No mais recente episódio de seu podcast, o pastor John Piper abordou uma das questões mais debatidas entre os cristãos: um cristão pode fazer tatuagem? Em resposta, Piper se debruçou sobre o texto de Levítico 19.28, frequentemente utilizado por tradicionalistas para condenar a prática de tatuar o corpo, oferecendo uma análise teológica sobre o tema.
O que a Bíblia diz sobre tatuagens?
O versículo de Levítico 19.28 afirma: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós. Eu sou o Senhor.” Este texto, de acordo com Piper, é o principal fundamento bíblico usado para argumentar contra tatuagens. No entanto, o pastor faz duas observações cruciais para interpretar essa passagem:
- A Lei Mosaica não se aplica aos cristãos: Piper começa explicando que, embora o versículo esteja na Lei de Moisés, essa legislação não se aplica mais aos cristãos. Citando Romanos 7.4, o pastor destaca que, como crentes em Cristo, os cristãos não estão mais sob uma lista de regras cerimoniais que os justificam diante de Deus. Em vez disso, eles estão em um relacionamento com Cristo, e suas ações devem ser fruto desse relacionamento.
- Tatuagens como sinal de culto pagão: Piper argumenta que a proibição de tatuagens no Antigo Testamento tinha um propósito cerimonial e estava relacionada ao culto aos falsos deuses dos povos pagãos. A prática de marcar o corpo, como a de cortar-se pelos mortos, era um sinal de devoção religiosa a ídolos. Portanto, o que Deus proibia não era o ato de marcar a pele em si, mas o envolvimento com práticas espirituais erradas, como a idolatria.
O que isso significa para os cristãos hoje?
Com base nesses dois pontos, Piper afirma que o ato de fazer tatuagens, em si, não é intrinsecamente pecaminoso. A prática tem um significado diferente nos dias atuais, em comparação com as culturas antigas ou até mesmo com algumas culturas contemporâneas. Para os cristãos, tatuagens podem ser vistas de forma neutra, dependendo do contexto e da motivação por trás delas.
Piper alerta que, assim como o uso de roupas, acessórios ou até mesmo brincos, a tatuagem não tem um valor moral intrínseco. O cristão deve avaliar suas motivações ao considerar fazer uma tatuagem, questionando: “Essa tatuagem reflete minha lealdade a Deus? Está expressando a minha relação com Cristo de forma verdadeira e respeitosa?”
Propósito e Moralidade: A Intenção é a Chave
Piper sugere que, em vez de buscar uma lista de regras rígidas, o cristão deve refletir sobre as intenções por trás de suas escolhas. Ele compara as tatuagens a outros adornos como roupas e joias: o problema não está no objeto em si, mas no uso que se faz dele.
“Em Romanos 7, aprendemos que devemos perguntar: Isso dá fruto para Deus?” explica Piper. “Não se trata de uma lista do que pode ou não pode, mas de perguntar se o que estamos fazendo é uma expressão genuína de nossa lealdade a Deus e do fruto de nossa nova vida em Cristo.”
A Visão Pessoal de John Piper
Embora o pastor tenha dado uma explicação teológica detalhada, ele também compartilha sua visão pessoal sobre o tema. Piper confessa que, embora não considere a tatuagem em si um pecado, ele tem uma preocupação com os motivos que levam uma pessoa a fazê-la. Ele alerta que, devido ao risco de fazer algo com intenções erradas, sua orientação para os cristãos seria, em geral, desencorajar a prática.
“Minha recomendação seria tentar persuadir alguém a não fazer uma tatuagem”, diz Piper. “Mas se alguém decidir fazer, eu o encorajaria a se perguntar: ‘Essa tatuagem é uma expressão de fé genuína? Ela reflete a minha paz com Deus e minha satisfação na bondade divina?’”
Ele conclui que, ao refletir profundamente sobre as motivações e os efeitos espirituais da tatuagem, um cristão pode tomar uma decisão responsável, ciente de que a verdadeira questão não é o ato em si, mas as intenções do coração.
Para John Piper, o cristão não está automaticamente proibido de fazer uma tatuagem. A chave, entretanto, está nas intenções por trás da escolha. O cristão deve avaliar se o ato de tatuar o corpo é uma expressão de fé genuína e se está alinhado com o desejo de glorificar a Deus em todas as áreas da vida. Assim, enquanto a prática de tatuar-se não é considerada pecaminosa por si mesma, a atitude de quem a faz deve sempre refletir o caráter de Cristo e a lealdade a Deus.
Gospel Mais / Will R. Filho