Produção de bonecas negras no país caiu entre 2016 e 2020, aponta pesquisa

Uma pesquisa realizada este ano pela Ong Avante – Educação e Mobilização Social apontou que o total de bonecos negros fabricados pelas indústrias diminuiu entre 2016 e 2020. De acordo com a pesquisa “Cadê nossa boneca?”, em 2016, os modelos de bonecos negros no mercado eram apenas 7% dos fabricados pela indústria. Em 2020, esse número cai para 6%, mesmo diante de políticas afirmativas e uma tomada de força expressiva nas discussões raciais e busca por representatividade negra.

Ainda conforme a pesquisa, entre as empresas fabricantes analisadas, apenas oito possuíam bonecas negras em seus inventários. A psicóloga e publicitária Mylenie Alves é uma das envolvidas no levantamento e afirmou que a demanda surgiu no contexto da maternidade de crianças negras. Ela contou que naquele momento ela percebeu a ausência de bonecas negras na própria infância.

“Era uma campanha de sensibilização, mas achamos importante entender esse processo em números. De 201 para cá, nada mudou. A nossa intenção era chamar atenção para a importância da boneca negra como parte do universo da brincadeira para crianças, sejam elas negras ou brancas, entendendo que o processo de brincar é fundamental porque ele é quase um simulacro do que a criança vai aprender ou conviver. A gente entende que brincar é não só uma atividade lúdica, mas também educativa”, afirmou Mylenie, confrontando a discrepância na produção de bonecas negras (6%, em 2020) diante de cerca de 56% da população brasileira que se autodeclara negra.

“De 2016 para cá, muito se evoluiu em questões de representatividade. O negro se colocou cada vez mais como consumidor ativo e a questão é por que o mercado permanece imutável”, completou.

“Os bonecos são representações do humano. Existe um modelo e um padrão de beleza que é construído e vendido desde a infância para todo mundo, então obviamente para a criança preta, desde pequena, quando ela entra em uma loja e não se enxerga na vitrine, com certeza ela está sendo violentada”, afirmou a psicóloga Ana Oliva Marcílio, que também participou da pesquisa. Ela pontuou ainda que a cor de pele e o cabelo são dois marcadores muito fortes do racismo brasileiro e das bonecas.

Brinquedos afirmativos

Buscando reparar a falta de inclusão, diversidade e representatividade negra na infância, Geórgia Nunes criou o projeto “Amora Brinquedos Afirmativos”, que produz e vende bonecas negras e outros brinquedos afirmativos. Além disso, para cada venda, o projeto doa um brinquedo para escolas públicas.

A empreendedora declarou que a queda na produção de bonecas negras vem na contramão da tomada de consciência das pessoas e até mesmo da demanda pelos itens. Segundo ela, o que caiu foi a oferta e isso é reflexo do racismo estrutural.

“Hoje a gente não vende apenas as bonecas negras, mas também outros brinquedos, como quebra-cabeça, giz de tons de pele – para desconstruir a educação racista que a gente recebeu na infância de que o lápis ‘cor de pele’ era rosa. Então é uma diversidade em brinquedos afirmativos”, disse Geórgia.

Ela revelou que sentiu que a demanda cresceu, sobretudo pelas bolhas terem sido, aparentemente furadas, com a ampliação da discussão racial no país. “Mesmo com a pandemia, eu tenho vendido esse ano a mesma quantidade que vendi no ano passado, então isso demonstra que a demanda tem aumentado”, frisou. (ATarde)

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