A rede de varejo de moda Marisa divulgou em fato relevante, na noite desta terça-feira (7), a renúncia do presidente-executivo Adalberto Pereira Santos e do membro independente do conselho de administração Marcelo Adriano Casarin.
Santos, que estava na varejista desde 2014, havia assumido o comando em março do ano passado. O vice-presidente comercial da Marisa, Alberto Kohn de Penhas, vai assumir a presidência executiva de maneira interina, enquanto a companhia seleciona um novo presidente. Um novo membro para o conselho, no lugar de Casarin, também será nomeado.
No comunicado, a Marisa afirmou ter contratado a BR Partners para assessorá-la no processo de renegociação de seu endividamento financeiro e a Galeazzi Associados para “apoiá-la no aperfeiçoamento da estrutura de custos”.
A Marisa somava, ao final de setembro, uma dívida líquida ajustada de R$ 566,1 milhões, de acordo com o balanço do terceiro trimestre da varejista. Já o patrimônio líquido da empresa atingia R$ 974 milhões.
Na teleconferência de resultados do terceiro trimestre, em 11 de novembro do ano passado, Santos havia reclamado do custo do funding (captação de recursos de terceiros) e do aumento da inadimplência como fatores para o maior endividamento no período (alta de 7,9% na comparação anual). A perda líquida de recuperações no cartão da loja disparou 281% entre um trimestre e outro, chegando a R$ 48,3 milhões.
Ao mesmo tempo, a taxa Selic em patamares elevados (hoje em 13,75%, há um ano em dois dígitos) torna mais difícil o carregamento das dívidas por parte das empresas -especialmente aquelas que financiam os seus consumidores.
As regras mais duras para concessão de crédito devem se tornar uma tônica a partir de agora para o varejo, como um efeito da Americanas. Os bancos, principais credores da companhia, que entrou em recuperação judicial no último dia 19 com dívidas de R$ 43 bilhões, já apresentam aumento das provisões no quarto trimestre de 2022 por conta da empresa. Foi assim com o Santander na semana passada e com o Itaú nesta quarta-feira (8).
Efeito Shein e investigação da CVM
Além desses fatores, a Marisa enfrentou o efeito Shein: a varejista online asiática, que abriu duas lojas pop-up no Brasil no ano passado (no Rio e em São Paulo), e é responsável por liderar os downloads de aplicativos de moda no país, se tornou uma forte concorrente para as vendas online da brasileira.
Na teleconferência do terceiro trimestre, Santos chegou a comentar que a Marisa estava revendo a estratégia para o canal digital por conta da Shein.
No terceiro trimestre, a companhia teve receita líquida de R$ 632,4 milhões (somando as operações de varejo e a do Mbank, a plataforma de serviços financeiros), e prejuízo de R$ 97,5 milhões. A divulgação dos resultados do quarto trimestre só estava prevista para 15 de março.
A varejista nasceu como Marisa Bolsas, fundada em 1948, em São Paulo, por Bernardo Goldfarb. Por muitos anos, a companhia foi liderada pelo seu filho, Marcio Goldfarb, que se tornou réu em um processo da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), segundo o jornal O Globo.
Membro do conselho da Marisa, Marcio Goldfarb teria comprado ações da empresa menos de 15 dias antes da divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2022, realizada em 11 de maio do ano passado. A prática é proibida no mercado de capitais. Em comunicado divulgado no último dia 3, a varejista afirma ter prestado informações à autarquia sobre “negociações com ações de emissão da companhia realizadas pelo Sr. Marcio Goldfarb”.
A Marisa soma mais de 340 lojas em todas as regiões do país. Com o slogan “De Mulher para Mulher”, criado nos anos 80, a varejista é voltada, em especial, para o público das classes B e C. (BNews)