Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza nacionalmente o Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano. Diante desse tema, a reportagem do Voz da Bahia conversou o psiquiatra do hospital entrar Dr. Diego Reis que irá esclarecer um pouco mais sobre o assunto
O que significa o Setembro Amarelo?
O Setembro amarelo é uma campanha que foi criada em 2014 com a iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina justamente para levarmos até a população instruções para a prevenção do suicídio.
Qual o tamanho deste problema?
O suicídio é uma das principais causas de mortalidade e afeta cerca de 1 milhão de pessoa a cada ano se pensarmos em uma proporção mundial. No Brasil estima-se que esse número esteja em torno de 1.200 mortes por ano e isso se considerarmos os números que são fornecidos e que são notificados, mas infelizmente como nosso índice de subjetivação é grande, esse número venha ser ainda maior e se considerarmos a população jovem chega a ser a segunda causa de morte.
Qual a relação do Setembro amarelo com as escolas?
A gente sabe que as grandes maiorias dos casos de suicídios estão associadas algum transtorno mental, em torno de 97% dos casos está associado a algo assim, dificilmente essa pessoa que comete suicídio faz esses atos em que não houvesse demonstrado evidências anteriormente. No caso das escolas é superimportante tanto para os professores quanto para os colegas, observarem como estão os seus amigos, como está as crianças, como estão os seus alunos, sobretudo em relação a mudança de comportamento, queda do rendimento ou algum indício que possa sugerir que aquela pessoa está passando por algum sofrimento, e se for o caso é importante encaminhar para algum acompanhamento porque a grande maioria é tratado.
Por que vem crescendo o número de suicídio entre os adolescentes?
Infelizmente é um problema que não escolhe idade, não escolhe sexo, não escola situação social, está começando mais cedo, inclusiv,e alguns que a gente precisa questionar é que muitas vezes até para profissionais de saúde já ouvimos relatos de que não se deveria considerar o diagnóstico de depressão de uma criança ou de adolescente ou de que talvez seria muito novo para estar passando por sofrimentos assim, mas o sofrimento não escolhe idade, diversos são os fatores relacionados a isso, famílias desestruturadas ou muitas vezes casos de tentativa de suicídio na própria família que contribui para um sofrimento que a criança e o adolescente não vai conseguir expressar ou relatar isso, muitas vezes é expresso com se tomar físicos uma irritabilidade, tendência de isolamento ou comportamento de automutilação em que ela se corta ou se machuca. Não exatamente por uma intenção suicida, mas na intenção de transferir a dor para o outro pronto algo onde eu possa sentir onde eu possa tocar.
Algumas pessoas dizem que irá tirar a própria vida para poder chamar atenção. Mito ou verdade?
Isso é mito, porque dificilmente as pessoas que cometem suicídio fazem isso sem deixar evidência, muitas vezes frases corriqueiras como eu tenho uma vontade de sumir, eu queria desaparecer e não aguento mais ou principalmente a relação a idosos quando começam a trazer algumas frases como se tivesse se despedindo ou ligações parecendo que está falando com a pessoa pela última vez, são fatores que nos fazem pensar que aquela pessoa estaria com problemas e gente precisa observar os detalhes.
Como a família deve se comportar ao perceber que alguém está dando sinais de que quer tirar a própria vida?
O ponto principal é ouvir, ou seja, está aberto ao diálogo, mas não para ouvir no sentido de querer criticar ou de querer apontar, muitos pacientes muitas vezes sofre em silêncio ou tem dificuldade de contar para alguém que está sentindo por medo de receber alguma crítica, então a gente oferece um ombro amigo, se a gente oferece a oportunidade para aquela pessoa desabafar sem julgamento e quebrar também alguns estigmas com relação a procurar o tratamento, por que há pessoas que tendem a evitar o máximo a busca por um psicólogo ou psiquiatra justamente porque o por entender que esses profissionais tratam loucuras.
Como o hospital deve proceder ao receber uma pessoa que tentou suicídio?
Existem diferentes níveis de atenção e de cuidados, porque o suicídio ele não compreende especificamente em um ato. Então quando o paciente busca o hospital, a prioridade é a preservação da vida, então se houve uma intoxicação, se houve alguma lesão, a gente vai primeiramente preservar aquela vida, recuperar os sinais vitais e segundo prevenir a ocorrência do próximo episódio, porque a chance de um paciente tentar de novo é muito grande, então importante que mesmo o profissional que atende na emergência, que converse com essa família em relação ao encaminhamento para o acompanhamento psiquiátrico, para acompanhamento psicológico, caso paciente já não fizesse, mas a maioria dos casos onde houve tentativas, o paciente já tinha passado por algum profissional, pelo menos uma vez, mas há muitas pessoas que infelizmente deixa para procurar o atendimento somente quando o quadro já está no nível de maior gravidade, então o quanto antes a gente puder cuidar, o quanto antes a gente poder tratar melhor.
Como a mídia deve se posicionar diante dos casos de suicídios?
É importante que a mídia evite publicar os métodos, a forma como a pessoa se suicidou e que o foco seja dado a outros pontos como, por exemplo, pegar o depoimento de pessoas que tentaram, mas que fizeram tratamento e que não está mais tendo esse tipo de ação, mostrar o outro lado da moeda, de que há sim esperança, de que há sim como a gente cuida, há sim como melhorar tudo isso.
Atendemos a todas as idades, eu tenho especialidade em Psiquiatria e também psiquiatria da Infância e da adolescência. O reconhecimento dos fatores de risco e dos fatores protetores é fundamental e pode ajudar. Se você acha que está tendo problemas relacionados à sua saúde mental ou conhece alguém que está passando por alguma dificuldade, procure ajuda.
Reportagem Voz da Bahia
Assista a entrevista abaixo: