O presidente Bolsonaro e o ministro da Justiça Sérgio Moro desceram juntos na última quinta-feira (29) a rampa que dá acesso à sala de eventos do Palácio do Planalto, mas um pouco antes o encontro de ambos foi marcado por um desentendimento. Segundo interlocutores dos dois lados, o encontro quase resultou na saída de Moro do governo.
A questão foi resolvida a tempo de evitar esse desfecho, após o presidente ser convencido de que teria muito a perder com uma eventual demissão do ex-juiz da Lava Jato, idolatrado por grande parte dos eleitores, segundo apurado pelo Blog do Fausto Macedo.
Um dos ingredientes que azedou a conversa de horas mais cedo foi justamente a insistência do presidente em fazer alterações no comando da Polícia Federal. Bolsonaro repete que foi eleito para alterar a forma como o País vinha sendo conduzido e que, se não for para fazer isso, não valeria a pena ocupar o cargo máximo do País.
O atual diretor-geral é ligado ao grupo de Leandro Daiello, mais longevo a ocupar o cargo máximo da PF. Ele ficou no posto por sete anos, de 2011 até 2017. Apesar de ter chefiado a corporação durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff, foi em sua gestão que a PF deflagrou operações que atingiram a alta cúpula do PT, como a Operação Lava Jato.
Valeixo comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) na gestão Daiello e foi Superintendente da PF no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado por Moro para assumir a diretoria-geral.
Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do presidente, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.
O nome que tem sido ventilado para o cargo, de Anderson Gustavo Torres, atual secretário de Segurança do Distrito Federal, é próximo do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR), de quem foi chefe de gabinete na Câmara dos Deputados. Embora aliado, Francischini se afastou de Bolsonaro na campanha eleitoral e abriu mão de tentar se reeleger deputado federal para dar espaço ao filho, deputado Felipe Francischini (PSL-PR).
A intenção de Bolsonaro não é só mexer na PF. Ele já sinalizou que vai fazer mudanças também na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e na Receita Federal.
Militares com cargos no governo concordam com a atitude de Bolsonaro de fazer trocas na PF, mas discordam da forma como o presidente age, com declarações públicas para demonstrar força, repetindo que quem manda é ele.
Antes da conversa ríspida da última quinta-feira, Moro já havia se encontrado a sós com Bolsonaro na mesma semana para tentar aparar as arestas. O desgaste entre os dois começou após o presidente anunciar, no mês passado, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio por “questão de produtividade”.
A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tinha “qualquer relação com desempenho”.
Moro tem negado que tenha pedido demissão e fez demonstração de apoio a Valeixo recentemente, ao elogiar publicamente o seu trabalho. Agora, a expectativa na PF é saber se ele vai acatar o pedido de demissão feito por Bolsonaro. (Bahia Notícias)