O número de internações e mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) na Bahia disparou nos primeiros quatro meses do ano, o que sugere a demora na confirmação dos casos da Covid-19 e outros vírus relacionados a doenças respiratórias no estado.
Até o dia 28 de abril, haviam sido registrados 1.957 casos de SRAG na Bahia, um aumento de 388% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 401 casos, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Comparando o mesmo período dos anos de 2019 e 2020, o número de mortes por SRAG saltou de 31 para 241, o que representa um aumento de 677,4%.
Síndrome Respiratória Aguda Grave é uma doença respiratória grave que exige internação e é causada por um vírus, seja ele o novo coronavírus, o influenza ou outro.
Para o pesquisador de saúde pública no programa de computação científica da Fiocruz, Marcelo Gomes, dois fatores contribuem para que exista uma demora na identificação das doenças respiratórias.
“Tem dois fatores importantes, um, e que é o principal deles, é a demora da liberação dos resultados. Então não é exatamente uma subnotificação, mas uma demora na notificação, na confirmação do caso, que é a questão do exame laboratorial”, disse Marcelo Gomes.
“No momento em que [o paciente] bater na rede hospitalar com esses sintomas já entra na conta, agora a identificação de se era Covid, se era Influenza ou outro vírus só vai vir mais tarde e aí a gente vai ter um número muito grande de casos aguardando exames laboratoriais”, concluiu.
De acordo com Marcelo Gomes, existe a possibilidade de haver casos falsos negativos.
“Ainda tem aqueles casos que dão como não detectado e que podem sim ser causado por um dos vírus que foi testado. Tem uma série de fatores que podem afetar a qualidade do teste como quanto tempo se passou dos primeiros sintomas que o paciente teve até ter sido feita a coleta de material para exame, como é que foi feita essa coleta, como ela foi armazenada, como ela foi enviada para o Lacen, e finalmente o próprio teste, que não é 100%, ele possui uma margem de erro”.
O pesquisador também contou que pessoas que morreram por causa de doenças respiratórias sem serem hospitalizadas e não entram na conta.
“Precisa ser hospitalizada ou nos casos que não há hospitalização, como é que poderiam entrar? Caso a pessoa tenha vindo a óbito, a pessoa faleceu e não tinha sido hospitalizada, mas a investigação desse óbito identificou que o indivíduo tinha esse sintoma e não havia nenhuma outra causa clara para morte que não esses sintomas. Agora, se não precisou hospitalizar e não veio a óbito, aí não entra. Então, casos leves, por exemplo, de doença respiratória, e assintomáticos não vão entrar nessa conta”, disse.
Dos 1.957 casos de SRAG no estado, 201 foram confirmados para coronavírus. Além destes, 189 foram confirmados para Influenza, 75 para outros vírus respiratórios, quatro para outros agentes etiológicos e 820 tiveram amostras negativas. Outros 557 (28,5%) casos ainda estão em investigação.
Dos 241 pacientes que morreram, 61 foram diagnosticados com a Covid-19. Outros 13 foram ocasionados pelo vírus Influenza, sete por outros vírus respiratórios e três por outro agente etiológico. Para 139 casos que evoluíram para óbitos, não houve identificação de vírus respiratório em 131 casos (94,2%) e oito casos não realizaram coleta (5,8%).
A cidade de Salvador concentra o maior número de pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave, com 148, seguida por Camaçari (7), Lauro de Freitas (7), Ilhéus (6), e Eunápolis (4).
Em relação ao gênero, a doença ocorre com mais incidência entre as mulheres: 57,2%, contra 42,8% de homens.
Outro ponto que chama atenção é o aumento no número de casos de Influenza, que passou de 62 para 189, o que representa um crescimento de 204,8%, com destaque para o subtipo H1N1.
No mesmo período, o número de óbitos pulou de 5 para 9.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também mostrou um aumento expressivo nas internações por SRAG em todo o país.
Até 4 de abril deste ano, o Brasil registrou 33,5 mil internações por pela doença, número muito acima da média desde 2010, de 3,9 mil casos. Mesmo em 2016, quando houve um surto de H1N1, foram registrados 10,4 mil casos no mesmo período do ano.
Já em relação às mortes no país, são exatas 5.580 mortes por SRAG registradas até o dia 25 de abril deste ano, quando o Brasil contabilizava 4.016 mortes por Covid-19. A média entre os anos de 2010 e 2019 é de 2.019 mortes por SRAG. (G1)