Presa há 90 dias após ter cortado fora o pênis do marido, a cozinheira Daiane dos Santos Farias, de 34 anos, fala, em entrevista exclusiva de dentro da penitenciária por chamada de vídeo, sobre as expectativas para o julgamento a ser realizado daqui duas semanas.
Apesar do crime cometido, a detenta e o frentista Gilberto Nogueira de Oliveira, de 39 anos, decidiram retomar o relacionamento e vêm trocando cartas amorosas, como revelou este blog. “Eu não me apaixonei pelo pênis do Gilberto, e sim pela pessoa bondosa que ele é”, diz Daiane para justificar a reconciliação.
A cozinheira conta que, quando tinha 12 anos, foi abusada sexualmente por um irmão de 30. Quando tomou conhecimento de um caso extraconjugal do marido com uma sobrinha dela, de 15 anos, “traumas do passado vieram à tona, despertando uma série de gatilhos”, sustenta.
Daiane assegura, no entanto, que não está utilizando o passado para justificar o crime cometido e garante que jamais teve a intenção de matar Gilberto. “Se quisesse assassiná-lo, teria passado a navalha em seu pescoço, e não no órgão sexual”, pondera.
Durante a conversa, ela também compartilha seu desejo de casar com a vítima de seu crime, mesmo após a amputação. “Se ele me quiser, eu quero”, enfatiza. Confira, logo abaixo, os principais trechos da entrevista.
Como você se sente?
Primeiro, estou muito arrependida porque a minha vida virou de ponta-cabeça. Tudo era muito perfeito e, de uma hora para outra, desmoronou. Antes, tinha tudo. Agora, não tenho nada. Esse é o primeiro sentimento que vem. Nunca imaginei que eu um dia pudesse vir parar numa penitenciária. Sinto muitas saudades da minha família, inclusive do Gilberto.
Você o ama?
Sim, muito. O amor não acaba de uma hora para outra. O Gilberto já me escreveu dizendo que o sentimento é recíproco.
Por que você amputou o pênis do seu marido?
Foi um momento de desespero. Estava fora de mim. Estava possuída. Não sei explicar direito. Só fui cair em mim quando fui presa. Não tinha a menor noção do que havia feito. Já não posso nem afirmar que fiz isso por causa da traição. Na hora, me vieram lembranças muito sinistras do meu passado.
Quais lembranças?
Quando eu tinha 12 anos, meu irmão mais velho de 30 (hoje com 52) abusou sexualmente de mim. Eu fui estuprada de forma recorrente por ele. Foi algo horrível e sofro esses traumas até hoje. Hoje, nem consigo falar sobre isso e nem vejo ele desde então. Quando soube que o Gilberto estava mantendo relações sexuais com a minha sobrinha de 15 anos, eu saí de mim completamente. Foi um gatilho muito forte. Na minha cabeça transtornada, ela estava sendo abusada também.
Então foi uma espécie de vingança?
Não diria que foi uma atitude vingativa. Estava me voltando contra tudo aquilo que passei quando fui estuprada pelo meu irmão. Foi uma forma de dizer “basta”. Depois de ter sido violentada na infância, o Gilberto passou a ser a minha única referência de amor. Fiquei descontrolada emocionalmente quando percebi que poderia perdê-lo. Ainda mais porque ele havia me traído com uma menor de idade. Com isso, meu trauma veio todo à tona.
Como assim?
Quando cortei o pênis do Gilberto, pensei que estivesse mutilando o meu irmão. Pela raiva que eu guardo até hoje desse nojento.
E o que você sentiu na hora?
Muita raiva. Estava sob efeito de um choque emocional. Fiquei muito impactada com a descoberta de que ele estava transando com a minha sobrinha. Foi tudo muito rápido. Eu vi a mensagem no celular e já tomei a atitude. Eu não sou essa mulher fria que as pessoas estão falando.
Por que você não aparece sorrindo nas fotos com o seu marido?
Porque me acho mais fotogênica se não estiver sorrindo. Não tem nada a ver com ser uma mulher quente ou fria. Não acho que isso deva ser levado em conta na hora em que estiver no tribunal. Quero ser julgada pelo o que eu fiz e não pelas minhas fotos.
Você é muito ciumenta?
