Nem sempre foi assim.
Camões e outros autores, no século 16, ainda não empregavam a palavra para expressar gratidão – ela só valia mesmo para se referir a uma ação que alguém realiza contra sua vontade, como na frase “fui obrigado a ficar em casa pelo coronavírus”. Na época, ainda usávamos os equivalentes lusófonos de gracias e grazie, como “agradecido” e “grato” (além da expressão “bem haja”).
O “obrigado” só ganhou seu novo sentido no século 18 na língua falada e no século 19 na escrita. Entrou no português como uma forma reduzida da expressão “obrigado a Vossa Mercê” – um jeito arcaico de se obrigar a retribuir um dia, como no atual “fico te devendo essa”. Moral da história: em português, ajudar não sai de graça (que é o sentido original de gracias: algo que se dá sem esperar retorno).
Essa é apenas uma das sutilezas do português. O idioma é também o único a designar os dias da semana de modo singular, usando segunda, terça, quarta etc. Em outras culturas, prevaleceu a homenagem a deuses e astros, por exemplo. No espanhol, lunes (segunda) seria para a Lua, martes (terça) para Marte e miércoles (quarta) para Mercúrio.
De qualquer forma, o mais importante é ser educado e sempre agradecer. Muito obrigado por terem lido esse Oráculo.
Fonte: Deonísio da Silva, professor emérito e ex-diretor do depto. de Letras da UFSCAR
Via Superinteressante.