Menino com árvore de Natal em lixão comove web: ‘Infância ou sobrevivência’

Gabriel foi fotografado em lixão de Pinheiro (MA) por fotógrafo João Paulo Guimarães Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriel, de 12 anos, virou assunto nas redes sociais ao ser fotografado encontrando uma árvore de Natal em meio às sacolas do lixão de Pinheiro, no Maranhão. O menino, que acompanhava a mãe na coleta, comoveu o fotógrafo João Paulo Guimarães e acabou ganhando uma árvore nova, além de outras doações angariadas em uma campanha online.

João Paulo, que mora em Belém do Pará e viajou até a cidade maranhense após ver um vídeo do lixão nas redes sociais, publicou as fotografias em 8 de novembro, contando que a criança estava catando lixo desde às 7h e que quando encontrou o enfeite passou a fazer planos para decorar a sala de casa na data festiva.

“Ele mostrou pra mãe dele, Dona Maria, e fez os planos de ajeitar pra Dezembro e colocar na sala de casa. Gabriel guardou dentro de uma caixa a árvore, voltou para procurar comida e depois veio buscar a árvore pra levar pra casa. Ele ficou muito feliz. Eu também fiquei muito feliz por ele. Parei de fotografar na hora. Não dava pra enxergar nada com tanta lágrima”, escreveu o fotógrafo em seu perfil no Instagram.

Comovido pela situação, João questionou seguidores se comprava uma nova árvore para o menino, já que a encontrada no lixão estava danificada, ou se levava comida até a família, lamentando a escolha entre “infância ou sobrevivência” feita pela criança.

Mas, com a ajuda de seguidores que aderiram à uma campanha relâmpago em suas redes, ele não precisou escolher qual presente daria ao menino, e já no dia seguinte levou cestas básicas, brinquedos e enfeites de Natal até Gabriel.

“Gente, com a ajuda de vocês consegui comprar a Árvore de Natal, os enfeites e nove cestas básicas. Também comprei dois carrinhos pro irmão do Gabriel. O Ítalo tem quase 3 aninhos e merece uns presentinhos também”, detalhou.

O fotógrafo entregou os presentes de surpresa em uma audiência pública no dia 10 de novembro, quando a prefeitura da cidade oficializou a criação da Associação de Catadores de Pinheiro.

“Já é Natal. Graças aos humanos daqui, já é Natal. Obrigado, gente”, concluiu João, ao compartilhar uma foto de Gabriel ao lado de sua árvore nova.

“Pensei que fosse teaser de filme pós-apocalíptico”

João Paulo confidenciou que decidiu viajar do Pará ao Maranhão após ver um vídeo de um defensor público de cenas filmadas em Pinheiro. O fotógrafo afirma que em um primeiro momento pensou que a postagem era propaganda de um filme.

“Eu saí aqui de Belém do Pará depois que eu vi um vídeo do Eurico Arruda, que é defensor público em Pinheiro, no Maranhão. Ele postou um vídeo que eu pensei que fosse o teaser de algum filme pós-apocalíptico. Eu gosto de cinema, vi aquilo e falei: ‘pô, eu vou ver o que é isso’. E era a realidade. Eu estava vendo a realidade. As pessoas correndo atrás do caminhão de supermercado, correndo para pegar comida. E aí depois eu pensei: ‘não posso ficar em casa, tenho que ir pra lá”, detalhou o profissional em entrevista à GloboNews, na tarde de hoje.

Ao chegar à cidade, ele foi recebido por Eurico, que o acompanhou até o lixão, onde João conheceu Gabriel e sua mãe. Ele conta que se emocionou ao ouvir as ideias do menino para consertar a árvore danificada.

“Ele virou pra mãe e falou: ‘Mãe, olha só, a gente pega, ajeita essa árvore, ela está torta, mas a gente ajeita. A gente pega esse pisca-pisca e ajeita elas aqui e dá pra colocar na sala do dia do Natal. E aí quando ele falou isso… acabou pra mim ali, eu não consegui mais fotografar”, destacou o fotógrafo, emocionado.

O fim dos lixões no Brasil está previsto no novo marco do saneamento básico, aprovado em 2020 pelo Congresso Nacional. O documento estipulou que em cidades com menos de 50 mil habitantes, como é o caso de Pinheiro, as administrações públicas devem se organizar para extinguir os espaços até o final de 2024, com a adoção completa de descarte em aterros sanitários.

“Lá em Pinheiro esse lixão existe há muito tempo e é gerenciado pela prefeitura. O ambiente ele é o mais inóspito possível, se você não está ali trabalhando, não está levando o lixo, ou fotografando, você não consegue ficar, porque o cheiro é pesado demais, os urubus estão por todo tempo passando por você. Hoje mesmo me mandaram fotos das crianças com as costas cortadas. Então, é horrível”, concluiu João na entrevista à emissora. (UOL)

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