Muito, não. Eu e o Gilberto éramos muito grudados. Ele é motorista de aplicativo. Eu só ficava incomodada quando aparecia contatos de clientes mulheres novinhas no celular dele. Por isso pus fotos minhas no carro dele para as passageiras verem que ele é comprometido.
Como você se sente em relação ao Gilberto agora?
Antes da tragédia, eu o amava incondicionalmente. Estávamos planejando nos casar em janeiro e montar uma casa na floresta para os nossos filhos. Logo depois de ser presa, fiquei com muito ódio de tudo, inclusive do Gilberto pela traição com a minha sobrinha no dia do meu aniversário. Com o tempo, os sentimentos foram mudando. Depois de receber uma carta dele me perdoando, o amor floresceu novamente. Hoje, posso dizer que o amo mais do que antes. Os nossos laços se fortaleceram na adversidade. Tem sido um sofrimento muito grande estar longe dele. Queria poder cuidar do meu marido.
Existe o receio de uma condenação longa?
Tenho muito medo de ficar presa por muito tempo, longe de tudo e de todos, principalmente dos meus filhos e do meu marido. Não mereço uma condenação pesada. Fui à delegacia e confessei tudo. Em nenhum momento neguei o crime que cometi. Que fique claro: não quis matar Gilberto. Jamais. Se quisesse assassinar ele, teria passado a navalha em seu pescoço, e não no pênis. Não mereço passar o resto da minha vida aqui. Não mereço.
O que você aprendeu com essa situação?
Nunca se deve tomar uma decisão importante sob forte emoção, principalmente se o problema for grave e envolver sentimentos fortes como a paixão. Se o tempo voltasse atrás, faria diferente. Teria chamado meu marido para conversar. Poderia ter encerrado o relacionamento temporariamente e voltado depois, ou simplesmente expulsado ele de casa para sempre. Porém, minha escolha foi a mais errada de todas. Honestamente, nem falo isso por estar presa. Tenho refletido muito sobre a saúde do Gilberto. Não deveria ter feito o que fiz. Sinto muita vergonha e arrependimento.
Quais são seus planos para o futuro?
Meu sonho é ser inocentada pela Justiça. No entanto, sei que dificilmente isso vai acontecer, pois joguei o pênis do meu marido no vaso sanitário e dei a descarga. Isso impossibilitou o reimplante. No entanto, espero ter uma pena leve e sair logo, pois sou ré primária e uma mulher muito batalhadora. O que mais me deixou triste depois de ser presa é que meus filhos pequenos foram parar em lugares diferentes. Não sei se estão sendo bem cuidados. Não tenho tido notícias deles. Isso me deixa muito angustiada. Meus planos são refazer a minha família, reunir todos novamente, inclusive o Gilberto, que precisa muito dos meus cuidados.
Você realmente considera retomar o relacionamento com seu parceiro, mesmo sabendo que ele não tem mais órgão sexual?
Se ele me quiser, eu quero. Até porque eu não me apaixonei pelo pênis do Gilberto, e sim pela pessoa bondosa que ele é.
Mas é viável para você manter um relacionamento com um homem sem órgão sexual?
Com certeza. Posso tranquilamente amar um homem que não tenha pênis. Relacionamentos íntimos e afetivos são baseados em muitas outras coisas, como carícias e afetos. Sexo é só uma parte da nossa vida e nem era a mais importante. Um pênis nunca vai limitar a nossa relação. O importante é que haja compreensão, respeito mútuo e abertura para explorar formas de intimidade e satisfação dentro do relacionamento. Até porque existem outras áreas que despertam prazer. E também não tenho o direito de reivindicar algo que eu mesmo arranquei dele, né? Mas ele falou na carta que ganhou uma prótese.
Você aceitaria receber uma visita do Gilberto na prisão?
Não vejo a hora de isso acontecer. Não só porque sinto muita falta dele, mas também porque isso seria a maior prova de que ele me perdoou. Também seria uma forma de eu demonstrar o meu arrependimento, pois as cartas não dizem tudo que eu sinto por ele. Quero olhar o olho dele e pedir para recomeçarmos a nossa vida do zero. Ainda pretendo trocar alianças de ouro com ele seja aqui dentro da prisão ou do lado de fora.
Fonte: O GLOBO