Policiais invadem Embaixada do México em Quito e prendem ex-vice-presidente do Equador

Governo mexicano havia concedido asilo político a Jorge Glas, condenado à prisão por corrupção. Episódio expõe crise diplomática entre os dois países e acontece após Equador declarar embaixadora mexicana ‘persona non grata’.

Foto: REUTERS/Henry Romero e REUTERS/Karen Toro

A Polícia do Equador invadiu a Embaixada do México em Quito e prendeu o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, na sexta-feira (5). Glas foi condenado a seis anos de prisão por corrupção em um caso que envolve a Odebrecht e tinha recebido asilo político do governo mexicano. A invasão da embaixada levou o México a suspender as relações diplomáticas com o Equador. 

Equador e México vivem uma crise diplomática, que escalou nos últimos dias. Na quinta-feira (4), a embaixadora do México no país foi declarada “persona non grata” após o governo afirmar que o presidente mexicano fez comentários “infelizes” sobre as eleições equatorianas de 2023.

Já nesta sexta, o governo do México anunciou que tinha concedido asilo político a Glas. O ex-vice-presidente estava na embaixada mexicana desde dezembro de 2023. Ele alega ser alvo de perseguições da Procuradoria-Geral do Equador.

Diante do anúncio, o Ministério das Relações Exteriores do Equador afirmou que o México estava violando acordos de asilo político. Além disso, autoridades equatorianas pediram permissão ao México para entrar na embaixada em Quito e prender Glas.

Durante a noite, um grupo de policiais equatorianos foi até a Embaixada do México em Quito com veículos escuros. Segundo a Associated Pres, os agentes arrombaram as portas externas da sede mexicana e entraram no local.

A principal avenida de acesso à Embaixada também foi fechada pela polícia.

O encarregado da Embaixada do México no Equador, Roberto Canseco, afirmou que houve um “atropelo ao direito internacional”. Ele também chamou o ocorrido de “inaceitável” e “barbárie”.

“Como criminosos, invadiram a Embaixada do México no Equador. Isso não é possível. Não pode ser. É uma loucura”, disse Canesco.

De acordo com a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, de 1961, os locais de missões de um país dentro de um outro — como embaixadas e consulados — são considerados invioláveis. Equador e México aderiram à regra na década de 1960.

Segundo o tratado, a entrada de agentes de estado dentro desses locais depende da autorização do chefe da missão estrangeira. Ou seja, no caso do Equador, a polícia deveria solicitar permissão ao embaixador mexicano para ingressar na Embaixada do México.

Por meio de um comunicado oficial, o governo do Equador afirmou que “não vai permitir que nenhum criminoso fique impune”, referindo-se a Jorge Glas. A nota diz ainda que o Equador respeita o povo mexicano e que embaixadas servem para estreitar relações entre os dois países.


México suspende relações diplomáticas

A invasão da Embaixada do México em Quito levou o governo mexicano a suspender as relações diplomáticas com Equador. A medida foi anunciada pelo presidente López Obrador na madrugada de sábado (6).

Em uma rede social, o presidente mexicano disse ter sido informado da invasão pela Secretária de Relações Exteriores. Ele afirmou ainda que o caso é uma violação do direito internacional e da soberania do México.

“Instruí o nosso chanceler a emitir uma declaração sobre este ato autoritário, proceder legalmente e declarar imediatamente a suspensão das relações diplomáticas com o governo do Equador”, escreveu López Obrador.

Crise

A crise entre México e Equador começou a escalar após declarações do presidente López Obrador sobre as eleições equatorianas de 2023.

Na quarta-feira (3), Obrador comparou o assassinato de Fernando Villavicencio, que era candidato à Presidência do Equador, à violência na atual temporada eleitoral do México.

Villavicencio foi morto em agosto de 2023, após um comício em Quito. Já no caso do México, vários candidatos locais foram assassinados nas últimas semanas. As eleições mexicanas estão marcadas para junho.

Obrador também afirmou que a candidata de esquerda Luisa González, derrotada nas eleições do Equador, foi injustamente associada ao assassinato de Villavicencio. O presidente mexicano ainda culpou a mídia do Equador, chamando-a de corrupta.

López Obrador fez a comparação com o objetivo de atacar os veículos de mídia mexicanos, alvos de críticas frequentes por parte dele.

O governo do Equador considerou as falas de Obrador “infelizes” e, como resposta, declarou a embaixadora mexicana “persona non grata”.

O termo “persona non grata” é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo.

Fonte: G1

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