Após uma leve estabilidade no primeiro semestre, os preços das carnes no Brasil voltaram a subir com força no segundo semestre de 2024, especialmente no fim de ano, o que promete tornar o tradicional churrasco brasileiro ainda mais caro. De acordo com dados da consultoria Scanntech, os preços da carne bovina aumentaram 7,2% em setembro em comparação ao mesmo mês de 2023. Esse aumento resultou em uma queda de 1,8% no consumo da proteína, a primeira retração registrada no ano.
O levantamento, que analisou preços em cerca de 45 mil pontos de venda no país, revelou que o preço médio nacional da carne vermelha subiu para R$ 28,65 por kg em setembro, comparado a R$ 26,74 no ano passado. A alta nos preços também afetou outros tipos de carne, como o frango (11,7% de aumento) e a carne suína (17% mais cara).
Mudança de Hábitos: Ovos e Peixes substituem a carne
Diante do aumento dos preços, os brasileiros passaram a buscar alternativas mais acessíveis. O consumo de ovos e peixes registrou um aumento expressivo de 27,1% e 6,2%, respectivamente, em setembro em comparação ao ano passado. O ovo, por exemplo, teve uma redução de preço de 10,1%, enquanto o peixe ficou 0,3% mais barato. Essa mudança no consumo reflete a tentativa dos brasileiros de ajustar seus hábitos alimentares à nova realidade econômica.
São Paulo e outras regiões com alta nos preços
A região metropolitana de São Paulo foi a que mais repassou a alta no preço da carne de boi ao consumidor, com um aumento de 9,3% em setembro. Como consequência, o consumo na região caiu 7,8%. Outras áreas também sentiram o impacto, com altas registradas no Sul (7,8%), Centro-Oeste (6,5%) e Nordeste (5,1%). A única região a apresentar uma pequena queda foi o Norte, com uma redução de 0,4%.
Fatores que explicam a alta dos preços
Especialistas apontam que vários fatores contribuíram para a escalada dos preços da carne. A demanda aquecida tanto no mercado interno quanto externo é uma das principais razões. No Brasil, a economia tem mostrado sinais de recuperação, com a taxa de desemprego em queda e aumento do poder de compra das famílias, o que impulsionou o consumo de produtos como carnes.
No mercado internacional, o Brasil tem se beneficiado da alta demanda por carne bovina, especialmente de países como China e outros mercados que enfrentam dificuldades de produção, como os Estados Unidos e a Austrália. Além disso, a valorização do dólar tem tornado as exportações brasileiras ainda mais atrativas, elevando a demanda externa pela carne nacional. Em setembro, as exportações de carne bovina alcançaram US$ 1,25 bilhão, um aumento de 29,2% em relação ao ano anterior.
Câmbio e mudanças climáticas
A cotação do dólar também tem impacto direto sobre os preços internos. Com o câmbio favorável, as exportações se tornaram mais lucrativas, o que resultou em uma maior pressão sobre o mercado interno. Além disso, a seca que afetou o Brasil em 2024 também teve influência na oferta de gado, já que a escassez de pastagem e água levou a uma redução na produção.
Previsão de alta continuada
Os analistas projetam que os preços da carne continuarão em alta, especialmente devido à reversão do ciclo pecuário, com menos bois disponíveis para abate. A arroba do boi gordo, que em junho de 2024 estava em R$ 220,70, já supera os R$ 320,55 em novembro, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Fernando Iglesias, coordenador de pecuária da consultoria Safras & Mercado, alerta que essa migração para outras proteínas, como ovos e peixe, pode impactar a dinâmica do mercado de carne vermelha, embora não haja uma solução imediata para os preços elevados. “Há limites. Vai chegar um ponto em que o mercado não conseguirá mais repassar a alta de preços ao consumidor final”, afirma Iglesias.
Conclusão: impactos no orçamento familiar
Para os consumidores, a alta no preço da carne significa um impacto direto no orçamento familiar, forçando muitos a repensarem seus hábitos de consumo. Embora a situação não tenha uma causa única, a combinação entre a demanda externa aquecida, o câmbio favorável para exportações e a redução na oferta de gado deve manter os preços elevados pelo menos até o início de 2025.