles, que é ‘pela causa pode matar’. Tudo em favor da causa, não tem problema. Então tenho desconfiança. A desconfiança eu tenho, prova não tenho. E não sou só eu que desconfio. A economia da China tá de vento em popa. Tudo controlado lá e o mundo de joelho.

  • Um papel importante da religião em momentos como esse é o de levar conforto e esperança às pessoas, muitos pastores fazem isso. Gostaria que o senhor avaliasse sob essa ótica a atuação do presidente Bolsonaro. Ele age como líder de uma nação que já perdeu mais de 70 mil pessoas para uma doença nova?

É só o Brasil que perdeu gente? Sua pergunta dá a entender que ele foi o responsável. O que fizeram para ele parece piada. A responsabilidade é de governadores e prefeitos, dada pelo STF. ‘Ah, porque o presidente falou isso…’ Eu até acho, digo pra você, e eu falei pra ele, até acho que certas falas do Bolsonaro… não concordo com elas. Sou aliado e não alienado, não concordo. Acho que certas coisas que ele falou não devia ter falado. Acho que não precisava se expor. Acho que, como presidente, em algumas dessas vezes, poderia trazer palavra de ânimo, de otimismo, sem levar para o viés de ‘não tem nada’. Estou sendo honesto com você. Acho que o presidente, certas falas podia poupar, na minha opinião.

  • Por exemplo quando disse que não era coveiro ao comentar um recorde de mortos?

‘Ah, não sou coveiro’ e outras. Acho que certas falas não são boas, não contribuem. Vou dizer que em tudo o que presidente falou ele acertou? Claro que não, não sou estúpido. Mas o que parece para nós é uma torcida: ‘tomara que cloroquina mate, porque se matar ele tá ferrado’. É a impressão que a gente tem.

  • Uma ressalva: STF não transferiu a responsabilidade. Entendeu que governadores e prefeitos têm autonomia para traçar planos em suas áreas e a União também pode tomar medidas de abrangência nacional.

É mesmo? Quer dizer então que se o presidente baixa uma norma e prefeitos e governadores não são obrigados a obedecer? Quebraram o princípio da hierarquia institucional. Bolsonaro baixou norma e governador e prefeito não quiseram nem saber. Por quê? Porque o STF tirou do Poder Executivo central, da Presidência, o poder de decidir sobre pandemia.

  • O senhor defende a prevenção ao coronavírus com medicação não comprovada, como ivermectina e cloroquina?

Não tomei nada. Vou tomar remédio por falácia? Eu não. Se eu tiver sintomas aí vou tomar remédio. Tomar e ficar nessa neura? Eu não. Nem recomendo ao meu povo. A recomendação que dou na igreja é: se proteja, use máscara, cuidado, se está resfriado não vá pra rua.

Vinícius Valfré – Estadão

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