Ross Perot, bilionário da indústria de computadores que sacudiu a política dos Estados Unidos ao competir duas vezes como candidato independente à Casa Branca, morreu nesta terça-feira (9) em sua casa no Texas. Ele tinha 89 anos e um passado de empresário, herói e filantropo. “Um verdadeiro patriota americano e um homem de visão, princípios e profunda compaixão raras, ele tocou as vidas de inúmeras pessoas por meio de seu apoio inabalável aos militares e veteranos e por meio de seus esforços de caridade”, assim foi definido pela família em um comunicado. O magnata, pioneiro da tecnologia, faleceu em Dallas depois de uma batalha de cinco meses contra a leucemia, segundo o jornal local Dallas Morning News. Perot teve um impactante desempenho como candidato independente na corrida presidencial de 1992 na qual o democrata Bill Clinton superou o então presidente republicano George H.W. Bush, capturando 19% dos votos e desviando o apoio conservador. Suas memoráveis advertências sobre o “som gigante do sugar” dos empregos dos Estados Unidos para o México, entre outros temas populistas que ressurgiriam mais à frente através do conservador Tea Party Movement e na campanha eleitoral de Donald Trump em 2016, para muitos, fizeram dele um visionário. Em 1992, a forte presença de Perot, impulsionada por seus pedidos pela redução dos déficits do governo, ajudou a selar a vitória de Clinton sobre Bush pai. Nenhum outro candidato independente, ou de um terceiro partido, havia obtido tantos votos desde 1912. A hábil veiculação de ‘infomerciais’ de meia hora o tornaram popular, assim como a participação ao lado de Clinton e Bush num histórico debate oficial entre os candidatos aumentou enormemente sua credibilidade perante os telespectadores.
– Um ícone –
Neste encontro, no qual foi o primeiro candidato independente a participar, ao ser questionado por Bush sobre sua experiência para administrar o país, a réplica sobre ter gasto US$ 63 milhões de seu próprio bolso na campanha, foi certeira. “Não tenho nenhuma experiência em administrar uma dívida de US$ 4 trilhões”, devolveu Perot. “Não tenho nenhuma experiência em um governo paralisado, onde ninguém assume a responsabilidade por nada, e todo o mundo culpa o outro… Mas tenho muita experiência em conseguir fazer as coisas”, afirmou. Quatro anos mais tarde, Perot voltou a concorrer, como líder do Partido da Reforma, mas não teve um desempenho tão bom (8%), e Bill Clinton foi reeleito. A primeira campanha de Perot causou uma briga entre ele e a família Bush. George W. Bush, um dos filhos do candidato republicano vencido nas urnas e presidente dos EUA em 2001, chegou a responsabilizá-lo, em parte, pela derrota do pai. Mas nesta terça, George W. Bush, o 43º presidente do país, elogiou Ross como um ícone americano. “O Texas e a América perderam um forte patriota”, afirmou Bush, em uma declaração. “Ross Perot representava o espírito empreendedor e o credo americano”, completou.
– Inspiração para Ken Follett –
Nascido em Texarkana, em 27 de junho de 1930, durante a Grande Depressão, Perot se descrevia como uma criança “que viveu o sonho americano” ao anunciar sua segunda candidatura, em 1996. Após se formar pela Academia Naval americana – “seu sonho de muito tempo” -, este ex-escoteiro deixou a Marinha para vender computadores IBM no Texas. Em 1962, fundou a própria empresa, a Electronic Data Systems, a qual dirigiu com mão de ferro, tornando-se um gigante da indústria de tecnologia dos Estados Unidos. Vendeu o negócio por US$ 2,5 bilhões para a General Motors, em 1984.
Mais tarde fundaria uma segunda empresa de dados, Perot Systems, vendida em 2009 para a Dell por US$ 3,9 bilhões. De pequena estatura, mas intimidador e seguro de si mesmo, Perot era conhecido por suas ambições presidenciais e por seus conhecimentos empresariais. Se transformou em herói para muitos em 1969, quando enviou dois aviões de carga cheios de comida para o sudeste asiático para ajudar os americanos que estavam detidos no Vietnã do Norte. Em 1979, em meio à Revolução Islâmica no Irã, “organizou e financiou” uma missão para socorrer dois funcionários da EDS feitos reféns em Teerã, numa ação relatada en no livro ‘best seller’ de Ken Follett, ” O voo da águia” (“On Wings of Eagles”). Perot doou dezenas de milhões de dólares a organizações beneficentes, inclusive para museus e hospitais. Sobre o pai, Ross Perot Jr, disse que ele se candidatou à presidência porque amava seu país. “Não foi para benefício pessoal”, afirmou, segundo o Dallas Morning News. “Era um homem de negócios frustrado com o que via e que queria ajudar a corrigir os problemas do país”, completou. (Isto é)