O ex-combatente baiano Eurypedes Pamplona morreu aos 104 anos, no domingo (2), em Salvador. O veterano participou da Segunda Guerra Mundial como pracinha da Força Expedicionária Brasileira que lutou na Itália, na Europa.
De acordo com informações da assessoria de imprensa do 4º Batalhão de Engenharia de Construção (BEC) de Barreiras, onde ele morava, o centenário morreu de causas naturais, por causa da idade avançada. Ele completaria 105 anos no dia 10 de junho e deixa esposa, dois filhos, cinco netos e dois bisnetos.
Eurypedes Pamplona foi homenageado diversas vezes em cerimônias pelo 4° BEC e sempre desfilava na parada cívico militar do 7 de setembro, data em que é celebrada a Independência do Brasil. A história dele foi, inclusive, publicada em um livro, intitulado “Tiro, Guerra e Mato”, pelo policial militar João Paulo Pinheiro Lima Primeiro.
O corpo do veterano foi levado para Barreiras e o velório acontece nesta segunda-feira (3), no Memorial Senhor do Bonfim. O corpo dele será sepultado na terça-feira (4), às 9h, no Cemitério São João Batista.
História de Eurypedes
Eurypedes Lacerda Pamplona nasceu em 10 de junho de 1919, na antiga casa nº 29 da Rua Barão de Cotegipe. O jovem era o quinto dos sete filhos de Manoel Pamplona, guarda-fio do telégrafo, e Arlinda Lacerda, dona de casa e administradora de um hidrômetro do observatório meteorológico da cidade.
Com 18 anos incompletos, incorporou-se ao Tiro de Guerra 128, aprendendo lições de civismo, educação moral, boa conduta, além das instruções militares. Formou-se então atirador da reserva de 2ª. classe, na turma de 1937.
Em 1939, mesmo ano em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, o jovem mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em lojas de armarinhos e tecidos.
Em 31 de agosto de 1942, após os afundamentos dos navios mercantes brasileiros pelos submarinos nazifascistas, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo Berlim-Roma-Tóquio. Dois dias depois, na pensão onde residia, Eurypedes Pamplona recebia a carta que o convocaria novamente às Forças Armadas.
Neste contexto, nascia a ideia da criação da Força Expedicionária Brasileira, o instrumento militar nacional destinado a cooperar com as Forças Aliadas na missão de destruir o inimigo comum.
Pamplona incorporou-se inicialmente ao 2º Regimento de Infantaria, o Dois de Ouro, onde passou por rigoroso adestramento e foi promovido à graduação de cabo.
No dia 23 de novembro de 1944, o seu navio de transporte General Meighs zarparia da Baía da Guanabara com 4.691 militares do Quarto Escalão de Embarque, em direção a guerra. A missão era repelir as forças nazistas na Itália, em conjunto com o IV Corpo do V Exército de Campanha Estadunidense.
Em meados de dezembro, sob o rigoroso inverno europeu, o expedicionário deu entrada no 7º Hospital em Livorno, mesmo local onde serviu a 2º Tenente Enfermeira Aracy Sampaio, também barreirense.
Em janeiro de 1945, participou de instruções juntamente com outros pelotões que em breve seguiriam para o front. Escalado agora como membro da 9ª Companhia do 11º Regimento de Infantaria, o pracinha foi escolhido para ser atirador da metralhadora Ponto 50. Sua tarefa seria rechaçar os alemães e dar cobertura para o avanço aliado em terreno inimigo.
No dia 12 de fevereiro de 1945, após longas marchas, o Cabo Pamplona teve o seu batismo de fogo em Belvedére, prestando importante contribuição na conquista do objetivo final.
Em 21 de fevereiro, apoiou em segundo escalão a Tomada de Monte Castelo, mais renomada conquista da FEB. No mês de março, o jovem aproveitou para reverenciar os seus irmãos de farda no Cemitério de Pistóia, mortos no cumprimento do dever.
No dia 4 de maio de 1945, o cabo recebeu a informação que Adolf Hitler, líder nazista, havia tirado a própria vida. O comando das forças alemãs na Itália havia se rendido e a guerra da Força Expedicionária Brasileira acabou.
Em 17 de setembro do mesmo ano, Pamplona e os seus companheiros desembarcaram no Rio de Janeiro, ovacionados por uma multidão, pronta para recepcionar os novos heróis que desfilaram pela Avenida Rio Branco. No dia 30 do mesmo mês, foi licenciado do serviço ativo para ingressar novamente na reserva do Exército Nacional, regressando definitivamente a sua cidade natal pouco tempo depois.
Com a chegada do 4º Batalhão de Engenharia de Construção a Barreiras, em 1972, Eurypedes Pamplona passou a ser reverenciado por esta organização militar como um herói de guerra, mas de forma tímida e local. Todavia, a sua fama expandiu-se a partir do ano de 2015, com o lançamento da 1ª edição da sua biografia Tiro, Guerra e Mito, de autoria do 1º Tenente R/2 Pinheiro6 (historiador militar e coautor da obra).
Com a sua trajetória imortalizada nas páginas do livro, o expedicionário tornou-se uma celebridade conhecida não apenas pelo segmento militar, mas por toda a cidade de Barreiras, e até mesmo pelo Brasil, motivo pelo qual recebeu diversas premiações de instituições do país.
Desta forma, as entidades colaboraram indiretamente para a formação de um acervo, transformado no Museu do Cabo Pamplona, na residência do próprio herói. Por causa da pandemia da Covid-19, o local ficou fechado para visitação e hoje encontra-se à venda.
Fonte: g1