Na Venezuela em crise, cada vez mais mães são forçadas a abandonar seus bebês

O abandono ou a entrega de bebês são frequentes na Venezuela Foto: Guillermo D. Olmo / BBC News Brasil

O impactante aviso, ilustrado com um bebê sendo jogado em um lixo, foi colocado em mais de 300 pontos de Caracas pelo artista venezuelano Eric Mejicano.

Um recém-nascido havia sido abandonado no lixo perto de sua casa, e Mejicano tentou chamar atenção sobre um problema crescente no país.

“Queria que as pessoas se dessem conta de que algo que nunca deveria ser normal está virando o novo normal.”

Na Venezuela, que vive uma de suas piores crises econômicas da história recente, trabalhadores de serviços de saúde e de proteção à infância dizem que os abandonos e entregas irregulares de bebês são cada vez mais habituais.

Nelson Villasmil, membro do Conselho de Proteção da Criança e Adolescente do Município Sucre, disse à BBC que nos últimos tempos viu um aumento nos casos de bebês nascidos de mães adolescentes ou em famílias de poucos recursos que são entregues a outras pessoas à margem dos procedimentos legais para a acolhida e adoção.

Os funcionários detectaram que às vezes chegam famílias que querem inscrever crianças que foram "presenteadas"
Os funcionários detectaram que às vezes chegam famílias que querem inscrever crianças que foram “presenteadas”Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Villasmil trabalha em uma região de Caracas afetada pela delinquência e marginalidade. “A crise está favorecendo os atalhos.”

Ele conta que sempre houve casos de mulheres que chegavam pedindo para inscrever um filho que lhes foi “presenteado”, e que isso agora acontece com mais frequência.

Como acontece em outras áreas, o governo da Venezuela está há anos sem divulgar dados oficiais. Logo, a contagem do fenômeno depende dos cálculos dos especialistas e das ONGs.

Leydenth Casanova, vice-presidente da fundação beneficente Colibri, disse em 2018 que sua organização havia detectado um aumento de 70% nos casos de bebês abandonados na rua ou na entrada de dependências públicas.

Nem o Ministério das Comunicações, nem o Instituto Autônomo Conselho Nacional de Direitos das Crianças e Adolescentes, o órgão encarregado por supervisionar os direitos da infância, responderam ao pedido da BBC por informações. (Terra)

google news