Respiradores: “pessoal do Consórcio Nordeste joga de um para outro”, diz Bolsonaro

Em live nas redes sociais, nesta quinta-feira (28/4), o presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou sobre a operação da Polícia Federal (PF) que investiga a contratação de uma empresa pelo Consórcio Nordeste para aquisição de 300 respiradores pulmonares.

“Agora, o pessoal do Consórcio Nordeste joga de um para outro. Chega um contrato em inglês, chinês, mandarim, hebráico, ele [Rui Costa] vai assinar. Depois deu M, ele diz que não manja a língua, tudo resolvido. Agora, o amigo dele, o Flávio Dino, culpa o Rui Costa. Ele não sabe de nada. Faz parte do Consórcio, não recebeu nada, está tudo bem… Polícia Federal fez operação, pouca matéria. Comigo é suspeita de corrupção. Não comprei a vacina Covaxin, não gastei um centavo, eu sou o corrupção. A imprensa bateu, deram espaço para os sete patetas na CPI no Senado”, disse Bolsonaro.

Entre os alvos na operação da PF estão o ex-secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, e Cleber Isaac, apontado como um dos intermediários entre o governo baiano com as empresas Hemp Care e Bio Geoenergy.

ENTENDA

Rui Costa justificou que um dos motivos que o fez liberar a contratação da Hempcare, microempresa de importação de produtos à base de maconha, deveu-se ao fato de ele não dominar a língua inglesa – nesta língua, hampe significa maconha e care, cuidado -.

O empreendimento deveria ter entregue 300 respiradores com custo de R$ 48 milhões ao Consórcio Nordeste, mas os equipamentos nunca foram entregues. A informação está contida em depoimento concecido por Rui à Polícia Federal num inquérito em que a corporação realiza junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A revista Veja obteve acesso ao documento e publicou matéria na noite da última terça-feira (26/4). “Não. Confesso que não e lá tinha representantes de produtos farmacêuticos. Estava essa denominação da empresa e não me chamou a atenção, no momento, pelo nome, até porque eu não tenho pleno domínio da língua inglesa. Portanto, eu não domino”, disse o petista, quando perguntado pela delegada federal Luciana Caires. 

Rui também foi questionado pela delegada se sabia da informação que o pagamento foi feito à empresa antes da assinatura do contrato. Ele teria se mostrado surpreso. “Não. Tô tendo conhecimento disso agora”, garantiu.

Caires, então, insistiu que o ex-secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, teria assegurado que o chefe do Executivo baiano acompanhava de perto a questão da contratação. “Nesse episódio, não. De pagamento ser feito antes de eu assinar o contrato? Em hipótese nenhuma”, afirmou o governador. 

O petista também negou que tenha relações com o empresário Cleber Isaac, um dos alvos na última terça-feira (26/4) de mandado de busca e apreensão na Operação Cianose, realizada pela PF e pela Controladoria-Geral da União (CGU). “Nenhuma relação, nem familiar, nem pessoal, nem profissional. Eu conheço ele como conheço milhares de outras pessoas”, garantiu.

Ele afirmou que conheceu Isaac pessoalmente, mas não no período das negociações pela contratação dos ventiladores pulmonares. “Este ano não. A última vez que ele teve, não lembro se no meu gabinete ou em Ondina, foi para me entregar um currículo, dizendo que estava querendo entrar no mercado de trabalho”, disse Rui.

A delegada, então, insistiu que há provas do encontro entre Isaac e Rui neste período. “Foi porque a gente analisou um aparelho de celular de uma das pessoas investigadas e nele consta o registro de que o senhor teria se encontrado, de que ele teria se encontrado com o senhor e teria conversado com o senhor sobre a aquisição de ventiladores mecânicos nacionais” , afirmou. Rui retrucou. “É mentira. Não é verdade”, rebateu.

Segundo relatório da Polícia Federal confeccionado em dezembro do ano passado, e ao qual o Aratu On obteve acesso, o CEO da Biogeoenergy, Paulo de Tarso, preso na Operação Ragnarok e envolvido na negociação pelos ventiladores mecânicos, indicou que Isaac teria “trânsito livre com núcleo político na negociação dos equipamentos e teria recebido uma comissão R$ 3 milhões, para que o negócio prosperasse”. 

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