Na manhã desta segunda-feira, uma centena de pessoas se reuniu em frente à residência do embaixador dos Estados Unidos, na Cidade do Panamá, para protestar contra as recentes declarações de Donald Trump sobre o controle do Canal do Panamá. Convocada por movimentos de esquerda, a manifestação foi marcada pela queima de bandeiras dos Estados Unidos, um gesto simbólico de rejeição à proposta do presidente norte-americano de tentar retomar o controle da via interoceânica, que desde 1999 é administrada pelo Panamá. Durante seu discurso de posse, Trump reafirmou uma promessa que já havia feito em outras ocasiões, afirmando que o Canal, embora sob controle do Panamá, deveria ser “recuperado”. “A China está operando o Canal do Panamá, e não o demos à China. Demos ao Panamá e vamos recuperá-lo”, disse ele, acentuando seu discurso de intervenção e reafirmando a ideia de que os Estados Unidos deveriam assumir o controle de uma das rotas comerciais mais importantes do mundo.
O protesto, que reuniu pessoas de diversas partes da capital panamenha, foi uma resposta direta a essa ameaça. Alguns manifestantes, além de queimarem as bandeiras dos Estados Unidos, pisaram e cuspiram nelas, uma ação que deixou claro o descontentamento com a retórica de Trump. Muitos também carregavam bandeiras do Panamá e faixas com o slogan “O Canal do Panamá não está à venda”, reafirmando a posição do país de que o controle da hidrovia deve permanecer sob sua soberania. Em alguns cartazes, a imagem de Trump foi associada a uma suástica, um símbolo dos nazistas, como uma forma de criticar sua postura autoritária e imperialista, sugerindo que sua abordagem em relação ao Canal do Panamá seria uma forma de dominação.
O Canal do Panamá, que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, sempre foi um símbolo importante da soberania do país. O controle da via interoceânica foi transferido para o Panamá em 1999, após décadas de domínio dos Estados Unidos, que haviam construído o canal e o administraram por grande parte do século XX. A transferência de poder foi resultado dos Tratados Torrijos-Carter, que garantiram a independência do país sobre esse importante ativo geopolítico e econômico. Desde então, o Panamá tem gerido o canal de forma soberana, e qualquer sugestão de retomada do controle por uma potência externa é vista com grande resistência pela população panamenha.
O discurso de Trump, portanto, não foi apenas uma declaração política, mas uma ameaça direta à integridade da soberania do Panamá. Ao mencionar a China, Trump parecia sugerir que o envolvimento desse país no Canal representava uma “perda” para os Estados Unidos e uma oportunidade para Washington retomar o controle, ignorando o fato de que o Panamá é um país soberano. Para muitos no país, isso não apenas desrespeita a independência panamenha, mas também revivendo tensões históricas que remontam à era do imperialismo norte-americano.
A manifestação em frente à residência do embaixador dos Estados Unidos reflete o sentimento de muitos panamenhos que não veem o Canal como uma simples via de transporte, mas como um símbolo de sua luta por autonomia e controle sobre seus próprios recursos. O protesto também evidenciou o forte sentimento anti-imperialista que ainda ressoa em várias partes da América Latina, especialmente quando se trata de países que, como o Panamá, foram submetidos a longos períodos de dominação externa.
Apesar do protesto, o governo panamenho ainda não se posicionou de forma definitiva em relação às declarações de Trump. No entanto, é certo que qualquer tentativa de mudança no status do Canal do Panamá, seja por meio de pressões diplomáticas ou mesmo de ações mais agressivas, encontrará uma forte resistência interna. O controle do Canal não é apenas uma questão de gestão de uma infraestrutura estratégica, mas também um pilar da identidade nacional do Panamá. A história de sua luta por soberania, culminando na transferência do controle do canal, continua sendo um marco para o país, que vê qualquer ameaça a esse status como uma violação de sua independência.
A pressão internacional também se soma a esse contexto. Embora o Canal seja, sem dúvida, uma via de grande importância econômica para potências como os Estados Unidos e a China, sua administração deve respeitar a soberania do Panamá, conforme reconhecido por acordos internacionais. Qualquer tentativa de mudar essa realidade através de discursos unilaterais ou de intervenções externas provavelmente geraria uma forte reação não só do povo panamenho, mas também da comunidade internacional, que tradicionalmente defende o direito dos países a controlarem seus próprios recursos e territórios.
O protesto no Panamá não foi apenas uma resposta às palavras de Trump, mas uma reafirmação da soberania nacional. A mensagem do povo panamenho foi clara: o Canal do Panamá não está à venda, e sua administração continuará nas mãos do país, livre de intervenções externas.