Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, completa neste domingo (20/6) 12 dias foragido das forças de segurança do Distrito Federal e do Goiás, após cometer uma série de crimes, entre eles uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia, em 9 de junho último. As polícias fazem as buscas em uma mata localizada nos arredores de Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás. Para Jorcilei Rosa Sales (foto em destaque), 35 anos, amigo que cresceu com Lázaro no sertão baiano e trabalhou junto com ele em Goiás, o mato é como um quintal para o assassino, que se mostra experiente na região.
“[O mato] no Goiás, para Lázaro, é como se ele estivesse aqui dentro desse quintal”, compara Jorcilei, em conversa com o Metrópoles, ao apontar para o espaço da própria casa, na área rural de Barro Alto, a cerca de 18 quilômetros de Barra do Mendes, na Bahia. A área citada por Jorcilei, que perdeu 100% da visão devido a um glaucoma, reúne algumas poucas árvores frutíferas, como pés de mamão, laranja e romã, além de ervas e palmas, cacto característico do Nordeste brasileiro.
“Ali [no Goiás] é muito pequeno para ele; não tem dificuldade nenhuma. É como se ele estivesse dentro de uma casa. Ele é esperto, tem artimanha. Mas isso não quer dizer que seja magia negra”, contemporiza Jó, como é conhecido, ao negar que Lázaro tenha ligações com satanismo ou seitas. “E ele [Lázaro] sabe se defender no mato, mesmo. Porque, imagina: nós estamos numa região de caatinga, onde tem muito espinho. E lá no Goiás não tem espinhos na mata. Aqui tem Xique-Xique, aqui tem unha de gato, aqui tem muita madeira perigosa”, complementa. Em Cocalzinho, o bioma predominante é o cerrado.
Jorcilei é casado com a tia materna de Lázaro, Zilda Maria de Sousa, de 54 anos, e é o melhor amigo do criminoso. Eles se conheceram quando Lázaro tinha 18 anos e Jorcilei, 21. Os dois eram vizinhos no povoado de Melancia, em Barra do Mendes.
Após se tornarem amigos, se mudaram para Goiás em busca de melhores condições de vida. Mesmo depois de Lázaro ter assassinado dois homens no município, Jorcilei nunca teve medo do amigo e se orgulha, inclusive, de dizer que já deixou o companheiro, com uma navalha na mão, fazer a barba e o cabelo dele. “Eu não tenho um pingo de medo”, relata, ao soltar uma gargalhada.
Lázaro tem sido julgado, condenado e procurado por diversos crimes desde meados de 2008. Há 13 anos, foi condenado por duplo homicídio na Bahia e espalhou terror por onde passou. Sozinho ou ao lado do irmão, morto há cinco anos, estuprou mulheres, queimou casas, feriu e matou pessoas. Jó, como é conhecido o primo de Lázaro, explica que, mesmo com a intimidade entre eles, o amigo raramente falava sobre os crimes que cometeu, o tempo que passou nas prisões ou as fugas: ele escapou do Complexo Policial de Irecê em 2009, de onde é considerado foragido até hoje; do Complexo Penitenciário da Papuda, em 2016; e de uma prisão em Águas Lindas (GO), em 2018.
O amigo conta, porém, que Lázaro aprendeu “muita agilidade” na prisão de Brasília, onde foi preso em 2009 por roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo. Em 2014, teve a prisão convertida para o regime semiaberto. “Lázaro tem a força de um leão. A gente brincando, ele me ensinava golpe que aprendeu lá dentro da Papuda.”
Para o amigo e a tia, é uma questão de tempo até que o criminoso se entregue às autoridades. “Na hora certa, ele vai lá em uma delegacia. Ele vai se entregar sem arma na mão, sem mochila; vai de boa. O tempo de se entregar, quem manda é o cansaço. No dia em que ele estiver exausto, cansado e abatido, vai se entregar, sem precisar usar nenhuma força policial”, afirma.
Jorcilei espera que o amigo se entregue às autoridades policiais. Ele acredita que isso irá acontecer antes de o encontrarem. “Lázaro é um menino esperto. Ele só está esperando a polícia baixar a guarda para se entregar com segurança”, relata. Em 2008, após assassinar José Carlos Benício de Oliveira e Manoel Desidério Silva, em Melancia, fugiu por 15 dias da polícia. Só foi preso após se entregar.
“O problema dele ter ficado na mata é porque aquela comissão de direitos humanos que tem no Brasil, aqui, para nós, não funciona. A polícia daqui da Bahia tira pessoas presas de dentro da cadeia e mata. Sem explicação. Então, eu tenho tanta certeza que ele não se entregou por medo de a polícia matar ele”, relata o amigo. “Você sabe o que que ele está esperando? Somente a poeira baixar. Quando sair aquele volume grande de polícia que está ali, eu creio que ele vai se entregar. Ele não vai se entregar assim no meio desse tanto de polícia.”
Intolerância religiosa
Apesar de a polícia ter encontrado velas e apetrechos que supostamente seriam usados em rituais, a família nega que Lázaro Barbosa tenha qualquer ligação com satanismo, seitas ou outras religiões. O amigo e a tia asseguram que o foragido é evangélico e que levava consigo uma Bíblia. “Você sabe qual é um livro que Lázaro carrega? O livro que Lázaro carrega é uma Bíblia Sagrada, dada por um major do Corpo de Bombeiros, lá em Brasília”, afirma Jó.
Neste sábado, líderes de religiões de matriz africana de Brasília e do Entorno de Goiás denunciaram intolerância religiosa durante as buscas pelo foragido. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o pai de santo André Vicente de Souza disse, em um vídeo divulgado neste sábado (19/6), que policiais entraram em seu terreiro de Candomblé, bateram no caseiro do local, quebraram portas e tiraram fotos de objetos religioso.
As imagens circularam junto à informação de que Lázaro praticou rituais satânicos em seus crimes, ligando, de forma incorreta, o Candomblé aos crimes do foragido. Também Zilda afirma que a mãe de Lázaro está sendo acusada de ser feiticeira, assim como a avó já falecida de Lázaro. “Não existe isso de feitiçaria. É melhor parar com isso, tirar isso e cuidar das buscas do Lázaro, procurar ele, ver se acaba com isso”, pediu a mulher.
“A gente pede perdão à família, o que aconteceu não é do consentimento da gente, não ficamos alegres, pedimos em oração para que ele entregasse a Cleonice viva, intacta, e a gente fica sentido pela família [da vítima]. É uma região que a gente conhece, tenho um tio que mora lá, podia até ter sido com ele. Ninguém queria que isso acontecesse”, completou o amigo, se referindo a uma das vítimas de Lázaro, Cleonice Marques.
A mulher foi raptada após o assalto feito por Lázaro no dia 9 de junho. Durante a madrugada, Cláudio Vidal de Oliveira, 48 anos, Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15, marido e filhos de Cleonice, foram mortos. Uma força-tarefa de moradores do Incra 9, onde aconteceu o crime, encontrou o corpo da mulher no dia 12 de junho. O cadáver estava em uma zona de mata, próximo a um córrego. (Metropoles)