Por que vacina contra o coronavírus é dada no braço e não em outras partes do corpo?

Vacinação entre enfermeiras no ProntoBaby da Tijuca, Rio de Janeiro. Pesquisa mostra que, embora mulheres sejam 70% dos profissionais na linha de frente, elas não têm espaço na tomada de decisões sobre o combate à pandemia Foto: Brenno Carvalho/Agência O GLOBO

Você já se perguntou por que as vacinas contra o coronavírus, como muitas outras, são injetadas no braço e não em outras partes do corpo?

O ritual se repete na maioria dos países: longas filas de pessoas aguardando sua vez, levantando as mangas e recebendo a vacina contra o coronavírus no braço.

Mas você já se perguntou por que as vacinas contra o coronavírus são injetadas na área do músculo conhecida como deltóide?

Por que não nas veias, como alguns antibióticos que buscam um efeito rápido, ou nas nádegas, como a maioria das injeções?

A verdade é que nem todas as vacinas são injetadas nessa região do braço: a vacina da poliomielite, por exemplo, geralmente é administrada pela boca, enquanto em alguns lugares a vacina contra a raiva é aplicada na barriga.

Recentemente, países como os Estados Unidos também começaram a testar a vacinação contra a gripe por via nasal, e outros, como Cuba, prometeram uma vacina semelhante contra o coronavírus, o que é um alívio para muitos que temem as agulhas.

Porém, para uma grande variedade de vacinas, como as atualmente aprovadas contra Covid-19, a recomendação é administrá-la “por via intramuscular” e para isso, ao longo dos anos, o deltóide tornou-se o local ideal.

A razão para isso é uma combinação de razões fisiológicas e práticas, explica René Nájera, epidemiologista e editor do site de educação para vacinas History of Vaccines, do Philadelphia College of Physicians, nos Estados Unidos, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

O benefício dos músculos

Segundo Nájera, para vacinas como as da Covid-19, busca-se a presença abundante de tecidos, ou músculos, de modo a permitir a posterior ativação de anticorpos contra a doença.

“No músculo, há muita vascularização, muito sangue, e isso significa que há uma presença maior de células do sistema imunológico”, ressalta.

“Essas células são as que podem pegar a vacina, seja RNA mensageiro no caso das vacinas Moderna ou Pfizer ou DNA por adenovírus, no caso da Johnson & Johnson, e levá-las até a célula onde for necessário”, explica ele.

É possível usar outras áreas do corpo?

Segundo Nájera, outras partes do corpo, como as nádegas ou as coxas, também podem ser eficazes, por serem áreas ricas em músculos.

“Em crianças, por exemplo, as vacinas intramusculares são geralmente aplicadas nas pernas, porque é onde geralmente elas têm mais tecido”, diz ele.

“Em adultos, as nádegas também podem ser uma opção, mas não é conveniente porque às vezes têm tecido adiposo, o que torna a vacina menos eficaz”, diz.

Segundo o estudo, embora as nádegas fossem tradicionalmente consideradas um local apropriado para a vacinação, as camadas de gordura presentes em algumas pessoas não contêm as células apropriadas necessárias para iniciar a resposta imunológica.

“O antígeno também pode demorar mais para chegar à circulação após ser depositado na gordura, levando a um atraso no processamento da resposta imunológica”, diz.

Nájera destaca que, em termos logísticos, o antebraço também é mais prático, pois se perderia mais tempo se a pessoa tivesse que se despir para se vacinar.

Ele ressalta que quando é necessário vacinar o maior número possível de pessoas no menor tempo possível, como em uma campanha de vacinação, o simples levantamento da manga costuma ser mais eficaz e ainda mais prático para muitas culturas, onde tirar a roupa é visto como tabu (G1).

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