As partes do corpo da brasileira Nancy Howery Moreira, morta e esquartejada aos 44 anos na Flórida, Estados Unidos, serão cremadas e trazidas para o Brasil. As cinzas serão lançadas na Baía de Todos-os-Santos, em Salvador – onde parte da família da vítima mora.
Nancy nasceu na cidade americana de Boston, mas foi trazida à capital baiana, onde o pai dela morava, ainda criança. Ela viveu na Bahia desde a década de 1980 até os anos 2000. Por causa disso, a mulher tinha dupla nacionalidade. Até ser assassinada, ela vivia nos Estados Unidos havia 23 anos.
Divorciada e mãe de dois filhos – um menino de 9 anos e uma menina de 12 –, ela se relacionava com um homem que é o suspeito do crime, identificado como Daniel Stearns. Além de matar e esquartejar a vítima, ele também queimou algumas partes do corpo dela.
Parte dos restos mortais de Nancy foram encontrados na última quinta-feira (9), mesmo dia em que o namorado dela foi preso. A vítima estava desaparecida desde o dia 15 de fevereiro. Nesta terça-feira (14), a reportagem conversou com exclusividade com a madrasta de Nancy.
Muito abalada com a situação, Aliana de Souza contou que ficou sabendo do desaparecimento de Nancy por meio das redes sociais.
“Nós tivemos conhecimento pela rede social, pelo grupo ‘Brasileiras e suas experiências pelo mundo’, que ela era administradora. A foto dela apareceu nesse grupo como desaparecida, e isso deixou todo mundo apavorado. Eu comecei entrar em contato com as pessoas deste grupo, com as amigas e com a mãe dela, que é americana e mora nos Estados Unidos, e com o ex-marido dela”.
Ex-marido ajudou a encontrar vítima
O ex-marido de Nancy foi quem ajudou a família a buscar informações sobre o paradeiro da vítima. Aliana contou como recebeu a notícia sobre a morte da enteada.
“Eu estava dirigindo quando o ex-marido dela me ligou. Parei no posto de gasolina na [avenida] Garibaldi, e ele me contou que Nancy foi assassinada pelo namorado, e o corpo foi todo destroçado e queimado”.
“Me bateu um desespero, pelo nível de barbaridade, de violência. O assassino nos privou de um sepultamento do corpo dela, de fazer uma cerimônia com a família inteira”.
O lançamento das cinzas na Baía de Todos-os-Santos cumpre um pedido feito pela própria Nancy, ainda em vida.
“Desde a notícia da morte eu estou nesse estado, tentando me refazer, com o apoio da minha família, o apoio dos meus amigos. O corpo dela será cremado e as cinzas virão [ao Brasil] para serem lançadas nas águas da Baía de Todos-os-Santos, como ela pediu à família, pediu ao ex-marido. Ele vai trazer os filhos e as cinzas dela para serem lançadas aqui”.
Relação entre madrasta e enteada
Aliana e Nancy tinham uma relação muito próxima, mesmo após à morte do pai da vítima, que morreu em 2015.
“Ela não teve a oportunidade de vir ao sepultamento do meu marido. Ela perdeu voo em Miami, se desesperou e voltou para casa. Ela não ficou bem. Ele morreu em setembro e eu comprei uma passagem novembro, para ficar com ela. Ficamos juntas, choramos, nos abraçamos. Ela enfrentou o luto juntamente comigo. Nós resgatamos um pouco desse acolhimento, que era necessário”.
Em 2020, as duas iriam se reencontrar, mas a pandemia interrompeu os planos da viagem. Com a passagem comprada há três anos, Aliana havia conseguido remarcar a viagem para abril deste ano, quando iria para o aniversário das crianças de Nancy.
“Eu precisei entrar na Justiça, para que a companhia remarcasse minha passagem”.
Aliana disse que chegou a ser apresentada ao namorado de Nancy, mas sabia pouco sobre o relacionamento e acredita que a enteada estava em uma situação vulnerável.
“Sabemos muito pouco sobre esse relacionamento. Na minha ida para lá, minha pretensão era de ver a realidade dela. A pandemia afastou todo mundo, a gente ficou se falando por rede social. Ela me mandou fotografias dele, me apresentou como namorado, mas nós não tivemos nenhuma informação mais concreta sobre o tipo de relacionamento, se tinha violência, se tinha abuso”.
“Eu não conheço de perto essa realidade. Não sei se ela sabia que estava no ambiente, talvez, de vulnerabilidade. E a gente sabe que, quando se está nesse ambiente de violência, a mulher fica vulnerável”.
O suspeito
Daniel Stearns, que foi preso no mesmo dia em que partes do corpo da vítima foram encontradas, é investigado por homicídio com arma de fogo, mutilação de corpo e adulteração de provas. Ainda não se sabe as circunstâncias do crime.
De acordo com a declaração da polícia americana, o suspeito escondeu os restos mortais de Nancy em uma área arborizada por vários dias. Depois ele voltou ao local do crime, quando queimou o corpo da vítima em uma tentativa de destruir provas.
Após queimar o corpo, ele teria espalhado os restos mortais em vários locais para dificultar a ação da polícia. Daniel Stearns foi preso após mais de mais de 50 horas de vigilância da polícia local. (g1)